Filha do ex-presidente Michel Temer revela que foi estuprada em assalto
Luciana Temer diz que não registro boletim de ocorrência por medo de se expor
Em entrevista à apresentadora Angélica, Luciana Temer, diretora do Instituto Liberta, revela ter sido estuprada em um assalto. “Eu tinha 27 anos, havia saído recentemente do cargo de delegada em uma delegacia da mulher. A coisa mais natural do mundo seria registrar a ocorrência, mas não registei. Eu pensava que nunca iriam achar, então para que me expor?”, desabafa.
Luciana conta que se arrepende desse comportamento, pois acredita ser fundamental que os casos sejam registrados. “A violência sexual está permeando a nossa sociedade. Esse é o único crime em que a vítima se constrange em ter sofrido, o que é um absurdo”. Ela pede que as pessoas comecem a falar. “A cura começa pela linguagem. A gente precisa falar para descobrir que não estamos sozinhas. Enquanto não rompermos o silêncio, essa realidade se manterá.” E é por isso que o Instituto Libertas, que atua no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil está colocando no ar uma campanha que pretende mudar a forma como o país lida com o assunto: “A sociedade brasileira precisa começar a enxergar esse problema”, diz.
Todos os anos são registrados mais de 500 mil casos de exploração sexual infantil no Brasil, somos o segundo neste ranking macabro, ficando atrás da Tailândia. Mesmo com esses números absurdos, a estimativa é de que só 10% das ocorrências sejam notificadas. Outro dado assustador é que 70% dos casos de violência sexual infantil acontecem dentro de casa. Isso ocorre em todas as classes sociais e o maior cúmplice do abuso infantil é o silêncio.
Por isso, ao presenciar ou desconfiar de um caso de abuso infantil, DISQUE 100, canal de atendimento 24 horas para denúncias de violação dos direitos humanos. “Precisamos quebrar esse silêncio e esse constrangimento que envolvem o assunto”, diz Luciana em entrevista exclusiva à Angélica.
Para quebrar esse tabu, ela frisa a importância de pessoas adultas admitirem que já foram vítimas de algum tipo de violência sexual e faz outro relato de uma ocorrência pessoal de quando era pequena. “Estava voltando da escola, tinha um homem se masturbando na rua sozinha, fiquei apavorada, saí correndo. Demorei muito tempo para voltar a fazer esse trajeto.”
Angélica também compartilha um abuso que passou aos 15 anos, quando foi à Paris divulgar o hit Vou de Táxi. Fotografava na rua: “Quando o fotógrafo falou que eu era uma cantora brasileira, um grupo de meninos foi se aproximando de mim, ficando perto e se esfregando em mim. Eu fiquei sem reação. Um deles passou a mão em mim inteira e fiquei petrificada”, relata pela primeira vez em público. “Só depois eu descobri que aquilo era uma violência.”
Se por um lado precisamos parar de relativizar o que é relatado pelas crianças e jovens, por outro também é necessário sair daquela ideia de que o abusador é um monstro. “São pessoas totalmente adequadas socialmente, que pagam suas contas, sustentam as suas famílias”. Nem todos são pedófilos. Estudos mostram que menos de 25% dos abusos são cometidos por pessoas diagnosticadas com esse transtorno mental.
“Só depois eu descobri que era uma violência”
Para o enfrentamento desse problema, uma grande aliada é a educação sexual nas escolas. Assim você permite que a criança que esteja sendo vítima de uma violência sexual reconheça isso e possa se abrir sobre o assunto com adultos de confiança. Esse conhecimento também é importante para que os pequenos digam “não” quando o abusador tentar qualquer coisa, o que pode fazer com que ele se afaste em alguns casos.
“Enquanto não rompermos o silêncio, essa realidade se manterá”
E para finalizar, Luciana faz um convite. Em 18 de maio, Dia Nacional de enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças a Adolescentes, o Instituto Liberta fará uma passeata virtual com o objetivo de unir 1 milhão de pessoas que já passaram algum tipo de violência – das mais graves às mais leves. No site agoravocesabe.com.br há um questionário para avaliar se você já foi vítima. A ideia é juntar as pessoas e, com essa multidão, indagar candidatos a governador e a presidente sobre quais são as propostas políticas para acabar com essa violência. Luciana garante que o único caminho é quebrando o silêncio e investindo em educação.