Violência

Força Nacional chega ao CE, e estado tem 3ª noite seguida de ataques criminosos

Ao menos 21 cidades de todas as regiões, incluindo a capital, registraram ocorrências. São mais de 60 atos criminosos registrados até o momento

Os ataques criminosos no Ceará continuaram pela terceira madrugada seguida neste sábado (5), com ações principalmente a prédios públicos e privados, delegacias, agências bancárias e ônibus. Concentradas nos primeiros dias em Fortaleza e região metropolitana, as ações agora também ocorrem no interior, pelo menos desde a manhã de sexta (4). Ao menos 21 cidades de todas as regiões, incluindo a capital, registraram ocorrências que são ligadas a membros de facções criminosas – são mais de 60 atos criminosos registrados até o momento.

Na noite de sexta e madrugada de sábado, parte do efetivo da Força de Segurança Nacional começou a chegar a Fortaleza – o total de homens que será enviado pelo governo federal para ajudar no policiamento em todo o estado chega a 300. Eles ficarão concentrados no Centro de Formação Olímpico, equipamento com alojamentos do governo estadual ao lado da Arena Castelão. Já na manhã deste sábado já era possível ver alguns carros da Força Nacional circulando por vias de Fortaleza.

O envio do reforço policial foi autorizado nesta sexta-feira pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. A Força Nacional de Segurança Pública atuará por 30 dias no Ceará. Um dia antes ele já havia determinado providências, com a mobilização da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Departamento Penitenciário Nacional.

A decisão se deu por pedidos feitos pelo governador Camilo Santana (PT). O ministro sugeriu a formação de um gabinete de crise, com a integração de polícias federais e estaduais. A equipe da Força Nacional mobilizada conta com cerca de 300 homens e 30 viaturas, de acordo com informações do ministério.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) elogiou a decisão de Moro e disse que o fato de o PT comandar o estado, mesmo sendo oposição ao governo federal, não influenciaria a medida. “Jamais faremos oposição ao povo de qualquer estado e o povo do Ceará precisa neste momento”, afirmou. Moro “foi muito rápido, hábil e eficaz para atender o estado, cujo governador reeleito tem posição radical à nossa (sic).”

Ataques Depois do foco em prédios de órgãos públicos, os bandidos passaram a atacar propriedades privadas. Um carro foi parcialmente queimado no estacionamento de um shopping na região norte de Fortaleza e uma segunda concessionária de automóveis foi atacada em uma das mais movimentadas avenidas da cidade.

Até agora, segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, 50 pessoas foram detidas ou apreendidas suspeitas de participarem dos atentados. Fortaleza amanheceu neste sábado (5) com lojas fechadas, principalmente no centro da cidade. Um dos principais pontos de comércio popular, o Centro Fashion, informou que não abrirá as portas.

Pouco mais de 100 ônibus, em apenas 41 linhas, circularão pela capital do Ceará, número que não chega a 30% da frota habitual aos finais de semana. Todos estão escoltados por viaturas ou terão policiais viajando juntos. Aos menos 12 ônibus foram queimados na capital e no interior desde o início dos ataques na noite de quarta (2).

Até o momento, só houve registro de três pessoas feridas, um casal de idosos e um motorista de um ônibus, anda no primeiro dia dos ataques. Um suspeito foi morto em troca de tiros com a polícia quando tentava, com outras pessoas, danificar um radar de trânsito na cidade de Eusébio, na Grande Fortaleza.

MUDANÇAS NOS PRESÍDIOS

Os ataques ocorrem depois de o governador Camilo Santana anunciar que uma das prioridades de seu segundo mandato será endurecer as regras em presídios, que hoje têm unidades divididas entre facções criminosas: as três mais fortes no estado são o PCC (Primeiro Comando da Capital) e GDE (Guardiões do Estado), que são aliados, e o CV (Comando Vermelho).

Santana criou uma secretaria exclusiva para o assunto, a de Administração Penitenciária, e escalou para comandá-la o policial civil e ex-secretário de Justiça do RN, Luís Mauro Albuquerque, e com passagem também pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Há possibilidade de revisão da divisão de detentos por presídios com base na facção a que pertencem, o que pode ter desencadeado ordens para as ações realizadas por bandidos nas últimas horas.

Na terça (1º), durante a posse dos secretários no Palácio da Abolição, Albuquerque disse que não reconhecia as facções criminosas e que os presídios têm que ser comandados pelo estado, não pelos criminosos – nos últimos meses vídeos de detentos com celulares nas unidades circularam pela internet.

A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social informou que enviou na sexta (4) policiais militares para a CPPL 3 (Casa de Privação Provisória de Liberdade 3), presídio em Itaitinga, região metropolitana de Fortaleza, que, um dia antes, teve um princípio de motim.
Há suspeita de que a ordem para os ataques realizados contra prédios públicos e privados, delegacias, agências bancárias, ônibus e até um viaduto em todo o Ceará tenha partido de dentro de penitenciárias.

Foram indiciados 52 detentos por desobediência, resistência e motim e outros 250 devem ser indiciados, segundo o secretário de segurança do Ceará, André Costa.  Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança, o Ceará foi, em 2017, o terceiro estado do país com mais mortes violentas. A taxa foi de 59,1 mortos a cada 100 mil habitantes. À frente do estado estiveram apenas Rio Grande do Norte (68) e Acre (63,9).

Em 2018, segundo dados divulgados pelo estado, houve queda de 10,5% na taxa de homicídios entre janeiro e novembro de 2018, comparado com 2017. Mesmo assim, no ano passado ocorreu a maior chacina da história do Ceará, com 14 mortos durante uma festa na periferia de Fortaleza, em janeiro, e a morte de seis reféns após ação policial para evitar assalto a dois bancos em Milagres, no interior, em dezembro.

PEDIDO DO PARÁ

Depois do Ceará, agora o Pará também pediu ao ministro da Justiça, Sergio Moro, ajuda da Força Nacional para conter a violência no estado. A solicitação, feita pelo governador Helder Barbalho (MDB), chegou à pasta e está em análise.

“O Pará está mais violento que o Rio de Janeiro, proporcionalmente. O pedido feito foi por seis meses de Força Nacional no estado”, disse o delegado Éder Mauro (PSD-PA), que foi ao Palácio do Planalto falar com o presidente Bolsonaro.

Não há prazo para decisão do ministro da Justiça sobre o pedido de Barbalho. De acordo com a assessoria da pasta, até agora, essas foram as únicas solicitações recebidas.