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Evento no TSE foi recado pela democracia, e Bolsonaro ficou constrangido, diz Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a cerimônia de posse do ministro Alexandre…

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na terça-feira (16), foi um recado pela democracia e que o “constrangimento” do presidente Jair Bolsonaro (PL) era “visível”.

“Em cada discurso que falava um pouco de democracia era visível a cara de constrangimento dele [Bolsonaro]. Compreendo esse comportamento, porque ele passou o tempo inteiro desaforando a Justiça Eleitoral, desacreditando as urnas eletrônicas, tentando desmoralizar as instituições. E ontem foi um ato de fortalecimento do Estado democrático de Direito no Brasil”, disse Lula.

O petista concedeu entrevista à rádio Rádio Super 91.7 FM, de Belo Horizonte, na manhã desta quarta-feira (17). Lula realizará o primeiro comício de sua campanha na cidade mineira nesta quinta (18).

Na cerimônia no TSE, enquanto Alexandre de Moraes era ovacionado durante a fala em defesa do sistema eleitoral, Bolsonaro apenas acompanhava a cerimônia —ele não aplaudiu as falas do ministro.

Moraes fez um discurso com recados ao chefe do Executivo. Exaltou o fato de o tribunal ser capaz, devido às urnas eletrônicas, de divulgar o resultado do pleito no mesmo dia em que os eleitores votam e elogiou o antecessor, Edson Fachin, que protagonizou diversos embates com Bolsonaro.

Na entrevista, Lula afirmou ainda que a cerimônia foi um “ato da civilidade” que deu um recado ao Brasil de que as pessoas querem um processo eleitoral limpo. “Que a gente possa fazer um debate democrático na televisão e no rádio e que os resultados das eleições sejam respeitados por todos”, afirmou.

O ex-presidente disse também que Bolsonaro não conversou com o líder do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), sentado ao lado dele —o que, para Lula, é sinal de que o chefe do Planalto estava incomodado. Por outro lado, afirmou ter conversado com os ex-presidentes José Sarney (MDB) e Michel Temer (MDB).

“Em nenhum momento ele [Bolsonaro] trocou uma palavra com ele [Pacheco]. É estranho, porque você, estando numa solenidade, conversa com as pessoas ao lado. Conversei com o Sarney, com o Temer, afinal estávamos sentados juntos. Ele não conversou, numa demonstração de que estava muito incomodado.”

Lula disse ainda que a cerimônia “cheirava a democracia, a liberdade, a respeito às urnas e a luta contra fake news”. “Ele estava incomodado, porque foi um ato contra quase tudo que é o comportamento dele”, afirmou o ex-presidente, para quem Moraes deixou o ato “efetivamente muito, muito fortalecido”, assim como a Justiça Eleitoral e as urnas eletrônicas, que “saíram com muito mais respeitabilidade”.

Na entrevista desta quarta, ao ser questionado sobre como tentará atrair o voto evangélico, Lula afirmou que ele não é candidato de uma “facção religiosa”, mas do povo brasileiro. Disse também que não quer fazer uma “guerra santa” no Brasil nem “estabelecer rivalidade entre as religiões”. “Quero tratar todas as religiões, inclusive a de matriz africana, com o respeito que todas devem ser tratadas”, afirmou.

O petista afirmou também que não faz campanha religiosa e que não usa o nome de Deus em vão, “como algumas pessoas usam”. No dia anterior, Lula fez seu primeiro ato oficial de campanha, em frente à fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo. Nele, afagou evangélicos e afirmou que o presidente Bolsonaro está tentando manipulá-los.

Ainda na entrevista à rádio mineira, voltou a falar que manterá o valor do Auxílio Brasil em R$ 600 —programa que, segundo ele, vai voltar a se chamar Bolsa Família—, além de dizer que reajustará a tabela do imposto de renda e que é preciso “começar a cobrar imposto de renda de lucro e dividendos, que não se paga neste país”. “Será inexorável fazer um debate sobre uma nova política tributária para o Brasil.”

O ex-presidente disse ainda que, em um eventual governo, conversará com todos os políticos —inclusive os de partidos da base aliada de Bolsonaro. Ao ser questionado se, em um eventual governo, se sentiria “confortável” em dialogar com nomes como Valdemar da Costa Neto (PL) e Roberto Jefferson (PTB), Lula afirmou que é importante estabelecer uma “política de conversação com as pessoas que têm mandato e com as lideranças do Congresso” para chegar a uma “política de boa convivência no Brasil”.

“Se você ficar nominando as pessoas que a gente vai ou não conversar, posso conversar com o PTB sem precisar conversar com o Roberto Jefferson. Posso conversar com o PL sem precisar conversar com o presidente do PL”, disse. “Essas pessoas cometeram erros, crimes, foram julgadas, condenadas, mas estão livres e fazendo política. São presidentes de partidos, dirigentes partidários, têm mandatos.”

Ao final da entrevista, ao ser questionado sobre a avaliação que tem sobre a Lei da Ficha Limpa, afirmou que foi uma “bobagem” fazer a lei “tal qual ela foi feita”. “Você muitas vezes pune uma pessoa, e três meses depois ela adquire o direito de ser candidato outra vez. É preciso rediscutir a Lei da Ficha Limpa.”