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Ex-médico da Prevent diz que havia pressão para dar tratamento paliativo a pacientes

Walter Correa afirma à CPI que essa pressão era rotineira na Prevent Senior

Ex-médico da Prevent diz que havia pressão para dar tratamento paliativo a pacientes (Foto: Agência Senado)

Em depoimento à CPI da Covid, nesta quinta-feira (7), o médico Walter Correa Souza Neto relatou que superiores determinaram tratamento paliativo “para aliviar sofrimento até a morte da pessoa” para uma paciente sua que teve alta três dias depois. E afirmou que essa pressão era rotineira na Prevent Senior.

“Às vezes pela gerência de recursos que é extremamente rígida, isso muitas vezes induz o médico ao erro. Então o médico fica julgando muitas vezes que um paciente não é viável. Muitas vezes ele poderia ser viável. Então a gente via acontecer com uma certa frequência dentro da Prevent. Nem sempre é intencional, mas normalmente essa cultura provoca isso”, afirmou.

“Muitas vezes no pronto-atendimento, quando você estava internando um paciente, você já era pressionado por aquele médico, que era o guardião, o chefe do plantão: ‘e aí, você já paliou esse paciente? Não, eu não acho que ele é viável. Você não vai pedir UTI. É enfermaria porque já vamos paliar, conversa com a família’.”

O médico relatou um caso pessoal​, de uma paciente de 90 anos, que chegou com uma infecção.

“Eu estava uma vez com uma senhora, que tinha quase 90 anos, estava com uma condição mais grave, mas tinha um estado geral que era bom. Precisava fazer um procedimento relativamente simples, era uma infecção urinária”, afirmou.

Segundo o médico depoente, a paciente foi encaminhada para a observação com um pedido seu de internação. Os superiores desse setor, os guardiões, determinam o tratamento paliativo. Os familiares então voltaram para tentar reverter a situação com o médico.

“Esses colegas não eram pessoas malvadas que estavam lá para paliar, mas estavam com uma observação lotada, em uma medicina de guerra, onde o que importa é mais a gestão de recursos e não o paciente, onde a cultura da empresa tem uma leniência muito grande com paliativo”, afirmou.

“Eu disse: ‘olha, não aceita, diz que a senhora quer que se faça tudo. Vai lá e diz que a senhora quer que faça tudo’. Essa paciente respondeu super bem e teve alta três dias depois” afirmou.

Custos

Souza Neto afirmou ainda que o modelo estrutural da Prevent Senior era voltado para os custos, deixando de lado em muitos aspectos o bem-estar do paciente.

“A inadequação crônica que eu tinha com a Prevent Senior se dava por ser um modelo que era basicamente voltado para os custos e não, muitas vezes, para o bem-estar e o que o paciente precisava”, afirmou.

O profissional afirmou que essa lógica já era adotada muito antes da pandemia do novo coronavírus.

“Algumas condições não são exclusivas da pandemia. São coisas que acontecem na Prevent de forma crônica e que estão inseridas na cultura da empresa. A Prevent Senior, até pouco tempo, acho que usava no comercial deles que eles são especialistas em pessoas, mas eu sempre via a Prevent especialista em números”, afirmou.