De volta ao trabalho

“Fui vítima como as mulheres que atendo”, afirma juíza atacada

A juíza Tatiane Moreira Lima, atacada na quarta-feira, 30, falou pela primeira vez sobre o…

A juíza Tatiane Moreira Lima, atacada na quarta-feira, 30, falou pela primeira vez sobre o episódio, para o programa Fantástico, da Rede Globo. A magistrada, que atua em uma vara especializada em crimes de violência doméstica no Fórum Butantã, zona oeste de São Paulo, disse ter se sentido como as mulheres que procuram proteção na Justiça. “O que percebi foi que eu estava sendo vítima de violência como as mulheres que vêm todos os dias para as audiências.”

Tatiane foi agredida por Alfredo José dos Santos, que invadiu o fórum e dominou a magistrada, despejando gasolina sobre ela e ameaçando incendiá-la. Santos compareceria a uma audiência após sua ex-mulher ter prestado queixa por ameaça e agressão. Em um vídeo gravado a pedido do agressor, ele fala que é inocente e pede para seja repetido que ele não é maluco.

“Não tenho sentimento de rancor. Não tenho sentimento de raiva. Fiquei realmente com pena porque vi ali um ato de desespero”, disse a juíza. Ela ficou em perigo por cerca de 20 minutos até que, em um momento de distração, policiais militares conseguiram prender o homem. Ele deverá responder por tentativa de assassinato, incêndio e resistência.

A magistrada agradeceu o apoio dos colegas, da família e disse ter tido “um grande apoio institucional”. Em nota, o Tribunal de Justiça disse “priorizar ao máximo a segurança em seus prédios e a integridade física dos magistrados, promotores, defensores, advogados e servidores”. “As circunstâncias desse fato serão apuradas e, se constatadas falhas, medidas corretivas serão tomadas de imediato”, acrescentou o órgão.

O fórum chegou a ter as atividades suspensas durante a semana, mas teve o funcionamento retomado na sexta-feira, 1. Tatiane disse não ter ficado com graves consequências físicas da agressão. “Fisicamente, estou bem, com pequenas escoriações. Estava fragilizada, mas passada aquela situação me deu muito mais força para continuar o que estou fazendo, que é uma coisa que eu amo, e lutando cada vez mais pelos direitos das mulheres”, disse ao programa.

Ela disse que volta fortalecida: “Não vou me intimidar, não vou me deixar abalar. Tenho mais vontade de atuar nessa área e volto fortalecida dessa experiência.”

O CASO

Em depoimento à Polícia Civil, Alfredo havia dito que invadiu o Fórum do Butantã e fez Tatiane refém porque “queria chamar a atenção”. Ele alegou que se sentia injustiçado pela juíza por ela ter tirado dele a guarda do filho e a todo momento pedia para os policiais filmarem ele e chamarem a TV.

Réu no processo pelo qual responde pela agressão da ex-mulher, mãe da criança, o vendedor tinha audiência marcada com a juíza na tarde da última quarta-feira. Apesar disso, chegou mais cedo, passando direto pela segurança, driblando a revista.

Com uma mochila nas costas repleta de garrafas com líquido inflamável, ele ateou fogo nas escadas, impedindo que um vigilante armado o detivesse. O segurança chegou a atirar, mas o disparo atingiu uma parede.

 Já na sala da magistrada, Alfredo imobilizou a mulher, segurando seu pescoço. Em seguida, molhou a juíza com mais combustível e pegou um isqueiro. Obrigou Tatiane a gravar um vídeo no celular dizendo que ele era inocente sob a ameaça de queimá-la junto com ele. O homem pretendia mostrar a imagem para o filho.

“Seu pai é inocente”, diz a magistrada no vídeo que o homem queria que fosse mostrado ao seu filho. “Pilantra”, diz Alfredo para a juíza.

Com a chegada da PM teve início a negociação para que o agressor libertasse a juíza e se entregasse. Alfredo exigiu que os policiais também o filmassem. Num momento de distração do vendedor, que permitiu que Tatiane se levantasse para tirar cacos de vidro do corpo, a Polícia Militar o deteve.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 51º Distrito Policial (DP), no Butantã, Alfredo ameaçou matar Tatiane e se suicidar em seguida. Por esses crimes, ele foi indiciado por tentativa de assassinato, incêndio e resistência à prisão.

Com sinais de transtornos psicológicos, Alfredo foi medicado num hospital. Mais calmo, falou que não queria matar a juíza e se suicidar, como disseram os policiais militares.(Com informações do Estadão e G1)