Funcionários do Banco Mundial pedem investigação contra Weintraub
Investigação seria pela conduta do indicado por Jair Bolsonaro que posta desinformações sobre pandemia e sobre parceiros do banco
A Associação de Funcionários do Banco Mundial pediu uma investigação sobre a conduta de Abraham Weintraub em suas redes sociais. A associação argumenta que o diretor da instituição indicado pelo governo Jair Bolsonaro posta mensagens com desinformação na pandemia e mensagens políticas, inclusive contra governos que se relacionam com o banco, como o governo do Estado de São Paulo.
A notícia da representação foi antecipada pelo jornal “Folha de S. Paulo”, que teve acesso à carta enviada ao Conselho de Ética do Banco Mundial. O GLOBO confirmou a veracidade do documento, datado de 24 de fevereiro, onde a associação afirma que a conduta de Weintraub, ex-ministro da Educação, precisa ser averiguada se está de acordo com o Código de Conduta da entidade.
Não está claro que tipo de punição ele pode vir a receber, se o Conselho de Ética da Instituição aceitar o pedido de investigação e concluir que ele feriu o código de ética da instituição. Procurado, o Banco Mundial não comenta sobre discussões internas. Weintraub também foi procurado pela reportagem, mas não respondeu. Em nota, o Ministério da Economia informou que não recebeu comunicação do Banco Mundial a respeito do assunto.
A associação cita diversos exemplos de postagens de Weintraub, onde defende o uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19, apesar de diversos estudos e a própria Organização Mundial de Saúde (OMS). “O Sr. Weintraub tuitou várias vezes contra a vacina contra o coronavírus produzida pelo Instituto Butantan, do Estado de São Paulo (onde o governador de São Paulo é um adversário político do Sr. Weintraub e do Sr. Bolsonaro)”, afirma trecho da carta, que completa:
“O Sr. Weintraub busca oferecer ‘evidências científicas’ para atestar que a hidroxicloroquina é um tratamento eficaz contra Covid-19; e afirma que as múltiplas mutações do vírus são uma indicação clara de que ele foi fabricado em laboratório. Ambas as questões foram desacreditadas pela comunidade científica”.
O grupo dos funcionários também alega que Weintraub fere o código de conduta da instituição ao usar suas redes sociais para atacar politicamente inimigos políticos, em especial João Doria, governador de São Paulo. A atuação dele mostraria um conflito de interesse.
“O Sr. Weintraub parece estar fazendo campanha para um cargo político no Brasil ao mesmo tempo em que é funcionário do Grupo Banco Mundial. De fato, foi noticiado dia 19 de fevereiro, em rodada de imprensa em nosso próprio site, cuja primeira linha é: ‘Ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub se lançou como candidato ao governo de São Paulo, diretamente de Washington, Estados Unidos, onde atua como diretor do Banco Mundial”, afirma a carta.
Em 28 de dezembro, o colunista Ancelmo Gois publicou uma nota indicando que a conduta do diretor estava incomodando os funcionários da instituição, em especial os brasileiros. A postura do ex-ministro de críticas políticas e divulgação de dados considerados fake news ficaram mais comuns no segundo semestre do ano passado, após ele ter sido reconduzido por mais dois anos no cargo.
“Weintraub tem sido criticado nos corredores do banco pelos comentários dele em rede social sobre a política interna de outros países que são membros do banco. É criticado também por comentários contra o governador João Doria, a quem chama de “docinho”, e por insinuações de que Doria usaria “Botox”, afirmou o colunista, na época.