Haddad vai a almoço com banqueiros e ouve pedido de ‘previsibilidade’
Cotado para ministro da Fazenda, petista representou o presidente eleito, em meio a trava nas negociações para manter gastos fora do teto em 2023
Ao lado de presidentes dos grandes bancos brasileiros, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, cotado para ministro da Fazenda do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, ouviu pedidos de cuidado com as contas públicas e mais previsibilidade econômica.
Haddad representou Lula em evento de confraternização de final de ano promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Foi recebido pelo presidente do Bradesco, Octávio de Lazari Junior, e pelo presidente da Febraban, Isaac Sidney.
À mesa com ele estavam o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, do Santander Brasil, Mário Leão, do BTG Pactual, André Esteves, e da Caixa, Daniella Marques. Presidente do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro não estava no evento.
Entre os planos do PT está formar uma dobradinha entre Fernando Haddad e Persio Arida no comando da área econômica, de forma a manter o partido no comando de decisões estratégicas –mas abrindo espaço para a influência de um economista liberal na formulação de políticas públicas.
A dupla indicação colocaria Haddad no comando do Ministério da Fazenda, que concentra importantes decisões de política econômica, enquanto Persio assumiria a pasta do Planejamento, que deve ficar com o Orçamento e também com as discussões de reforma do Estado.
Haddad já vinha mantendo conversas com representantes do mercado financeiro. A presença do petista no evento tem sido encarada como uma espécie de teste do ex-ministro, que já assumiu a dianteira nas bolsas de apostas de quem será o chefe da equipe econômica de Lula. Ele participa como representante do presidente eleito, que se recupera de um procedimento médico.
Pauta dos bancos não se liga a ideologias, diz Febraban
Ao discursar na abertura do evento, o presidente da Febraban afirmou que, “independentemente do governo que sai e do novo que chegará em breve, nossa obsessão será perseverar na direção de os bancos funcionarem como alavanca para o crescimento sustentável. A pauta do setor não está vinculada a ideologias dos nossos governantes; vamos contribuir com a institucionalidade e a governabilidade do país”.
Sidney afirmou ainda que, “mais do que nunca, é preciso olhar para frente” e que é preciso reagir ao imobilismo de um país que tem se contentado com pouco crescimento.
Segundo Isaac, é preciso encontrar, com equilíbrio das contas, os meios para ampliar os investimentos públicos e expandir, consideravelmente, a capacidade de atração do capital privado, “que está disponível e ávido para atracar aqui.”
Ele afirmou ainda que “o Brasil precisa voltar a ter previsibilidade”. Para o capital privado aportar recursos em empreendimentos de longo prazo são necessários estabilidade macroeconômica, funding de longo prazo e um crescimento sustentável, afirmou o executivo.
“As regras do jogo precisam ser estabelecidas numa perspectiva de longo prazo. O investimento não dialoga com surpresas institucionais, instabilidade, confrontos e ruídos políticos, falta de previsibilidade e de segurança jurídica.”
Petistas ainda espera resposta de Persio sobre integrar governo
Se acertar as nomeações de Haddad e Persio, a intenção do partido é anunciar os dois nomes ao mesmo tempo para evitar uma reação negativa do mercado, que tem resistências a Haddad e tende a ser mais receptivo com a eventual nomeação de Persio –que, no entanto, ainda hesita em aceitar um cargo no governo.
Apesar da torcida, a dúvida de petistas sobre um “sim” de Persio —membro do conselho editorial da Folha, ex-presidente do Banco Central e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), além de ser um dos “pais” do Plano Real— faz com que integrantes mantenham apostas também em nomes técnicos dentro do próprio PT.