Enem

Estudantes surdos têm dificuldade para se preparar para o Enem

Sem material específico, estudantes surdos têm dificuldade para se preparar para o Exame Nacional do…

Sem material específico, estudantes surdos têm dificuldade para se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O motivo principal é o português – segunda língua -, sendo a primeira, a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

No dia da prova, segundo os estudantes, a leitura será a maior dificuldade para aqueles que não têm uma boa formação em português. De acordo com eles, a tradução feita pelos intérpretes é reduzida e insuficiente para garantir a interpretação que o exame exige.

A estudante Andressa da Silva Fernandes, 18 anos, está no 3º ano do ensino médio na Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga, no Distrito Federal. Esta será a segunda vez que fará o Enem.

“No ano passado, fiz o exame do Enem como experiência, e na hora de resolver a prova, não entrendia o contexto, tive muita dificuldade com o português, muitas dúvidas”, diz a estudante, acrescentando que a tradução feita pelo intérprete nem sempre era suficiente para que compreendesse o contexto e as nuances dos exercícios.

Andressa quer cursar arquitetura na Universidade de Brasília (UnB). “Não sei como me preparar para o Enem. Tem a preparação aqui na escola, mas não tem material, livro. Os vídeos na internet são orais ou legendados e tenho dificuldade no português. Como vou me preparar? Sou surda”, disse.

Katelyn de Sousa Marquez, 18 anos, colega de Andressa enfrenta o mesmo problema. Ela comprou um livro para o Enem, mas acha difícil entender. Katelyn disse que estuda diariamente para o exame, mas pela dificuldade com o idioma, aprende pouco estudando sozinha.

“O Enem tem muitos textos longos, de difícil compreensão. É muito complicado para mim. E o intérprete não faz a tradução integral das provas, só tira as dúvidas”, disse a estudante.

Para os ouvintes as opções de estudo são muitas e vão desde cursinhos, apostilas e livros que podem ser comprados para acompanhar às aulas gratuitas pela internet. O cenário não é o mesmo para os candidatos surdos. As opções são mais escassas.

Ao ser indagado se teve dificultades para encontrar material em Libras, Silon Clay Júnior, 20 anos foi categórico: “Não, tudo em português. Eu sinto que o português não fica claro para mim. Ele precisava ser acessível ao surdo. Sinais como ponto, vírgula, vocabulário que desconheço, entendo pouco do que está ali. Preciso ler mais de uma vez, para ver se percebo o contexto daquele texto”, explicou.

Para o aluno que solicita atendimento especializado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disponibiliza serviço de intérprete de Libras e leitura labial. Os aplicadores especializados participam de um alinhamento específico para o exame, com a duração de 32 horas. Esses profissionais atuam em dupla em salas, com até seis participantes.

“Libras tem uma estrutura específica, diferente do português. Pelo processo educacional comprometido, que nunca foi acessível, eles têm o português como segunda língua e mal dado”, explica a professora doutora em linguística pela UnB e itinerante da área de surdez da Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga, Sandra Patrícia do Nascimento. De acordo com ela, somente com a Lei de Libras nº 10.436/2002, regulamentada em 2005, que o português passou a ser ensinado adequadamente a esses estudantes.

Para a geração que não teve essa formação, segundo a professora, a tradução oferecida no exame não garante isonomia aos candidatos. A coordenadora pedagógica do ensino médio da escola, Gisele Morisson Feltrini complementa que o ideal para o surdo seria efetuar prova por meio de vídeo em Libras, feita em computadores e com a presença de intérpretes para auxiliar em caso de dúvidas.

“Comparando, nós ouvintes, a gente vai, volta na questão, responde a primeira, depois pula, vai para a décima. Quando você senta no computador, é possível selecionar as questões, voltar em caso de dúvida”, disse.

O Inep informou que a questão está em fase inicial de discussão.