Garimpo e desmatamento sujaram água em Alter do Chão, conclui laudo
Um laudo pericial produzido pela Polícia Federal com base em imagens de satélite confirma que…
Um laudo pericial produzido pela Polícia Federal com base em imagens de satélite confirma que a mudança de cor da água de Alter do Chão, ponto turístico do Pará conhecido como Caribe da Amazônia, foi causada pela intensificação do garimpo ilegal no rio Tapajós e seus afluentes.
A PF realiza desde o início da semana uma operação contra o garimpo ilegal dentro da Área de Proteção Ambiental do Tapajós entre o rio Crepori e a terra indigena Mundukuru.
O perito responsável pelo caso analisou imagens coletadas de julho de 2021 a janeiro de 2022. Elas mostram a evolução dos sedimentos desde os rios em Mato Grosso e o “aumento drástico” na quantidade de sujeira ao passar pela região dos rios Crepori e Jamanxin, onde estão os alvos da PF.
A análise da perícia da PF mapeou como a “pluma de sedimentos” que turvou as águas teve origem ainda no estado de Mato Grosso no final de outubro e início de novembro de 2021. No entendimento dos técnicos da PF, ela tem como causa o desmatamento nas margens dos rios Juruena e São Manuel, que deságuam no Tapajós, para plantação de monocultura
“O desmatamento que ocorre nas margens dos rios citados favorece a lixiviação de material arenoso, argiloso e siltoso. Esses elementos são carreados até os corpos hídricos onde os sedimentos mais finos costumam ficar em suspensão por mais tempo percorrendo longas distâncias”, diz a PF.
Em 25 de novembro, a pluma de sedimento já estava em Itaituba e, entre 30 de novembro e 2 de dezembro, chegou às águas cristalinas de Alter do Chão.
“A pluma seguiu descendo o rio e se intensificou drasticamente com o aporte de mais sedimentos advindos, principalmente, dos rios Crepori e Jamanxim, no médio Tapajós”, diz o laudo.
A PF comparou imagens de afluentes do Tapajós onde não há atuação de garimpeiros e concluiu que eles “permanecem com suas águas mais escuras esverdeadas, indicando que não possuem sedimentos em suspensão”.
O laudo, embora não tenha analisado a água do rio, alerta também para uso de produtos químicos como mercúrio e o cianeto em garimpos como os da calha do Tapajós.
A reportagem acompanha a ação da PF contra os garimpos em Alter do Chão desde segunda (14).
Na terça (15), a bordo de um dos quatro helicópteros que dão apoio à operação, a equipe de reportagem avistou uma das primeiras clareiras abertas pelos garimpeiros.
Ao sobrevoar os buracos abertos na floresta o que se vê é uma mistura do pouco verde que sobra após a ação humana com a terra esbranquiçada devido à concentração de argila citada pelo perito no laudo.
A argila se amontoa ao lado de crateras cheias de água que foram abertas com jatos de água e escavadeiras.
São esses sedimentos de cor clara que, levados pela correnteza até a região de Alter do Chão, inviabilizam a exploração turística das águas cristalinas da cidade.
“Tais sedimentos tendem a causar assoreamento e o aumento da turbidez da água, afetando fortemente a fauna e ictiofauna. Há também impactos relacionados ao uso de produtos químicos tóxicos, como o mercúrio, óleos lubrificantes e combustíveis, que poluem os rios e as APPs, causando danos diversos à saúde humana e animal”, diz o documento.
Nos garimpos, entre os itens mais procurados pelas autoridades estão as escavadeiras, utilizadas para derrubar a mata e abrir os pontos de garimpo.
Em um desses locais, a cerca de 15 minutos de helicóptero da base em Jacareacanga, onde as forças de segurança estão acampadas, os sinais eram de que os garimpeiros tinham saído havia pouco tempo. A suspeita dos policiais é que eles perceberam a movimentação das aeronaves.
No acampamento montado no meio do mato, a comida ainda estava quente no fogareiro utilizado pelos garimpeiros, e a água armazenada se mantinha gelada. Uma caminhonete e bombas de água foram queimadas ou inutilizadas com tiros pelos policiais.
Na terça (15), foram inutilizadas 8 escavadeiras, sendo 2 novas, 14 motobombas utilizadas na extração de minério, 3 acampamentos e uma balsa. Mais de 10 mil litros de combustíveis foram apreendidos.
Nesta quarta (16), novamente os policiais, divididos em cinco equipes, quatro em helicópteros e um em um barco, saíram da base de apoio no início da manhã.
Após o primeiro dia de investida contra os garimpos, a missão agora é seguir os rastros na floresta e tentar encontrar mais escavadeiras e balsas utilizadas pelos garimpeiros.