Gabriel Monteiro fatura R$ 300 mil por mês só com vídeos no Youtube, revela assessor de vereador do Rio
Servidores e ex-funcionários do parlamentar disseram à polícia que, mesmo lotados na Câmara, trabalhavam produzindo vídeos na casa dele
Ouvidos pela 42ª DP (Recreio) na última terça-feira, seis servidores ou ex-funcionários do vereador do Rio, youtuber e ex-PM Gabriel Monteiro (PL) afirmaram que, embora fossem lotados na Câmara como assessores parlamentares, tinham como base de trabalho a residência de Monteiro, na Barra da Tijuca, chamada por eles de “QG”. No local, o grupo atuava produzindo vídeos para os canais e perfis do vereador em redes como Tiktok, Youtube, Twitter, Instagram e Facebook. Um dos ex-funcionários do parlamentar revelou aos agentes que ele chega a faturar R$ 300 mil por mês só com as postagens feitas no Youtube. O Ministério Público do Rio (MP-RJ) abriu um inquérito para apurar se o político cometeu improbidade administrativa ao usar o dinheiro público em benefício particular. Desde que as primeiras denúncias de irregularidades e possíveis crimes começaram a surgir, Gabriel Monteiro vem repetidamente negando todas as acusações.
O cinegrafista Fábio Neder Fernandes Di Leta, de 39 anos, relatou à polícia que era fã de Monteiro e começou a trabalhar com o parlamentar numa casa em Camboinhas, bairro de Niterói, antes da mudança para um condomínio na Barra. Ele destacou que a atual residência do vereador é onde ficam “todos os funcionários” que produzem os vídeos para o canal de Gabriel.
Neder contou também que “ficava todo dia até tarde na casa do então chefe” e que “aos finais de semana passava as madrugadas nas noitadas com Gabriel, até às 6h, 7h da manhã”. Ele ressaltou que muitos dos funcionários até dormiam na casa do político, por conta da quantidade de material que era produzido.
No domingo, 27 de março, quando o “Fantástico”, da TV Globo, revelou que funcionários produziam materiais para as redes sociais do político, Monteiro chegou a afirmar que tinha um contrato à parte com os servidores, e que pagava esses serviços por fora. Todos eles negam.
Além de Fábio Neder, prestou depoimento na 42ª DP o editor de vídeo Mateus Souza de Oliveira, de 21 anos. Ele afirmou aos investigadores que foi lotado no gabinete de Monteiro, mas “nunca trabalhou fisicamente na Câmara dos Vereadores”. O rapaz informou que “exercia suas funções na sua casa, ou seja, na casa de Gabriel”, onde também morava. Já Robson Coutinho da Silva, de 44 anos, que era cinegrafista de Monteiro, também confirmou à 42ª DP que a “casa de Gabriel Monteiro, no Condomínio Mansões, é a base de trabalho”.
Na última sexta-feira, a 3ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Cidadania da Capital instaurou um inquérito para saber se o vereador usava servidores lotados na Câmara dos Vereadores do Rio, que recebiam dos cofres públicos, para trabalhar na produção de vídeos para as redes sociais. Além disso, o MP-RJ vai cobrar explicações da Câmara Municipal do Rio sobre como é feita a escolta do parlamentar. Ele usa policiais militares com fuzis.
— O uso da máquina pública para fins que não estão de acordo com o exercício do mandato parlamentar pode gerar a instauração de inquérito e a apreciação por ato de improbidade administrativa. A princípio não se pode dizer se houve ou não a improbidade administrativa. Isso precisa ser investigado — disse o promotor Alberto Flores, da 3ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Cidadania da Capital.
Alberto Flores destacou ainda que “causou muita estranheza ao Ministério Público a forma como foi feito o vídeo que o vereador produziu em uma comunidade (de Quintino, no ano passado)”. Na ocasião, a equipe do parlamentar gravou imagens em meio a um suposto tiroteio.
— Não parece razoável que o erário pague uma escolta para que a pessoa possa se colocar em risco. A menos que a pessoa ou não acredite no risco ou não esteja analisando o risco de maneira correta — afirmou o promotor.
As denúncias contra Gabriel Monteiro tiveram início com reportagens do “Fantástico”, da TV Globo. Desde então, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio (MP-RJ) estão investigando casos envolvendo o parlamentar. As acusações são de abuso sexual, estupro e assédio sexual, entre outras.
Por conta desse cenário, Monteiro também viu ser aberto, esta semana, um processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio. A investigação, a depender das conclusões dos parlamentares, podem levar até mesmo à cassação de mandato.