Estudo americano relaciona coquetel com hidroxicloroquina a risco cardíaco
Trabalho publicado na Nature Medicine identificou na maioria dos 84 pacientes testados um aumento no risco de arritmia e de morte súbita
Um estudo publicado pela Nature Medicine nesta sexta-feira apontou efeitos cardíacos em pacientes da Covid-19 após a administração da hidroxicloroquina combinada com o antibiótico azitromicina. O trabalho, conduzido por pesquisadores de Nova York, nos Estados Unidos, indicaram que os dois medicamentos proporcionaram, mesmo de forma independente, risco de arritmia cardíaca e morte súbita.
A conclusão coincide com um estudo brasileiro conduzido por acadêmicos de diversas instituições, incluindo a Fiocruz e a Universidade de Brasília (UnB), que acabou suspenso depois que os cientistas observaram efeitos colaterais deletérios à saúde.
O trabalho americano, que abrangia 84 pacientes, identificou o prolongamento do chamado intervalo QT, ou seja, o tempo que o coração demora para ser preenchido por sangue no espaço entre os batimentos cardíacos. Essa condição anormal pode levar à morte e foi identificada na maior parte dos pacientes – que tinham, em média, 63 anos de idade e eram majoritariamente homens (74%). Um dos motivos especulados pelo artigo é que os efeitos tenham sido causados por problemas pré-existentes como doenças crônicas.
Em 11% deles, o prolongamento identificado através de eletrocardiogramas foi ainda maior e o risco de arritmia e morte súbita foi considerado “severo”. Os autores do estudo pontuaram que quatro pacientes morreram durante o período de experimentos de falência múltipla de órgãos, ou seja, sem indícios de que os óbitos tenham ocorrido pelos efeitos identificados no trabalho.
Apesar das conclusões, os pesquisadores não se posicionaram contra a prescrição da hidroxicloroquina para pacientes da Covid-19. Os acadêmicos recomendaram que o intervalo QT dos pacientes que receberem a combinação do remédio com a azitromicina seja monitorado constantemente, em especial aqueles que apresentem quadros de doenças crônicas.
Estudo brasileiro também apontou riscos
Um estudo coordenado por pesquisadores brasileiros de 21 instituições e encabeçado pela Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, destacou que “num grupo maior de pacientes, descobriram que a alta dosagem de cloroquina por dez dias levantou bandeiras vermelhas sobre a sua toxicidade”. Por esse motivo, o trabalho foi interrompido.
Ao mesmo tempo, os acadêmicos reforçaram que não encontraram evidências significativas de que a alta dosagem da cloroquina reduziu significativamente a replicação do coronavírus. O episódio ganhou repercussão internacional após reportagem publicada no jornal americano The New York Times. Os pesquisadores chegaram a receber ameaças.