Exército ‘ficha’ morador de favela do Rio e impede cobertura da imprensa
Moradores de três comunidades da zona oeste do Rio estão sendo “fichados” por militares do…
Moradores de três comunidades da zona oeste do Rio estão sendo “fichados” por militares do Exército durante operação nesta sexta-feira (23). As pessoas só podem deixar suas regiões após passarem pelo cadastramento das Forças Armadas.
Diferentes pontos de identificação foram montados em diversas saídas das comunidades. A foto e o RG dos moradores são enviados por um aplicativo para um setor de inteligência das forças de segurança, que avalia se o identificado tem anotação criminal.
Após flagrar o ‘fichamento’ de moradores, a reportagem foi impedida de seguir no local e encaminhada por homens do Exército a uma distância de 300 metros do local. Ao justificar a medida, um militar disse que a presença da imprensa estaria “intimidando o trabalho deles”.
O pedreiro Edvan Silva Monteiro, 47, reclamou da abordagem dos militares. Pouco antes do meio-dia, ele voltava para a Vila Kennedy após ter perdido o dia de trabalho. Monteiro disse que foi obrigado a voltar para sua casa pelos militares já que estava sem documento ao tentar deixar a comunidade pela manhã.
“Estava saindo pro serviço apenas com a marmita, e o pessoal do Exército disse que precisava ver meus documentos. Ao voltar para casa, acabei me atrasando e fui dispensando por meu patrão pelo atraso”, afirmou o pedreiro, acrescentando que foi fotografado com e sem boné pelos soldados do Exército.
Comandante da operação, o militar que se identificou apenas como Roberto disse que somente o RG dos moradores está sendo enviado para o banco de dados dos agentes de segurança. O CML (Comando Militar do Leste) ainda não se pronunciou sobre o motivo de “fichar” os moradores das três comunidades.
Nesta quinta (22), o presidente da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, anunciou os integrantes de uma comissão que acompanhará o trabalho dos militares no Rio. Na solenidade, ele disse que a OAB não aceita “a ideia de criminalizar a pobreza dessa cidade” e cobrou que a intervenção “montada às pressas precisa ter conteúdo”.
O decreto assinado pelo presidente Michel Temer no dia 16 nomeou o general Walter Souza Braga Netto como interventor federal na segurança pública o Estado até dezembro. Na próxima semana, o militar vai anunciar os novos comandantes das polícias do Rio.
Operação
Desde a madrugada desta sexta (23), 3.200 militares realizam uma operação na Vila Kennedy, Coreia e Vila Aliança. Pelo menos duas pessoas foram presas.
A operação tenta prender suspeitos de matarem na terça (20) o sargento do Exército Bruno Albuquerque Cazuca durante um arrastão em Campo Grande. Na quarta (21), o subcomandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Vila Keneddy foi morto em Jacarepaguá.
A operação também conta com agentes das polícias Civil e Militar. O Exército é responsável pelo cerco e desobstrução de vias da região. A operação é acompanhada pela cúpula do Exército no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC). Nesta semana, o Exército realizou operações em diversas comunidades da capital e de municípios da região metropolitana do Rio.