Frankfurt

Goiana presa na Alemanha já ficou em local com ‘fezes nas paredes’ e só tem acesso a ‘pão e almoço’

Segundo a advogada, Kátyna Baía está tendo problemas para tomar seus remédios com regularidade

Jeanne Paollini e Kátyna Baía em viagem em Paris, na França — Foto: Reprodução/Redes sociais

Uma das goianas presas na Alemanha por suspeita de tráfico internacional de drogas, a personal trainer Kátyna Baía disse que, assim que foi presa quando chegou em Frankfurt, no começo de março, ficou em uma cela sem janela e com fezes nas paredes. A declaração foi dada em entrevista ao Fantástico. Agora, presa há mais de um mês em Frankfurt e com a sua inocência comprovada pela Polícia Federal, Kátyna está tendo problemas para tomar seus remédios com regularidade.

O período de Kátyna e de sua esposa, a médica veterinária Jeanne Paolini, como detentas da penitenciária alemã JVA Frankfurt III foi descrito pela advogada do casal goianiense como de solidão.

Segundo Luna Provázio, as duas descreveram as celas como “muito pequenas”, sendo todas individuais. Além disso, elas só têm acesso a pão e ao almoço. Caso queiram jantar, precisam pagar.

— Elas ficam presas cada uma em uma cela e não tem o suporte uma da outra, seja para dar apoio, ajudar a ter mais paciência, ou acolher quando uma está mais triste — diz a advogada, que tem sido um dos únicos contatos do casal com o Brasil — As duas só conseguem falar com as suas famílias muito raramente.

Uma das poucas oportunidades que o casal tem para se ver é no horário das refeições, que acontecem apenas duas vezes: no café da manhã e no almoço.

— Em relação a alimentação a gente pensa que o tratamento seria melhor, mais adequado, mas não. Elas falam que elas tem acesso ao mínimo: a pão e ao almoço. Se quiserem jantar, elas tem que pagar — relata a advogada, antes de apontar que, aos finais de semana, os horários são mais controlados — Elas falam que não existe uma rotina predeterminada. Quando é final de semana o esquema é mais restrito, com menos tempo de banho de sol e socialização entre as presas.

Ainda segundo a Provázio, ao chegarem na prisão, ambas tiveram todos os bens confiscados e ficaram os primeiros dias sem roupas adequadas para enfrentarem o frio alemão. Quando aterrissaram em Frankfurt, por exemplo, os termômetros variavam entre 4ºC e 6ºC.

— No início, eles não deixaram elas terem acesso a roupa de frio, mas com o passar dos dias isso mudou — diz Luna Provázio.

— Nós nunca convivemos nesse ambiente. No final de semana e feriado nós passamos cerca de dezesseis horas trancadas sem convívio social e o que me salvou aqui foi a fé. Dói muito ficar aqui todo dia. Eu acordo e penso: meu Deus, esse pesadelo ainda não acabou — desabafou Jeanne.

A barreira linguística tem sido outro problema no dia a dia do cárcere, já que são poucas as outras pessoas no presídio que também falam português, segundo a advogada. De Goiânia, a personal trainer e a veterinária estão juntas há 17 anos e pretendiam viajar por diferentes países europeus ao longo do mês de março.

Entenda o caso

Nesta quinta-feira, o Ministério da Justiça afirmou, por meio de nota, que “todas as informações” sobre as investigações da PF, que revelou o esquema de funcionários do Aeroporto Internacional de Guarulhos para trocar a bagagem das passageiras por malas com drogas, foram enviadas para a Justiça alemã. A documentação havia sido pedida pelas autoridades do país europeu para avaliarem a possibilidade de liberar Jeanne Paollini e Kátyna Baía.

— A Polícia Federal produziu as provas e as encaminhou para a Justiça alemã. Só que na audiência de custódia, tanto o juiz quanto o promotor falaram que da forma como foi feito não é o suficiente para eles — disse, nesta quarta-feira, a advogada que representa o casal, em um vídeo publicado em suas redes sociais.

De acordo com Luna, a PF havia enviado às autoridades alemães apenas fotos do inquérito e um relatório. O promotor e o juiz do caso em Frankfurt pediram para que, além dos vídeos, seja enviada a integra do inquérito traduzida para o alemão.

Nesta terça-feira, a Polícia Federal deflagrou uma operação, intitulada “Iraúna”, para combater a ação dos criminosos em trocas de bagagem. Seis pessoas foram presas por suspeita de envolvimento.

Durante a investigação, os agentes identificaram o grupo que enviou 40 quilos de cocaína para a Alemanha por meio da troca de bagagens das passageiras. A ação do bando consiste em retirar a etiqueta da bagagem despachada e colocar em outra, que está com as drogas.

Ao serem abordadas, as brasileiras disseram não saber a origem da cocaína em suas malas e alegaram que as bagagens não eram delas. Segundo o delegado Bruno Gama, “a PF conseguiu comprovar que aquelas passageiras são inocentes. Indicando quem seriam realmente os culpados do fato do crime ocorrido”.

— Infelizmente as duas irão permanecer presas preventivamente em Frankfurt até que essas provas cheguem nas mãos da Justiça alemã. Nosso apelo é pela urgência, que seja dada celeridade pelas autoridades daqui do Brasil — disse a advogada da dupla.