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‘Estou no caminho da cadeira elétrica’, diz Gabriel Monteiro após ser cassado

"Tirar meu mandato é decretar a minha morte", disse político

Gabriel Monteiro (Foto: Reprodução Globo)

Acusado de assédio, de expor crianças vulneráveis em vídeos postados em suas redes sociais e de filmar relação sexual com uma jovem de 15 anos, o vereador Gabriel Monteiro (PL) teve seu mandato cassado na ultima quinta-feira (18) na Câmara Municipal do Rio. Foram 48 votos a favor e dois contra — o dele próprio e o de Chagas Bola (União Brasil). Na sessão, Monteiro afirmou estar “no caminho da cadeira elétrica”.

— Tirar meu mandato, senhores, é decretar, para mim, para a minha honra, para a minha moral, a minha morte — disse Monteiro, antes da votação: — Estou no caminho da cadeira elétrica, do apedrejamento, de poder ficar impedido de fiscalizar, de trabalhar, de engrandecer o Legislativo por dez anos. De perder 60 mil votos, aproximadamente, com um pouco mais de um ano de mandato. Eu não tenho um coração ruim, eu tento fazer o bem.

O único ausente foi Carlos Bolsonaro (Republicanos), que está de licença. Com mais de seis milhões de seguidores em seus canais na internet, Monteiro deixou a Polícia Militar para assumir a vaga no Legislativo ao ser o vereador mais votado do Rio em 2020 pelo PSD.

O primeiro a discursar, após a abertura da sessão, foi o vereador Chico Alencar (PSOL), autor do relatório que pediu a cassação.

— Qualquer abuso contra crianças e mulheres é inaceitável. Quem é ético não mata, não estupra, não ofende. Ele (Gabriel Monteiro) tem o dever de agir com conduta dentro e fora do parlamento, com moralidade, ética — disse. — Ele acumula muitas ações judiciais. Não é normal alguém ter tantas denúncias na vida pública, de assédio moral, estupro. Estamos diante de uma decisão grave e importante. E diz o que queremos ser como casa legislativa. Mais importante do que vestir um terno é ter caráter.

Na tribuna, alguns vereadores contaram um pouco de seus dramas para condenar as atitudes de Monteiro. Felipe Michel (Progressistas), por exemplo, lembrou o caso da filha de 25 anos, que foi vítima de tentativa de estupro por parte de um amigo quando entrou para a faculdade.

— Minha filha teve um sério problema de saúde mental por isso. Tenho duas filhas e mulher. Gosto do vereador Gabriel Monteiro, mas essa situação é insustentável.

Ao defender a cassação, Thais Ferreira (PSOL), presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da Câmara, revelou em seu discurso que sofreu violência sexual quando criança:

— Na minha primeira infância, fui abusada sexualmente. Se a família falha, o Estado não pode falhar.

A sessão que definiu o destino de Monteiro teve início às 16h. Foram liberados 120 lugares nas galerias e os grupos contrários e favoráveis ao vereador foram divididos. O público barulhento interrompeu várias vezes as falas.

Durante o discurso da vereadora Laura Carneiro (PSD), um dos defensores de Gabriel Monteiro que estava nas galerias gritou que a menina de 12 anos e sua mãe, citadas no processo disciplinar, estavam acompanhando a sessão. Segundo a denúncia, o acusado orientou as respostas que a criança deveria dar durante um vídeo que ele fez para monetizar nas redes sociais. Ele afirmava que a garota passava de sete a nove horas nas ruas sem se alimentar. Não era verdade, já que ela frequentava a escola. Após o caso vir a público, Monteiro fez uma vaquinha virtual para arrecadar fundos para a menina.

Além deste caso, o processo ético na Câmara analisou um vídeo em que o vereador aparece acariciando e beijando o pescoço de uma menina de 10 anos enquanto ela tem o cabelo lavado num salão. Em outro caso, um segurança do vereador aparece agredindo um morador de rua, que teria sido “contratado” para simular ser assaltante. Monteiro é acusado de assédio por ex-funcionários de seu gabinete parlamentar. Uma das provas mais contundentes foi a gravação da relação sexual que ele manteve com uma adolescente de 15 anos, o que é crime. Monteiro negou saber a idade da jovem, mas testemunhas deram outros relatos. A Polícia Civil apura ainda denúncias de estupro contra o político, mas esses casos não foram abordados pelo Legislativo

Eleito suplente pelo PSD nas eleições de 2020 com 7.086 votos, Matheus Floriano assumirá a cadeira de Gabriel Monteiro. Floriano foi vereador de abril de 2019 a maio de 2020. O EXTRA mostrou este mês que Matheus, filho do ex-deputado Francisco Floriano, recebeu R$ 51,4 mil da fundação Ceperj, alvo de investigação do Ministério Público do Rio. Ele foi um dos nomes ligados a políticos que o EXTRA mapeou que constam na lista de saques feitos na “boca do caixa” pagos pelo Ceperj.

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