Decisão

Ford vai fechar todas as fábricas no Brasil e encerrar produção no país

Ford tem hoje 8.000 funcionários no Brasil, mas não serão todos demitidos. Haverá um grupo remanescente de trabalhadores para atender algumas operações

Ford vai fechar todas as fábricas no Brasil e encerrar produção no país

A Ford anunciou nesta segunda-feira (11) que vai encerrar todas as atividades fabris no Brasil neste ano. A empresa tem hoje 8.000 funcionários no Brasil, mas não serão todos demitidos. Haverá um grupo remanescente de trabalhadores para atender algumas operações. A sede da montadora na América do Sul continuará sendo no Brasil, e o campo de provas de Tatuí, bem como o centro de desenvolvimento da Bahia continuam operando.

Em decorrência desse anúncio, a Ford prevê um impacto de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, incluindo cerca de US$ 2,5 bilhões em 2020 e US$ 1,6 bilhão em 2021.

Aproximadamente US$ 1,6 bilhão será relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Os valores remanescentes de aproximadamente US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos.

A montadora já havia encerrado a produção na fábrica de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), que foi vendida para a Construtora São José. Agora, a empresa confirma a interrupção imediata das atividades em Camaçari (BA), onde produz os modelos Ka e EcoSport. A unidade de Taubaté (interior de São Paulo), que fabrica motores e transmissões, e em Horizonte (CE), unidade em que produz o utilitário Troller T4, serão fechadas ao longo do ano.

Em um comunicado, a empresa afirma que “atenderá a região com seu portfólio global de produtos, incluindo alguns dos veículos mais conhecidos da marca como a nova picape Ranger produzida na Argentina, a nova Transit, o Bronco, o Mustang Mach 1, e planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados.”

A montadora chegou no país há mais de cem anos, oficialmente. Foi a primeira grande fabricante de veículos a se instalar no Brasil, que vivia a pré-história do automóvel. O termo montadora vem daí: os veículos vinham aos pedaços dos EUA, cabia aos operários encaixar as peças.

A autorização para o início das operações no centro de São Paulo foi dada no dia 24 de abril de 1919. Os US$ 25 mil disponibilizados vieram da Argentina, primeiro país sul-americano a receber instalações da empresa. O ano do centenário marcou o fim da produção de caminhões da empresa no Brasil e o adeus dos modelos Fiesta e Focus.

O primeiro sucesso no país foi um modelo de porte compacto, o Ford Modelo T. Graças a ele, a empresa passou dos 12 funcionários de 1919 para cerca de 130 em 1924, ano em que foram feitos 5.000 veículos entre carros, caminhões e tratores.

O interesse pelo automóvel crescia no Brasil e, entre 1925 e 1927, a Ford inaugurou linhas de montagem em Recife, Porto Alegre e Rio. O Modelo A, mais conhecido como Fordinho, surgiu na época e logo virou o mais vendido do país.

Os negócios foram bem até 1929, quando a quebra da Bolsa de Nova York e a crise no Brasil à beira da Revolução de 1930 mudaram o cenário. Nos anos seguintes, foram fechadas as linhas de montagem fora de São Paulo.

As dificuldades no Brasil e no exterior fizeram a marca pensar em nacionalizar componentes. Os planos ganharam corpo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A produção ficou parada em grande parte desse período, por queda na demanda e falta de peças.

Com o fim do conflito, o mercado brasileiro começa a receber os carros compactos que fazem parte da reconstrução da Europa. Um desses modelos é o inglês Ford Prefect, que chega por volta de 1947.

Em 1953, a montadora se muda para o bairro do Ipiranga (zona sul de São Paulo). Dois anos depois, começa o processo de nacionalização, com cabines de picapes e caminhões feitas com aço de Volta Redonda (RJ).

A notoriedade da marca se consolidou com o lançamento de seu primeiro carro produzido no Brasil, o sedã grande Galaxie 500. O modelo transformou a Ford em referência de luxo. Aquele 1967 teve outro marco: a montadora adquiriu o controle da Willys-Overland do Brasil e assumiu as fábricas de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) e de Taubaté (interior de São Paulo).

Os carros em desenvolvimento pela Willys vieram junto: em 1969, chegava às lojas o Ford Corcel, desenvolvido em parceria com a Renault. Essa configuração de empresa perdurou nos anos seguintes. A grande mudança ocorreu em 1987, com o estabelecimento da Autolatina, parceria regional com a alemã Volkswagen. Foi uma década ruim para a montadora americana, que perdeu mercado e teve de se reerguer com o lançamento do primeiro Fiesta nacional, em 1996.​

NACIONALIZAÇÃO COMEÇOU NOS ANOS 1950

1919 A diretoria da Ford Motor Company aprova a criação da filial brasileira, no início com 12 funcionários, na rua Florêncio de Abreu, centro de São Paulo. O Modelo T e o caminhão TT são montados com peças importadas dos EUA

1920 Um antigo rinque de patinação na praça da República, no centro de São Paulo, se torna a nova sede da Ford no Brasil

1921 Sede da Ford se muda para um prédio próprio no bairro do Bom Retiro, região central de São Paulo, onde é construída a nova linha de montagem

1923 Com 124 funcionários, a Ford atinge a capacidade anual de produção de 4.700 carros e 360 tratores

1925 Ford inaugura uma linha de montagem no Recife (PE)

1926 Modelos da marca americana começam a ser montados em Porto Alegre (RS)

1927 Ford inaugura um centro de treinamento para mecânicos em São Paulo e uma linha de produção no Rio

1942 Montagem nacional é interrompida devido à Segunda Guerra Mundial, e a Ford inicia os planos para nacionalizar componentes

1953 É inaugurada a nova fábrica da Ford no Brasil, no bairro do Ipiranga (zona sul de São Paulo)

1955 Ford passa a produzir cabines de picapes e caminhões feitas com aço de Volta Redonda (RJ)

1956 Com o programa de desenvolvimento da indústria estabelecido no governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976), a Ford se concentra na nacionalização de seus produtos

1967 Montadora adquire o controle acionário de Willys-Overland do Brasil e assume as fábricas de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) e de Taubaté (interior de São Paulo)

1976 Ford inaugura sua nova fábrica de tratores, em São Bernardo do Campo

1977 É aberto o campo de provas de Tatuí (interior de São Paulo)

1979 Montadora confirma a produção de veículos movidos a álcool

1987 Surge a Autolatina, parceria regional entre Ford e Volkswagen

1989 O motor 1.8 da VW passa a equipar as linhas Escort e Del Rey

1996 Fábrica de motores e transmissões de Taubaté é reinaugurada

2001 Ford inicia as operações em sua nova fábrica, na cidade de Camaçari (BA). A unidade tem capacidade para produzir 250 mil veículos por ano