Grupo de caminhoneiros tenta se reunir em Brasília para reavaliar força
Em vídeos replicados em aplicativos de celular, um dos líderes do movimento pede que motoristas se desloquem até o estádio Mané Garrincha
Em um último movimento para tentar ressuscitar a paralisação dos caminhoneiros, o grupo liderado pelo motorista Wallace Landim, o “Chorão”, de Catalão (GO), quer reunir manifestantes em Brasília no domingo (3) para avaliar se tem condições de uma nova paralisação.
Em vídeos replicados em aplicativos de celular, “Chorão” pede que os motoristas se desloquem até o estádio Mané Garrincha, na capital federal. “A concentração vai ser domingo no [estádio] Mané Garrincha para segunda-feira a gente conseguir montar uma comissão, com um representante de cada estado, para a gente pleitear uma conversa com o governo”, disse “Chorão” em um vídeo gravado nesta sexta-feira.
“Segunda-feira, se não tiver uma conversa com o governo, nós, toda a categoria, vamos decidir o que vai ser. Se toda a categoria decidir que segunda-feira à zero hora para terça, a gente paralisa, a gente vai paralisar de novo.”
Quando esteve em Brasília, na semana passada, “Chorão” não conseguiu manter audiências com integrantes do palácio do Planalto, que dessa forma procuram não reconhecer formalmente sua liderança, esvaziando seu papel na paralisação.
A liderança de “Chorão” também passou a ser questionada por vários caminhoneiros depois que ele pediu, em um vídeo na quarta-feira (30), o fim dos protestos e bloqueios nas estradas.
O caminhoneiro Edson Alves da Silva, 40, chegou ao estádio na tarde da quinta-feira. Ele participa de vários grupos de aplicativos de celular e disse ter 1,5 mil colegas caminhoneiros como amigos em uma rede social. “Recebi a informação de vários grupos de que era para vir para Brasília, por isso eu vim. Virá mais gente com certeza.”
Silva também tinha entregas de embalagens plásticas para fazer Distrito Federal. Ele é de Timbó (SC) e está há 15 dias na estrada. Até a quarta-feira passada (30) participava de um bloqueio com cerca de 300 caminhões na rodovia BR-153, próximo a Aparecida de Goiânia (GO), que segundo ele foi dispersado “pelo Exército na base da pancada”.
Caminhoneiro há 12 anos, Silva disse que trabalha na estrada, em média, 25 dias por mês. Quando tem muita demanda, segundo ele, consegue salvar cerca de R$ 100 por dia no máximo, devido aos altos custos do combustível e da manutenção do veículo. A renda também é usada para a criação de suas duas filhas.
O motorista diz que a concentração em Brasília terá como pautas a redução do valor dos combustíveis, incluindo gasolina e gás de cozinha, a instituição de uma tabela nacional de fretes e a redução do valor dos pedágios nas rodovias. Silva reconheceu que a adesão ao movimento caiu bastante.
“Nós estamos nos últimos suspiros”, disse Silva. Ele atribui o fim da paralisação a três fatores: a falta de apoio da população, “que foi abastecer seus carros”, a “mídia, que em nenhum momento defendeu a gente”, e a mistura dos caminhoneiros com outros grupos de manifestantes, que passaram a defender “intervenção militar”, eufemismo para golpe militar.
O motorista disse que não defende a “intervenção” nem a saída de Temer. “Nosso problema é o caminhão. Não quero intervenção. As pessoas não tem noção do que é isso. Eu fiquei sabendo que o [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso fez um acordo com a ONU de que só haveria intervenção militar se 30% do povo brasileiro fosse às ruas. Isso dá 60 milhões de pessoas. Onde que que vai se reunir tanta gente?”
Silva disse que não é filiado a nenhum partido político, não vota para nenhum candidato “há cinco eleições” e também “nunca mais vai votar”.
O caminhoneiro Marcos Napoli, 44, de Brasília, disse que está dando apoio aos colegas que estão vindo de outros Estados para o estádio. “A ideia é estar todo mundo aqui no domingo, se apoiando e se juntando. Aí nós vamos ver o que vai acontecer”, disse o caminhoneiro, que também critica a entrada de outras bandeiras políticas no movimento dos motoristas.
“A nossa questão é o caminhão. A minha reivindicação é o caminhão”, disse Napoli, que afirmou passar um dia em casa a cada 15 dias na estrada com transporte de mercadorias. Pai de três filhos, Napoli disse que, quando é um “mês bom”, consegue ter uma remuneração de somente “uns R$ 2 mil por mês”.
Ele afirmou que o apoio prestado pelo governo aos caminhoneiros, nas estradas, “é uma calamidade”. “O valor do pedágio é absurdo, tinha que cair uns 50%. O senhor tem que ver as condições da estrada, um absurdo, a carreta minha chegou a quebrar na solda por causa da pavimentação, que está afundada. Não tem pátios para descanso, não tem local para passar a noite com a família na viagem”, listou Napoli.