SÓ SEI QUE FOI ASSIM

Filme ‘O Auto da Compadecida’ completa 20 anos; saiba curiosidades da obra

Minissérie que virou filme, prêmios, audiência na TV, bilheteria no cinema, making off, clipe da Lady Gaga... isso e muito mais

(Foto: Reprodução)

Há duas décadas, o cinema nacional era presenteado com um dos filmes mais comentados até hoje. Baseado em uma peça teatral escrita por Ariano Suassuna em 1955, O Auto da Compadecida completou 20 anos em setembro, ainda em alta, sendo celebrado a cada reprise na TV – seja em forma de filme ou série.

A obra é unanime e agrada todas as idades. Até mesmo aquelas pessoas que dizem não apreciar o cinema nacional costumam abrir uma exceção.

Com um humor abrasileirado, O Auto da Compadecida não tem somente um ou dois personagens marcantes. A infiel e fogosa Dora (Denise Fraga) esposa do padeiro de pavio curto Eurico (Diogo Vilela); o capitão de um grupo de cangaceiros Severino (Marco Nanini); a romântica Rosinha (Virgínia Cavendish); e os inesquecíveis Diabo (Luís Melo), Jesus Cristo (Maurício Gonçalves) e Nossa Senhora (Fernanda Montenegro) são apenas alguns.

Ao longo da narrativa, acompanhamos os amigos Chicó (Senton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele). Chicó busca lidar com o medo para ter uma vida melhor, mas está sempre metido em emboscadas, várias das quais resultantes de sua relação com Dora e Rosinha. Já o criativo João Grilo usa de suas histórias, por vezes mentirosas, para conseguir o que deseja.

De uma maneira lúdica, O Auto da Compadecida utiliza do humor para satirizar a igreja e os políticos, principalmente. São piadas e frases que atravessam os anos e nunca ficam datadas. “Desse jeito o inferno vai terminar igual a uma repartição pública: existe, mas não funciona”, diz o Diabo impaciente na cena do julgamento final.

Filme/série

Para quem não se lembra, o longa é adaptado de uma minissérie de mesmo nome lançada em 1999. A produção, que foi exibida em quatro episódios pela TV Globo, contava com algumas tramas paralelas que acabaram removidas do filme.

Com o enorme sucesso da minissérie, o diretor Guel Arraes planejou a adaptação para as telonas, sendo o primeiro filme realizado pela Globo Filmes.

Para comemorar os 20 anos da produção, em janeiro deste ano a TV Globo reexibiu a minissérie original no horário nobre. Mas depois de tantas reprises nessas duas décadas era de se esperar uma baixa audiência, certo? Errado.

Os quatro episódios tiveram uma média de 26,5 pontos, com um desempenho superior ao de realities da emissora. Além de segurar mais de 90% dos telespectadores da novela Amor de Mãe, exibida na época, o clássico aumentou em 24% a média da faixa, conforme publicado pelo portal Notícias da TV.

O Auto da Compadecida foi o filme brasileiro mais visto no país do ano 2000, levando mais de dois milhões de pessoas ao cinema, mesmo com a série sendo exibida anteriormente na TV aberta.

Em 1999 a produção ganhou o Grande Prêmio da Crítica, concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Em 2015 o longa foi eleito pela Abraccine como um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

O Auto da Compadecida recebeu quatro prêmios no Grande Prêmio Cinema Brasil: Melhor Diretor (Guel Arraes), Melhor Ator (Matheus Natchergaele), Melhor Roteiro (Guel, Adriana Falcão e João Falcão) e Melhor Lançamento. Já no exterior, recebeu o prêmio do júri popular do Festival de Cinema Brasileiro de Miami.

Em entrevista, o escritor Ariano Suassuna disse que Matheus Nachtergaele foi o melhor intérprete para João Grilo. “Sua atuação é impecável. Ele consegue passar toda a esperteza do personagem, que luta contra o patriarcado rural, a burguesia urbana, a polícia, o cangaceiro, e até contra o diabo”.

Cao Albuquerque, responsável pelos figurinos do filme, afirmou que para fazer uma mistura entre os estilos arcaico e nordestino, jogou as roupas de todos os personagens num caldeirão, depois tingiu e lixou várias vezes para que as peças tivessem um aspecto desgastado.

A caracterização de Marco Nanini como cangaceiro incluiu um falso olho de vidro, látex no rosto, peruca e um indumentária que chegava a pesar oito quilos. Já Nachtergaele utilizou uma prótese dentária, de aspecto amarelado e irregular, e escureceu a pele para interpretar o sertanejo João Grilo.

Até a Lady Gaga gostou?

Recentemente O Auto da Compadecida voltou a virar notícia de uma maneira, digamos, inusitada. Após o lançamento de um novo clipe da cantora pop Lady Gaga, internautas compararam o vídeo com o filme, dizendo que a popstar tinha usado a obra como inspiração. Tudo não passou de uma brincadeira, claro.

Seja com as pessoas mais velhas que talvez já conheciam a história antes de ser adaptada para as telas, seja com os mais novos comparando a produção com um clipe pop, uma coisa parece certa: como minissérie ou filme, O Auto da Compadecida vai atravessar as décadas no imaginário do povo brasileiro.

A explicação para o sucesso? Não sei, só sei que foi assim.

*Com informações do site Memória Globo