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Quando falamos de boatos “highlander”, que a gente mata, mas quando menos esperamos eles voltam com toda a força e continuam enganando incautos, as informações falsas sobre saúde estão em primeiro lugar.
No caso de hoje, vamos falar da história da contaminação do feijão. Antes de falar sobre esse caso, saiba que em 2013 uma história falsa falaca de contaminação da doença de chagas no feijão. É claro que a história era falsa.
A história alarmista que apareceu na web em 2015 é muito parecida. O caso tem circulado por áudio no WhatsApp. Junto a uma foto de “feijões contaminados”, o áudio de uma mulher com sotaque de São Paulo aponta que dez pessoas já morreram contaminadas com o “bichinho do feijão”. Que a chefe do plantão da cunhada dela, que é enfermeira, já teria morrido também.
O áudio também fala que a solução é colocar o feijão de molho no vinagre por 20 minutos e que as marcas de feijão estão abafando o caso. Dessa vez, os desmentidos vão entrando no próprio texto da história. Leia o original (degravado do áudio e sem muitas correções de ortografia) e os comentários sobre o caso (infelizmente, não conseguimos subir o áudio para a página):
1 – Família, a minha cunhada trabalha no Hospital Santa Joana e acabou de me mandar uma mensagem aqui no Whatsapp:
A história já começou mal. A fonte citada é a cunhada que trabalha no hospital? Pelo menos, ela disse qual era. Pelo sotaque e nome da instituição, chegamos ao Hospital Santa Joana, em São Paulo. Detalhe: é uma maternidade, que não atende emergências em adultos.
2 – Tá tendo uma epidemia de reações de diarreia, dor de cabeça, vômito e mal estar em um monte de gente. E eles estão usando isso como virose. Só que tá tendo, alguns feijão, feijão de mercado, tá vindo com bicho. Aí o pessoal acaba cozinhando o feijão e ele não morre na água quente. Ele acaba dissolvendo no feijão quando cozinha. aí a pessoa tempera e come e ele acaba indo para o estômago.
Epidemia de diarreia??? Só para começar, o conceito de epidemia abrange doenças. Pelo o que sabemos, diarreia, dor de cabeça, vômito e mal estar são sintomas.
Como assim, feijão de mercado vindo com bicho que não morre na água quente? Que bicho? E como o bicho dissolve e não morre? Seria ele uma minhoca, que pode ser cortado em partes e sobrevive?
3 – É um bichinho que tem que transmite uma doença e acaba matando. A minha cunhada mandou, acabou de morrer a chefe do plantão dela por conta disso e já tem dez pessoas que morreram por conta disso. E aí ela pediu para eu ir repassando para o pessoal.
Caraca, quanta especificação? Bichinho que transmite doença e mata. Se o tal bichinho for o da doença de chagas, então não faz sentido (como podemos ver na postagem de 2013 do Boatos.org).
Dez pessoas morreram no hospital e a chefe do plantão morreu? O que ela fez? Comeu a marmita de feijão de alguém que se internou? Lembrando que o Hospital Santa Joana de São Paulo é uma maternidade que não atende emergências em adultos.
Há sim, um hospital com esse nome que atende emergências. É em Recife. Mas com um sotaque de “magiina” e “meeeu” da pessoa que gravou o áudio, praticamente eliminamos a hipótese de ela ser uma moradora da capital de Pernambuco. Mesmo assim, não há nenhuma notícia sobre mortes no Hospital Santa Joana por virose. Nem em SP nem no PE.
4 – O que vocês podem fazer até para se prevenir também. Cata o feijão, coloca ele uns 15, 20 minutos na água e bastante vinagre. Deixa lá e o bichinho vai subir. Aí você joga a água fora e coloca pra cozinhar. O vinagre não estraga o feijão. Vai matar o bicho e aí você consegue utilizar o feijão pra comer. Vocês vai fazendo isso porque tá vindo um monte de contaminação em feijão, frutas e legumes também. Então fica aqui o alerta.
Opa. Hora da dica. Catar o feijão, ok. Botar no vinagre para o “bichinho subir”. Ele vai subir porque tá se afogando ou porque não gosta de vinagre? Sobre deixar o feijão de molho no vinagre, não vimos nada que falasse contra o procedimento. Mas nada a favor.
5 – A minha cunhada tá toda desesperada no hospital chorando. Eles fizeram a bateria de exames e descobriram que foi isso. E eles não estão divulgando porque são várias marcas de feijão. Então eles não estão divulgando por conta disso. Então quem vocês conhecer vai repassando e falando. E aí fica essa dica para vocês faze isso também. Do jeito que tá o mundo.
Bateria de exames para descobrir que foi “isso”? Isso o quê? Morreu de “feijão contaminado por bicho”? A doença não tem nome não?
Para terminar, o pedido básico. Primeiro diz que não querem que você saiba por causa das “várias marcas de feijão”. Me diga uma que tenha alcance nacional e poder para barrar a informação? E claro, há pedido para repassar a informação.
Bem gente. Como deu para perceber na nossa análise, o texto citado acima é vago, não cita fontes fiáveis e pede compartilhamento. Todos são sintomas de boatos. Além disso, não há nada que comprove a história das mortes e há textos antigos que falam que a contaminação do feijão é falsa. Sendo assim, podemos dizer orgulhosamente: “é boato”.
Acesse o sie www.boatos.org