PREVENÇÃO

Fiocruz alerta que 3ª onda da Covid pode representar crise sanitária ‘ainda mais grave’

Pesquisadores destacam ligeira redução nas mortes e taxas de UTI, mas casos continuam elevados

Fiocruz alerta que 3ª onda da Covid pode representar crise sanitária 'ainda mais grave'(Foto: Jucimar de Sousa/MaisGoiás)

O Brasil registrou uma “ligeira redução” nas taxas de mortalidade pela Covid-19 nas últimas duas semanas, mas a incidência de casos se mantém elevada, assim como os valores de positividade dos testes para diagnóstico da doença. As informações são do mais recente boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz, divulgado nesta quinta-feira.

Segundo a Fiocruz, na semana entre 2 e 8 de maio, também se observou uma redução da ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a doença em grande parte dos estados.

No entanto, os pesquisadores afirmam que o conjunto de indicadores que vêm sendo monitorados pelo Observatório Covid-19 mostram que ainda há uma intensa circulação do vírus no país. “A pandemia pode permanecer em níveis críticos ao longo das próximas semanas, além de dar oportunidade para o surgimento de novas variantes do vírus devido à intensidade da transmissão”, informa o boletim.

— O número de casos continua estável e o índice de positividade dos testes muito alto: isso significa que tem muita gente se infectando e isso pode produzir casos graves. Esses são os indicadores mais precoces, que mostram que o vírus continua circulando com muita intensidade, e esse pode permanecer como um novo platô — explica o sanitarista Christovam Barcellos, membro do Observatório Covid-19 da Fiocruz.

Apesar da ligeira redução nos indicadores de criticidade da pandemia, a manutenção de um alto patamar exige que sejam mantidos os cuidados de prevenção contra o coronavírus, afirmam os pesquisadores da Fiocruz. “Uma terceira onda agora, com taxas ainda tão elevadas, pode representar uma crise sanitária ainda mais grave”, alertam os autores do boletim.

A epidemiologista Carla Domingues, que foi coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) até outubro de 2019, explica que o avanço da Covid-19 ocorre em ciclos, e que, segundo estatísticas nacionais recentes, parece ter chegado no pico e está diminuindo, mas em ritmo lento.

Ela também alerta para o risco de uma terceira onda se a vacinação não avançar e “as pessoas continuarem não respeitando o distanciamento social”:

— Por enquanto, ainda não vemos na população geral o impacto da vacinação, só nos idosos. Vamos entrar no inverno e temos que lembrar que os picos na Europa e nos EUA começaram nessa estação. Podemos ter uma terceira onda, e se a gente não conseguir acelerar a vacinação, vamos ter uma situação mais grave, porque ainda estamos em um nível muito elevado — afirma.

Ela avalia que o Brasil deveria ter, no mínimo, todos os idosos e pessoas com comorbidade imunizados quando começasse o inverno. E faz uma comparação com a primeira onda da doença no país:

— Tivemos uma desaceleração mas nunca chegou lá embaixo, no meio da curva voltou a subir. E possivelmente vamos ter a mesma tendência agora. Chegamos no pico mais alto ainda, vai descer, mas não chegar na ponta da curva, o que pode fazer ter um (próximo) pico mais alto ainda — explica a epidemiologista.

Ocupação de leitos de UTI Covid-19

Segundo a Fiocruz, entre os dias 3 e 10 de maio, as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) apresentaram quedas “relevantes” na região Norte, com o Acre e o Amazonas deixando a zona de alerta.

No Sudeste, Minas Gerais e Espírito Santo também saíram da zona de alerta crítico. O Rio de Janeiro, que entrou na zona crítica um pouco mais tarde do que os outros estados da região nessa fase recente da pandemia, agora é o único que permanece nela.

No Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e o Distrito Federal apresentaram quedas no indicador e Mato Grosso deixou a zona de alerta crítico.  O Nordeste manteve “relativa estabilidade”, com alguma melhora na ocupação de leitos no Maranhão e Ceará e permanência de cinco estados com taxas de 90% ou mais.

Na Região Sul, o Rio Grande do Sul manteve a tendência de queda, diferente dos outros estados, que continuaram com taxas de ocupação superiores a 90%.

Barcellos explica que a taxa de ocupação de leitos é importante para a gestão hospitalar, mas não é recomendado estabelecer políticas apenas baseadas nesse indicador:

— É um perigo estabelecer políticas só baseadas nisso: liberou leito e libera comércio, atividades de recreação e trabalho, e volta a subir novamente. O que queremos é evitar casos novos — afirma o sanitarista.

Sete estados ainda encontram-se com taxas de ocupação iguais ou superiores a 90%: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Paraná e Santa Catarina. E a mesma ocupação elevada foi observada em sete capitais: Porto Velho (92%), Teresina (96%), Natal (92%), Aracajú (99%), Rio de Janeiro (93%), Curitiba (92%) e Goiânia (92%).

‘Ligeira’ queda nas taxas de letalidade

De acordo com o boletim, entre os dias 2 e 8 de maio foram registrados valores ainda altos de óbitos por Covid-19, próximos à marca de 2,1 mil mortes diárias. E foram notificados no país uma média de 61 mil casos diários.

“O número de casos aumentou ligeiramente, a uma taxa de 0,3% ao dia, enquanto o número de óbitos por Covid-19 foi reduzido a uma taxa de -1,7% ao dia, mostrando uma tendência de ligeira queda, mas ainda não representa uma tendência de contenção da epidemia”, informa a Fiocruz.

Também foi observada uma pequena queda nas taxas de letalidade, que estavam na faixa de 2% no fim de 2020, chegando a um valor máximo de 4,5% em meados de março e caindo para 3,5% de 2 a 8 de maio. Segundo os autores, isso pode indicar um pequeno aumento da capacidade dos serviços de saúde no diagnóstico por meio de testes e tratamento hospitalar dos casos graves da doença.

— A letalidade não significa que a doença seja mais perigosa em um momento ou em outro. Significa que o sistema de saúde está funcionando melhor ou pior. Agora tem um pouco de alívio dos hospitais em alguns estados, aliviando o trabalho da atenção primária em saúde para fazer a triagem de quem é grave, quem deve ser testado, fazer aconselhamento — explica Barcellos.

Medidas de proteção e vacinação

Os pesquisadores destacam que somente medidas como evitar aglomerações e interação social em ambientes fechados e pouco arejados, e a intensificação da campanha de vacinação, podem garantir a queda sustentada da transmissão da Covid-19 e a recuperação da capacidade do sistema de saúde.

“Essa nova conjuntura da pandemia no país pode permitir a readequação dos serviços de saúde, com atuação mais intensa dos serviços de Atenção Primária de Saúde, bem como o esclarecimento da população, empresas e gestores locais sobre a importância de se intensificar as práticas de proteção individuais e coletivas, como o uso de máscaras, higienização pessoal e de ambientes domiciliares”, informa o documento.