CRIME

Ganhador da Mega-Sena morto em SP era pacato, dizem amigos

Enquanto a Polícia Civil de Hortolândia, a 110 km de São Paulo, tenta descobrir quem…

Enquanto a Polícia Civil de Hortolândia, a 110 km de São Paulo, tenta descobrir quem é o responsável pela morte do vencedor da Mega-Sena Jonas Lucas Alves Dias, 55, amigos e vizinhos buscam justiça e explicações para a morte do homem considerado tranquilo, que vivia de chinelo, sem ostentação.

Alves Dias foi o ganhador do prêmio de R$ 47,1 milhões da Mega-Sena em setembro de 2020. Naquela ocasião, outra aposta também levou o mesmo valor.

O homem foi mantido refém por pelo menos 20 horas, segundo a investigação policial, e foi abandonado com sinais de espancamento entre as rodovias dos Bandeirantes e SP-101, em Hortolândia, na última quarta (14).

No bairro onde Dias morava, o Jardim Rosolém, na periferia de Hortolândia, segundo amigos relataram, um ônibus disponibilizado pela família saiu por volta das 6h30 levando quem conhecia Dias para o velório, que aconteceu no Memorial do Grupo Serra, também na cidade.

Vizinha do vencedor da Mega-Sena, a dona de casa Maria de Fátima Silva, 53, não pôde ir ao velório, mas contou à reportagem que todos no bairro querem saber o que aconteceu.

“É verdade que todos sabiam que ele ganhou a loteria, mas ele era uma pessoa muito pacata, nunca fez mal a ninguém. Foi uma tristeza saber da morte”, lamenta.

Jonas Lucas não tinha pais vivos. Morava na casa com um irmão e uma irmã e nunca se casou. A residência existe desde antes do prêmio da loteria. A vítima nunca quis se mudar do bairro e nunca fez nada que demonstrasse que tinha muito dinheiro.

“Andava de chinelo, tranquilo. Sempre passava aqui, sempre atencioso com a gente. O assassino precisa ser encontrado”, disse o aposentado João Batista Alves.

Pelo relato de amigos, ele gostava de pescar, de jogar em máquinas caça-níquel (o que não é permitido pela legislação, por ser considerada uma contravenção) e tomar cerveja com amigos nos bares do bairro. Ele também gostava de uns goles de conhaque.

Conhecido como Luquinhas, por ser o mais novo dos irmãos, tinha quase dois metros de altura, porém uma simplicidade extrema, conforme os relatos feitos à Folha.

“Era pacato. Todo dia saía para caminhar. Às vezes, ia descalço mesmo. Não se importava com isso”, disse Ricardo Pereira, 43, morador do bairro, e que conhecia Jonas Lucas há muitos anos.

O corpo foi enterrado às 13h no Cemitério da Saudade de Sumaré, município vizinho. Os familiares não quiseram conversar com a imprensa.

Assim que ganhou o prêmio de R$ 47,1 milhões, em setembro de 2020, contam amigos, Dias deixou várias caixas de cerveja pagas para amigos em um dos bares do Jardim Rosolém, o que começou a levantar a suspeita de que ele havia sido o ganhador.

Pouco tempo depois, já era de conhecimento de todo o bairro. E, mesmo assim, ele nunca mudou os hábitos nem reforçou a segurança.

A casa foi reformada, mas sem luxo. Ainda segundo relatos de amigos, ele comprou uma Fiat Toro, um carro antigo e um jipe, ajudou os dois irmãos e um ex-chefe com dinheiro. Também comprou uma casa para o amigo.

Um pesqueiro na cidade de Conchal, próxima a Campinas, também foi adquirido por Dias, ainda conforme o relato de amigos. Transformado em um sítio, quase todos os finais de semana um grupo era levado por ele para o local.

Segundo a polícia, o dinheiro mesmo antes da morte dele já era administrado pelos irmãos. Dias tinha duas contas na Caixa Econômica Federal, uma delas em Monte Mor, município vizinho a Hortolândia — onde foram registradas duas transferências de R$ 1.000.

A Polícia Civil identificou quem recebeu uma transação via Pix feita da conta de Dias, no valor de R$ 18,6 mil. O nome não foi divulgado, segundo a corporação, para não atrapalhar as investigações.

O delegado-titular de Hortolândia, João Jorge Ferreira, disse que todo mundo no bairro sabia do prêmio da Mega-Sena, e que o motivo do crime foi o dinheiro.

“Todas as pessoas sabiam, não quanto, mas sabiam que ele tinha um numerário razoável”, afirmou.

O boletim de ocorrência foi registrado como extorsão seguida de morte, mas a polícia não descarta a possibilidade de latrocínio (roubo seguido de morte) ou até execução.

O caso não é considerado como sequestro, pois não houve pedido de resgate à família.