Silêncio

Guedes orienta equipe econômica a manter silêncio sobre Renda Brasil

Paulo Guedes orienta técnicos do ministério que evitem falar do Renda Brasil mesmo em caráter reservado

Sob ameaça de 'cartão vermelho', equipe econômica adota estratégia do silêncio (Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo )

A crise interna no governo causada pela proposta da equipe econômica de congelar aposentadorias e pensões para criar o Renda Brasil fez o ministro da Economia, Paulo Guedes, orientar seus auxiliares a não falarem mais sobre o programa social. Na terça-feira (15), técnicos evitaram tocar no assunto até em caráter reservado.

O silêncio no Ministério da Economia foi notado principalmente pela ausência do secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, em uma entrevista coletiva sobre projeções econômicas que havia sido marcada na véspera. O compromisso estava na agenda oficial do secretário.

Rodrigues é apontado como alvo do “cartão vermelho” apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro por ter concedidos entrevistas no domingo defendendo o congelamento dos benefícios previdenciários. Dessa forma, não cumpriu o acordo de só tratar de propostas após as ideias serem debatidas internamente no governo.

A estratégia foi combinada após Bolsonaro ter conseguido formar uma base de apoio no Congresso. O objetivo é não confundir propostas em debate apenas na equipe econômica com os planos do governo, composto por outras áreas.

Presidente parceiro

Procurado desde segunda-feira (14) pelo GLOBO, Waldery não respondeu aos pedidos de entrevista. O mesmo ocorreu com outros técnicos. Duas fontes afirmaram, mesmo em caráter reservado, que a equipe não comentará mais propostas envolvendo o novo programa social e cortes de gastos.

Ontem, durante uma entrevista coletiva, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, resumiu o posicionamento dos técnicos em relação à medida, quando perguntado por jornalistas sobre as críticas feitas por Bolsonaro.

— O presidente da República já se manifestou sobre o assunto e não cabe a mim tecer novos comentário — afirmou Sachsida.

Para ele, as discussões não podem ser feitas em público:

— O presidente é um parceiro na agenda de reformas pró-mercado. Nós fomos eleitos com essa pauta. Você olha o grande apoio que o ministro Paulo Guedes tem nessa pauta e nós estamos avançando. O que me parece que o presidente Bolsonaro coloca corretamente é que as discussões não podem ser públicas. Você não pode ficar lançando ideias publicamente — disse.

A fala do presidente fez com que a saída de Rodrigues do governo fosse considerada uma possibilidade, mas esse risco foi reduzido após uma reunião entre o secretário e o presidente.

O auxiliar de Guedes já vinha sendo alvo de fogo amigo da ala desenvolvimentista, que defende a ampliação de gastos. Waldery é um defensor do ajuste fiscal.

Essa não é a primeira vez que desentendimentos entre os planos da equipe de Guedes e o posicionamento de Bolsonaro geram ruídos.

‘Ruídos da democracia’

No ano passado, a defesa pública da criação de um imposto sobre transações financeiras nos moldes da antiga CPMF causou a demissão do então secretário especial da Receita Federal Marcos Cintra. Nos meses seguintes, integrantes da equipe econômica evitaram comentar o assunto.

Apesar do receio de técnicos em comentar as medidas, o próprio Guedes afirmou na terça-feira que as divergências fazem parte do “barulho da democracia”. Mas criticou o que considera uma interpretação errada das propostas do governo.

— A democracia é barulhenta, então faz aquele barulho todo. Mas não prestem atenção no barulho, prestem atenção no sinal. O sinal é: as reformas estão progredindo, a economia está voltando.