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Gol, Latam e Azul vão aumentar preço da passagem aérea neste mês

Conflito na Ucrânia, que fez disparar cotação do petróleo, deve barrar recuperação no turismo doméstico

Proposta que pode encerrar greve nos aeroportos entra em votação (Foto: Pixabay)

conflito na Ucrânia, responsável por disparar a cotação do petróleo em nível mundial, o que acabou elevando o preço dos combustíveis no Brasil, chegou às passagens aéreas.

Gol, Latam e Azul preparam aumento no valor das passagens aéreas ainda neste mês de março. A medida pega as companhias aéreas em um momento delicado, interrompendo o movimento de recuperação do turismo doméstico iniciado no último trimestre do ano passado.

As aéreas foram um dos setores mais impactados pela Covid-19, por causa das restrições sanitárias que impediram ou limitaram os deslocamentos, além da ampliação do home office, que fez desabar a demanda do mercado corporativo —viagens a negócio representavam um terço da receita das aéreas.

“Toda a indústria, não só a Latam, responde a esse tipo de crise com duas medidas: a primeira é um aumento das tarifas e, a segunda, uma redução da oferta. Uma em função da outra”, disse Jerome Cadier, presidente da Latam Brasil.

Segundo ele, o movimento de aumento das tarifas já vem desde o mês de janeiro, porque o ano começou com o petróleo mais alto, o que se acentuou nas duas últimas semanas por causa da guerra.

“A gente vai ver, sim, tarifas mais altas e isso vai desacelerar a recuperação do setor, que já vinha caminhando depois do impacto muito forte do ano passado, por causa da pandemia”, diz Cadier. “A gente agora posterga a recuperação completa da quantidade de voos”.

A empresa está ajustando a oferta, principalmente a partir do segundo trimestre. “Quanto às tarifas, ainda não temos de quanto vai ser o aumento, porque vai depender do patamar em que o preço do petróleo vai estacionar”.

Por volta das 14h30 desta sexta-feira (11), o barril do petróleo tipo Brent era cotado a US$ 112,11, em alta de 2,78%. Mas no último dia 6 chegou perto de US$ 140 o barril.

Nas palavras de um alto executivo do setor aéreo, ninguém sabe ainda quanto tempo a guerra vai durar e quanto tempo em que o petróleo vai ficar neste patamar, o que faz com que as previsões sejam voláteis.

Ainda há uma demanda de viagens de lazer reprimida, e o valor das tarifas não subiu significativamente até agora. Mas, segundo ele, o aumento no preço da tarifa é “inevitável”.

A concorrente Gol está em período de silêncio, porque divulga os resultados do quarto trimestre de 2021 na próxima segunda-feira (14). Mas a Folha apurou que a companhia pretende mexer no preço das tarifas ainda este mês, uma vez que considera “insustentável” operar nos atuais patamares da cotação do petróleo. E acredita que isso deve impactar a demanda.

Procurada, a Azul confirmou que a alta do petróleo deve afetar as tarifas aéreas ainda este mês. Por meio da sua assessoria de imprensa, a empresa argumentou que o impacto do conflito sobre o preço do petróleo também afetou fortemente o QAV (querosene de aviação).

Segundo a Azul, a situação atual é bem pior do que há 14 anos, quando o valor do barril do petróleo já tenha ultrapassado este patamar. “Naquela época o valor do dólar estava muito abaixo dos atuais R$ 5 era cotado abaixo de R$ 2. Essa matemática é bastante impactante para o setor aéreo, em especial para as empresas brasileiras, que têm diversos custos em dólar e um dos combustíveis mais caros do mundo”, afirmou, em nota.

Expansão das rotas é adiada

Em comunicado, a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) ressalta que a cotação perto de US$ 140 é a maior no país desde 2008. “Isso pressiona ainda mais o já elevado preço do QAV [querosene de aviação], que em 2021 alcançou seu maior patamar, acumulando alta de 76,2%, superando as variações do diesel (+56%), gasolina (+42,4%) e gás de cozinha (+36%)”, diz a associação, citando dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

“É importante destacar que historicamente o combustível responde por mais de um terço dos custos do setor, que por sua vez têm uma parcela superior a 50% indexada pelo dólar. Diante desse cenário, a Abear informa que o consequente encarecimento do QAV nos curto e médio prazos poderá frear a retomada da operação aérea e inviabilizar rotas com custos mais altos”, diz.

De acordo com a Latam Brasil, o lançamento de novos destinos que deveria ocorrer até junho foi postergado para o terceiro trimestre do ano, em função do alto preço do querosene da aviação.

São eles: Bauru (SP) Montes Claros (MG), Cascavel (PR), Caxias do Sul (RS), Juiz de Fora (MG) e Presidente Prudente (SP). O início das operações em Sinop (MT) segue previsto para maio.

Já a Azul afirmou, em nota, que “a continuidade desse cenário poderá adiar uma retomada mais vigorosa da oferta de voos no país, assim como a inclusão de novas cidades e novas rotas e frequências entre aeroportos que já contam com serviço aéreo.”

Segundo a Abear, o setor acumula prejuízo de R$ 37,4 bilhões, de 2016 até o terceiro trimestre de 2021, o que impacta o transporte de cargas e toda a cadeia do turismo. “A Abear defende que medidas emergenciais de contenção de preços que possam ser tomadas durante a vigência do conflito incluam o QAV, amenizando dessa forma a crise do setor”, afirmou.