Golpe de Estado: Diante de recusa de comandantes, Bolsonaro convocou chefe de operações terrestres

Relatório da Polícia Federal, demonstra que o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou driblar a resistência dos comandantes do Exército e da Aeronáutica

(Agência O Globo) A cronologia das tratativas para a deflagração de um golpe de estado no Brasil, descrita no relatório da Polícia Federal, demonstra que o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou driblar a resistência dos comandantes do Exército e da Aeronáutica convocando à ação o general que chefiava o comando de Operações Terrestres, Estevam Theophilo, que aceitou a missão.

De acordo com o relatório, Bolsonaro realizou uma reunião com os comandantes do Exército, Marinha e ao Ministro da Defesa no dia 7 de dezembro. Mas, como o comandante do Exército, general Freire Gomes, e o da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, se recusaram, Bolsonaro pessoalmente resolveu tentar outra alternativa.

“Diante da recusa dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica em aderirem ao intento golpista, o então presidente Jair Bolsonaro, no dia 09 de dezembro de 2022, reuniu-se com o General Estevam Theophilo, comandante do Coter, que que aceitou executar as ações a cargo do Exército, caso o presidente Jair Bolsonaro assinasse o decreto”, diz o documento.

Estevam Theophilo é um dos indiciados pela PF pela trama golpista. O Coter, porém, não tem tropas sob seu comando. Funciona como uma coordenação operacional dos comandos de área, mas não tem ascendência hierárquica sobre os outros generais.

Por isso, apesar de contar com o general que comandava o Coter, Bolsonaro não se animou nem a assinar o decreto e nem a seguir com o golpe. O próprio ex-presidente da República afirmou nesta segunda-feira (25) que “não existe golpe sem general”, e talvez por isso ele tenha esperado que interlocutores em comum tentassem convencer o comandante do Exército, Freire Gomes, a aderir.

Chegou-se ao ponto de que, no dia 15 de dezembro, a data prevista no plano para o golpe, o general Mario Fernandes encaminha para seu chefe direto, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, um áudio dizendo que Freire Gomes iria ao Palácio concordar com o golpe.

“Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar ordem”, diz o general Fernandes.

O que Fernandes previa, porém, não aconteceu. No mesmo dia em que Freire Gomes foi ao Palácio da Alvorada falar com o então presidente, também o visitaram recebeu no palácio da Alvorada a visita dos generais Walter Braga Netto e Mario Fernandes, além do então ministro da Justiça, Anderson Torres, e o assessor especial Filipe Martins.

De acordo com a PF, a recusa do Exército em participar do golpe “não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou. Com isso, a ação clandestina para prender ou executar o ministro Alexandre de Moraes foi abortada”.

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