CRIMES VIRTUAIS

Estelionato digital explode no Brasil e cresce 500% em quatro anos

Crimes cometidos por meio eletrônico passaram de 7,6 mil em 2018 para 60,6 mil em 2021, segundo Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Lei polêmica na Califórnia (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Em meio à simplificação de transferências bancárias no Brasil, o número de crimes de estelionato digital disparou quase 500% entre 2018 e 2021 no país. Em números absolutos, passou de 7.591 para 60.590 no período. Em 2020, houve 34,713 casos, ante 14.677 no ano anterior.

Os dados são inéditos e estão no 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado na manhã desta terça-feira.

Já a quantidade de crimes de estelionato também cresceu. Passou de 426,8 mil casos em 2018 para 1,26 milhão no ano passado, atingindo uma taxa de 583 casos por 100 mil habitantes — e um aumento de 180% em quatro anos. Em 2020, 927.898 casos foram registrados, contra 523.820 em 2019.

Os pesquisadores apontam que o lançamento do Pix, ferramenta que permite repasses instantâneos de dinheiro, pode ter influência nesse contexto. Isso porque crimes de estelionato por meio eletrônico, nos quais a vítima é induzida a realizar transferências ou tem compras ou empréstimos financeiros realizados em seu nome sem sua autorização, têm sido associados às modalidades de roubos e furtos de celulares.

As restrições impostas durante a pandemia não impediram o crescimento dos registros de estelionato e parecem ter impulsionado sua prevalência, avalia o FBSP.

“Os dados reforçam um fenômeno que vem sendo discutido: estamos vivenciando mudanças significativas nas dinâmicas dos crimes contra o patrimônio, em direção a sua digitalização. A queda de roubos a transeuntes (-7,5%) e o crescimento de roubos e furtos de celulares (1,8%) estão, muito possivelmente, associados a esta dinâmica; o que indica que os dados de roubos e furtos de celulares retratam melhor os crimes cometidos em vias públicas e a sensação de segurança nos ambientes urbanos, como será discutido adiante”, afirma o estudo.

Diretor-presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima atribui à transformação do papel dos smartphones na vida das pessoas o aumento desse tipo de crime. Para ele, se antes os telefones celulares tinham no próprio aparelho físico, o hardware, seu valor intrínseco, hoje essa centralidade passou para os aplicativos com influência na vida financeira, como de bancos e serviços de entrega.

— Esses crimes (de estelionato) têm muita ligação com o sentimento de medo da população. O Brasil, além de viver um quadro de violência letal, vive uma epidemia de golpes — afirma ele.

Entre 2018 e 2021, 3,7 milhões de celulares foram roubados ou furtados no Brasil — 847.313 desses casos ocorreram no último ano, o que equivale a 1,6 celular substraído por minuto. O número, no entanto, representa uma queda de 22,8% na taxa de roubo e furto de celulares no país. Os pesquisadores consideram que o período da pandemia causou efeito nesses dados, principalmente em 2020, quando as medidas sanitárias de restrição de circulação de pessoas por causa da covid-19 resultaram em menos pessoas na rua.

Embora os dados indiquem queda nos crimes patrimoniais no período entre 2019 e 2020, com o início da pandemia, essa tendência não se manteve no ano seguinte, marcado pela retomada das atividades. A partir do avanço da vacinação, houve retomada de parte considerável das ocorrências de crimes contra o patrimônio.

“As taxas, contudo, ainda não se igualam aos patamares anteriores à pandemia de Covid-19. Os crescimentos mais significativos ocorreram no crime de estelionato, com taxas muito acima daquelas vistas em 2018 e 2019, e de estelionato no contexto virtual. Entre 2020 e 2021, houve, praticamente, estabilidade no roubo e furto de veículos e roubo e furto de celulares. Tivemos, ademais, queda de roubo a transeunte e queda no total de roubos”, diz o estudo.