TENSÃO

Governador do DF ameaça fechar divisa com Goiás

Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que um quarto dos pacientes internados em UTIs no Distrito Federal são oriundos da região do entorno. Caiado classificou a declaração como "estapafúrdia"

Em retorno ao DF, Ibaneis fala de reflexão, gratidão e elogia vice, a goianiense Celina Leão (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha (MDB) ameaçou fechar a divisa com o estado de Goiás caso não sejam criados leitos de UTI para o tratamento de Covid na região do entorno.  Ele afirmou que a situação está crítica e que o governado de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), precisa cuidar da população.

“A crise está tão dramática quanto no ano passado e é necessário agir. Preciso que o governador de Goiás cuide da nossa população. Senão, fecharemos a divisa”, disse Ibaneis.

De acordo com o gestor distrital, um quarto das internações em leitos de UTI do DF estão ocupados por pacientes oriundos de Goiás. Ele afirmou que não há estrutura hospitalar na região e que por isso, a obrigação de cuidar dos pacientes com Covid-19 acaba sendo transferida para ele.

“O Governo de Goiás está negligenciando seus pacientes. Sem leitos e hospitais, transfere a obrigação de cuidar de sua população a nós, do DF. Não me furto a essa missão, mas está chegando a um ponto em que a gente precisa chamar a atenção do governador”, disse Ibaneis.

Em resposta à fala de Ibaneis, Caiado publicou uma nota no final da tarde desta terça-feira (23) classificando a declaração como “estapafúrdia” e que ela causou “nojo e repúdio”.

“Diante de um momento tão delicado vivido por todos nós, onde a maioria dos governadores se dão as mãos para ajudar os que mais necessitam, causa repúdio e nojo ler uma declaração estapafúrdia do governador do DF, Ibaneis Rocha, de que vai fechar as fronteiras do DF com Goiás”.

Caiado afirmou ainda que não fez contas das pessoas que atendeu e nem seu local de origem. Ressaltou também que criou leitos em 12 macrorregiões, entre elas Luziânia e Formosa, e que sabe que a declaração de Ibaneis não condiz com o pensamento de quem mora em Brasília. “Essa declaração é de uma pequenez que rima com o seu próprio nome”. Confira a nota na íntegra no final da matéria.

Atrito

Este não foi o primeiro desentendimento entre os dois governadores sobre a questão. Em maio de 2020, Ibaneis afirmou que publicaria um documento para impedir o atendimento em suas unidades de saúde de pessoas que moravam em Goiás. A proibição do atendimento de pessoas do entorno visaria privilegiar os cidadãos residentes no DF.

O governador, contudo, não havia explicado a base legal para assegurar essa limitação, uma vez que a Constituição prevê no Artigo 194 “a universalidade da cobertura e do atendimento” da seguridade social, o que abrange a saúde. Na época, Caiado reagiu criticando a medida e pediu à União para resolver a situação e Ibaneis acabou recuando da medida.

Situação de calamidade

De acordo com a nota técnica emitida pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) no dia 16 de fevereiro, a região entorno sul, na qual estão incluídos sete municípios, está em estado de calamidade.

Recentemente, Caiado afirmou que 118 leitos para pacientes críticos foram criados recentemente no estado. Deste total, 10 deles estão em Luziânia, localizada na região entorno sul. O governo do estado anunciou ainda a criação de mais 50 leitos nesta semana, mas nenhum deles irá para a região citada.

Nota do governador Ronaldo Caiado em resposta à declaração do governador do DF, Ibaneis Rocha, que disse que iria fechar as fronteiras do DF aos goianos

Diante de um momento tão delicado vivido por todos nós, onde a maioria dos governadores se dão as mãos para ajudar os que mais necessitam, causa repúdio e nojo ler uma declaração estapafúrdia do governador do DF, Ibaneis Rocha, de que vai fechar as fronteiras do DF com Goiás. Evidencia a sua falta de empatia e respeito pela vida. Como governador, nunca fiz contas de quantas pessoas já atendi nem o seu local de origem. Eu defendo a vida, acima de tudo! Já cedi medicamentos ao Amapá, recebi pacientes manauaras, atendi pacientes do DF nos hospitais de campanha que montamos em Luziânia e em Formosa com o mesmo respeito que temos pelas vidas dos goianos. Recebi um estado com apenas três cidades com leitos de UTI públicos: Goiânia, Anápolis, Aparecida. Mas criei novos leitos em 12 macrorregiões, entre elas Luziânia e Formosa. Sei que a declaração do governador Ibaneis não condiz com o pensamento de quem mora em Brasília. Essa declaração é de uma pequenez que rima com o seu próprio nome.