Ex-empregada diz que adolescente filmada fazendo sexo com Gabriel Monteiro tinha ‘cara de criança’
A senhora era usada como atriz em "experimentos sociais" que o vereador postava para monetizar nas redes sociais
Ex-empregada doméstica e mãe de um dos ex-assessores do vereador e youtuber Gabriel Monteiro (PL), Sandra Neder, de 66 anos, tinha uma segunda função quando trabalhou para o político. A senhora era usada como atriz em “experimentos sociais” que Gabriel postava para monetizar nas redes sociais. Na Lapa, em uma das cenas, ela interpretou uma idosa cega e cadeirante, que a filha queria matar.
Em outra cena, a mulher ficou parada numa esquina, debaixo de forte calor à espera de ser assaltada porque teria joias na bolsa. Ela também conheceu a adolescente de 15 anos filmada fazendo sexo com o vereador e youtuber:
— Essa menina ia quase todos os dias para a casa do Gabriel. Ela a chegava de uniforme e almoçava lá. Tinha cara de criança. É impossível que Gabriel achasse que fosse maior de idade. Outras mulheres frequentavam o ambiente. Algumas circulavam entre o quarto dele e os outros cômodos apenas de calcinha e sutiã na frente de todos — contou a ex-empregada.
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Dona Sandra é citada no depoimento da ex-atriz e roteirista dos vídeos, Luisa Caroline Bezerra Batista, ao Conselho de Ética que, por unanimidade, aprovou na semana passada, por sete votos a zero, o relatório do vereador Chico Alencar (PSOL) propondo a cassação do mandato de Gabriel Monteiro. A previsão é que os vereadores deliberem sobre o caso na quinta-feira.
Para Gabriel perder o mandato, 34 dos 51 vereadores (dois terços do plenário) precisam aprovar o relatório de Chico Alencar. Na prática, 50 vereadores estarão aptos a participar já que Carlos Bolsonaro (Republicanos) está de licença. O vídeo em que Gabriel Monteiro aparece com a adolescente é um dos elementos que fundamentou as conclusões do conselho. Os outros são vídeos em que Gabriel expõe duas menores nas redes sociais e um episódio em que termina com a agressão de um homem em situação de rua na Lapa.
Dona Sandra acrescentou que ganhava R$ 2 mil para cuidar da casa em um condomínio de luxo onde Gabriel Monteiro mora, na Barra da Tijuca. Ela contou que foram oito meses convivendo com Gabriel, amigos e assessores. Uma experiência que, rememorada agora, ela classifica como horrorosa:
— Foi meu primeiro emprego. Precisei trabalhar porque meu marido está com câncer de próstata. Ele era taxista e já não ganhava tão bem como antes por causa da concorrência com os motoristas de aplicativos. Vendemos até o carro. Fiquei com medo de continuar lá porque meu filho foi um dos que denunciaram Gabriel — contou Sandra.
Sandra pediu demissão em abril, depois de virem à tona as denúncias de que Gabriel Monteiro forjava vídeos, inclusive com menores, e era acusado de assédio moral e sexual de funcionários. O filho, Fábio Neder, também já tinha deixado o emprego.
A defesa de Gabriel Monteiro, por sua vez, alega que a mulher era mãe de um ex-funcionário de Gabriel que seria ‘’o número dois’’, da máfia dos reboques, e que abandonou o emprego.
A ex-empregada relembrou a rotina da casa:
— Do café da manhã à noite, Gabriel só come uma coisa: pedaços de frango frito com batata palha. Tem frango até no café da manhã. Servia frango de quatro a cinco vezes por dia. Era frango e muita bebida o tempo inteiro. E o vereador era mesquinho. Não queria que oferecesse comida para outras pessoas que trabalhavam na casa. Não falava com os empregados — disse a ex-colaboradora.
A reportagem chegou à dona Sandra depois de receber um vídeo editado no qual é reproduzido um áudio em que ela reclama sobre uma situação em que interpretou uma cega cadeirante na Lapa. A ex-empregada confirmou que realmente a voz era dela e que não sabia que estava sendo gravada. Luisa Batista também confirmou ao jornal a autenticidade da produção:
— Era uma bobeira só. Eu abordava pessoas falando que a senhora era minha mãe e que queria matá-la para ficar com o dinheiro da pensão para poder ir para o motel com um amante. Aí Gabriel aparecia e simulava o flagrante— contou Luisa a reportagem.
No vídeo, o tom da ex-empregada é de revolta:
— Naquele sol, naquele calor. Não tem consideração. Não gosto de sacanear ninguém. (Gabriel Monteiro) não agradece porra nenhuma. Da outra vez não agradeceu: fiquei duas horas no sol (num vídeo em que a equipe de Gabriel tentou convencer populares a assaltá-la) (…) Eu acordo cinco da manhã (para trabalhar) — disse Sandra em trechos da produção.
A assessoria de Gabriel, por sua vez, negou que dona Sandra ficasse sem se alimentar: