Gilberto Gil é xingado por torcedores brasileiros em estádio no Qatar
O cantor Gilberto Gil, 80, e a empresária Flora Gil, 62, foram hostilizados por torcedores…
O cantor Gilberto Gil, 80, e a empresária Flora Gil, 62, foram hostilizados por torcedores brasileiros no Qatar, no momento em que caminhavam em um corredor para assistir a partida entre Brasil e Sérvia (2 a 0) no estádio Lusail, na quinta-feira (24).
Em postagens de protesto contra a atitude dos torcedores que ofenderam o casal, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) compartilharam o vídeo mostrando o momento e pediram que os responsáveis sejam identificados e punidos.
“Vamo, Lei Rouanet”, gritou um dos homens. Ele estava com um copo na mão, vestido com a camisa da seleção e usava um chapéu verde e amarelo estilizado no momento em que Gil e Flora caminhavam em direção ao estádio. O casal estava acompanhado da empresária Lilibeth Monteiro de Carvalho.
Após ouvir a provocação, Gil, Flora e Lilibeth pararam por alguns segundos e depois seguiram caminhando. No vídeo, é possível ouvir vozes mencionando o nome do presidente Jair Bolsonaro (PL) e falando palavrões em direção ao cantor, que não reagiu.
Também vestido com a camisa da seleção, outro torcedor abordou Gil e fez uma selfie enquanto o grupo ouvia as ofensas.
Além de Flora e Lilibeth, Gil foi para o Qatar para assistir jogos da Copa acompanhado dos netos Francisco Gil e João Gil. Neste sábado (26), eles viram a vitória da Argentina contra o México por 2 a 0.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que já recebeu ameaças pelas redes sociais, prestou solidariedade a Gil e chamou os torcedores que o hostilizaram de criminosos.
“Um artista de 80 anos sendo vítima de golpistas. Vamos denunciar e cobrar punições da Fifa. Já passou da hora dessa gente ir para o lugar que merece: cadeia”, disse.
Criminosos hostilizaram @gilbertogil , a quem presto toda a minha solidariedade. Um artista de 80 anos sendo vítima de golpistas. Vamos denunciar e cobrar punições da FIFA. Já passou da hora dessa gente ir para o lugar que merece: CADEIA! pic.twitter.com/ONu5zwaW94
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) November 27, 2022
O deputado federal André Janones (Avante-MG) também compartilhou o vídeo e afirmou que a nova onda da extrema direita é cometer crimes.
“É terrorismo, ameaça, injúria. O crime foi filmado, aparentemente o bandido se orgulha do que fez com Gilberto Gil (80 anos de idade), a quem presto toda a minha solidariedade”.
Gil e Flora não comentaram os ataques. Nas redes sociais, artistas como a atriz Leandra Leal e o ator e escritor Ivam Cabral prestaram solidariedade.
“Uma das coisas que mais me deixa feliz em ser brasileira é ser do mesmo país que Gilberto Gil”, escreveu Leandra. “Gil é um gênio, um dos maiores artistas, ativistas, um ser iluminado”.
“Gilberto Gil é um dos artistas mais incríveis do planeta. Seu legado é de uma grandeza extraordinária. Esse cidadão que o ofendeu certamente está na categoria dos deploráveis e deve ser muito infeliz porque não tem poesia em sua vida”, opinou Cabral.
Caetano Veloso, parceiro e amigo de Gil, escreveu que o artista foi injuriado por bolsonaristas. “Quero prestar solidariedade ao gênio Gil e dizer que nós, os artistas, assim como a verdadeira sociedade, esperamos que os criminosos sejam punidos”.
A cantora Preta Gil pediu respeito ao pai e disse que a agressão verbal no Qatar foi assustadora. Ela escreveu que a família está acostumada a conviver e a respeitar as diferenças, sem ameaçar ou ser ameaçada.
“Eu realmente acho que nem todo eleitor do Bolsonaro seja a escória da humanidade, mas esse infelizmente é e o que fez com meu pai foi tão agressivo, tão nojento, tão violento que devemos sim nos revoltar”.
Já a cantora Daniela Mercury prometeu foto, abadá e ingresso para shows a quem revelar a identidade do homem que xingou Gil.
Ex-ministro da Cultura (2003-2008) no governo Lula, Gil apoiou a eleição do ex-presidente para o terceiro mandato.
Em entrevista ao jornal britânico “The Guardian”, em julho, quando estava em turnê musical na Europa, o cantor e compositor afirmou que a eleição de Bolsonaro em 2018 significou uma regressão para o Brasil.
“Mas o que esperar de uma pessoa que prefere abrir um clube de tiro a uma biblioteca? É uma visão de mundo retrógrada, reacionária, que não quer viver na agilidade do futuro e nos permanentes desafios que isso implica”, afirmou.