Cuidados com a Saúde

Estresse e sedentarismo são principais fatores de risco para problemas cardíacos

Hábitos como o fumo e a falta de uma alimentação adequada também contribuem para a proliferação de males como o infarto. Fator genético não pode ser desconsiderado

Há exatamente uma semana, no dia 30 de julho, os goianienses foram pegos de surpresa pela morte do ex-prefeito Paulo Garcia (PT). O administrador da capital goiana no período entre 2010 e 2016 faleceu vítima de um infarto fulminante. Mesmo os esforços da esposa – que é medica anestesista – e de vizinhos, muitos dos quais ligados à área da saúde, ele não resistiu após passar mal durante a madrugada.

Com este fato trágico, Paulo Garcia entra para as estatísticas de vítimas de problemas cardíacos no País, um dado que só aumenta a cada ano. O fato de ele próprio ser médico e de ter menos de 60 anos (tinha 58) tornaram o ocorrido ainda mais inesperado.

Números do Data SUS apontam que Goiás apresentou 1.722 caos de internação por infartes em 2010, uma taxa de 28,7 para cada 100 mil habitantes. Naquele ano, foram 237 óbitos provocados pelo mal no Estado, uma taxa de 3,94 para cada 100 mil habitantes. Os números colocaram Goiás em nono na posição das Unidades da Federação onde mais se morre por infarto.

A tendência é que esse quadro piore ao longo das próximas décadas, reforçando ainda mais o título que recai sobre as doenças cardíacas de serem as que mais provocam óbitos no mundo. Isso é o que explica do presidente da Sociedade Goiana de Cardiologia, Aguinaldo Figueiredo Freitas Júnior: “O brasileiro trabalha muito e não sobra tempo para fazer atividade física ou uma avaliação médica. Essa questão não serve como desculpa, mas é um dado que atrapalha”, pontua.

O médico ressalta que as principais causas dos problemas cardíacos já são amplamente conhecidas pelo público: obesidade, pressão alta, diabetes, sedentarismo e uso de drogas são os maiores fatores de risco. Além disso, outro ponto que costuma ser ignorado, é a genética. “Se você tem um ou dois parentes que tiveram infartos, mas é magro, não é hipertenso, e por isso acha que está imune, não está”, declara o médico.

Mulheres que pensam correr menos risco que homens também podem estar enganadas. “Um tempo atrás a proporção de homens que sofria de problemas cardíacos era muito maior, mas hoje é praticamente igual, com poucas variações em alguns países”, detalha Aguinaldo. Segundo ele, o fato de as mulheres terem adquirido fatores que anteriormente eram tipicamente masculinos, como sedentarismo, estresse e fumo, provocaram uma equiparação do mal entre os sexos.

A questão etária, porém, permanece como um agravante, mas cada vez mais pessoas mais jovens também têm sofrido de ataques cardíacos. “Quanto mais idoso, maior o risco. Ainda assim, temos visto um número crescente de infartos entre jovens adultos, com idades entre 30 e 50 anos”, declara o cardiologista. Novamente, nestes casos, a culpa maior recai sobre a rotina estressante e a falta de tempo para os cuidados com a saúde.

Outro ponto que deve ser levado em consideração quanto à alta taxa de mortalidade por problemas cardíacos é a falta de atribuir a devida importância aos sinais de que há algo errado. Os sintomas podem ser sutis, mas existem.

“O primeiro alerta é o cansaço para fazer as mesmas atividades do dia a dia. Por exemplo, a pessoa cansava depois de fazer 40 minutos de uma atividade, e hoje cansa com 20”, diz Aguinaldo. “A própria dor do infarto, a angina, também costuma ser ignorada, porque muitas vezes não é uma sensação descarada com suor frio e uma pressão no peito. Às vezes pode ser só um desconforto no peito, uma dor no pescoço ou na boca do estômago, que em alguns casos é até confundida com uma gastrite.”

A melhor indicação para evitar problemas é mesmo o exercício físico regular e a alimentação adequada, sem excessos de sal ou gordura. “É importante manter uma vida saudável, o controle do peso, da diabetes e do colesterol”, destaca o médico. A consulta regular com um cardiologista também é importante, assim como a realização de exames físicos, clínicos e possíveis exames complementares, Apesar disso, vale a pena não se ater aos valores de referência fornecidos pelos laboratórios para avaliar a própria saúde. “Esses valores variam de paciente para paciente e algumas pessoas podem infartar mesmo com o colesterol normal”, frisa o especialista.

Quanto à escolha esportiva, vale qualquer exercício aeróbico. As opções são muitas: corrida, futebol, natação, tênis, ciclismo, basquete… Bastam 150 minutos divididos algumas vezes por semana para reduzir as chances de um infarto e de outros problemas de saúde.

Quem acha que pode se safar com alimentos “milagrosos” também precisa rever seus conceitos. “Qualquer sugestão de que alimento A, B ou C possa resolver ou prevenir algum problema cardíaco é puramente teórica. Não existe nada comprovado nesse sentido”, ressalta Aguinaldo. “Alguns alimentos, entretanto, ajudam a controlar o colesterol e o açúcar, que são fatores de risco”, complementa.