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Ex-coroinhas são ouvidos no caso de padre acusado de assédio sexual no interior de SP

Segundo defesa, testemunhas aguardavam depoimento há quatro meses

Dois ex-coroinhas foram ouvidos na tarde desta terça-feira (2) pela Polícia Civil de Araras, no interior de São Paulo, sobre acusações de assédio sexual contra o padre Pedro Leandro Ricardo, afastado pela Igreja Católica desde janeiro.

Eles denunciaram o religioso por suposto abuso sexual quando eram menores de idade e o ajudavam na realização das missas. Os depoimentos foram prestados em meio às críticas de advogados de defesa de que as investigações do escândalo de pedofilia e corrupção na Igreja Católica de Limeira estavam muito lentas.

As duas testemunhas já tinham sido ouvidas pela reportagem do GLOBO em março. E desde então ainda não tinham prestado depoimento no inquérito.

Uma delas contou que começou a auxiliar o padre aos 14 anos, em Araras. Relatou que costumava acompanhar o religioso quando ele comprava presentes para os então coroinhas. Contou que Leandro dava sapatos e roupas para os adolescentes. Disse ainda que participou de festas regadas a álcool com o religioso e outros menores de idade que também auxiliavam o padre na igreja.

A outra testemunha é um ex-seminarista, que contou ao GLOBO em entrevista que aos 16 anos foi abusado sexualmente por dois padres. Ele acusa o então pároco da igreja de Bom Jesus, padre Carlos Alberto da Rocha, de ter forçá-lo a segurar diversas vezes em seu pênis.

Além do padre Carlos, o ex-coroinha também denunciou o padre Leandro de assédio sexual durante um curso numa paróquia de Porto Ferreira, município que também fica na região sob a responsabilidade da diocese de Limeira.

Ao todo, pelo menos seis ex-coroinhas acusam o padre Leandro de assédio sexual.

As investigações estão em andamento desde janeiro nas cidades de Araras, Limeira e Americana. Inicialmente, três inquéritos tramitavam paralelamente. Recentemente, porém, o inquérito acabou avocado pelo Deinter9, que reúne a cúpula da polícia da região, em Piracicaba.

Mais um padre afastado

A apuração se divide em duas linhas de investigação. A primeira envolve a questão das acusações de pedofilia contra o padre Leandro. Já a segunda trata sobre denúncias de corrupção contra o bispo Dom Vilson Dias de Oliveira, que é acusado de extorsão de diversos padres e de fechar os olhos para abusos.

No final de maio, Dom Vilson acabou renunciando. Seu caso foi utilizado como exemplo da nova política de tolerância zero do Papa Francisco. O bispo comandava 102 igrejas da diocese de Limeira desde 2007. Para o lugar de Dom Vilson, o pontífice nomeou Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, que assumiu a função interinamente.

Dez dias após a chegada do novo bispo, a diocese suspendeu de ordem o padre Felipe de Moraes Negro da igreja Santa Isabel de Portugal, em Limeira.

A diocese não explicou o motivo da suspensão.

O GLOBO apurou junto a fontes da Igreja Católica que o padre Felipe é acusado de envolvimento com uma fiel e de desvios de recursos da igreja.

A reportagem ouviu uma mulher, que pediu para não ser identificada, e que diz ter sido assediada pelo padre. Ela mostrou trocas de mensagens com o religioso em aplicativo de mensagens. Nas conversas, o padre convida a mulher para sair e diz que tem muito dinheiro.

A reportagem apurou ainda que há outros clérigos na mira da nova gestão da diocese.