Homem morre no Morro da Providência e corpo demora 30 horas para ser removido
Um homem de 48 anos morreu na noite do último domingo dentro de uma casa…
Um homem de 48 anos morreu na noite do último domingo dentro de uma casa no Morro da Providência, no Centro do Rio. Moradores da comunidade afirmam que José do Nascimento Félix. estava com suspeitas da Covid-19 e seu corpo demorou 30 horas para ser removido. A retirada só foi possível após vizinhos de Félix, que trabalhava tomando conta de uma casa na Providência, conseguirem localizar um de seus filhos, que não mora na comunidade. Foi o rapaz quem conseguiu providenciar o sepultamento.
De acordo com o produtor cultural e morador da Providência, Hugo Oliveira, Félix vinha apresentando os sintomas da Covid-19, como febre e tosse. Além disso, ele foi diagnosticado no último dia 5 com pneumonia na Coordenação Emergencial Regional do Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio. Após ter sido medicado, ele recebeu alta para se tratar em casa. Questionada, a secretaria municipal de Saúde não informou se realizou o teste em Félix para saber se ele havia sido contaminado pelo novo coronavírus.
Na noite de domingo, Félix passou mal e osvizinhos acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Quando o socorro chegou ao local, o homem já havia morrido. Um médico do SAMU atestou a morte de Félix, mas a equipe não fez a retirada do cadáver. Nessa segunda-feira, os vizinhos do homem pediram auxílio a policiais militares e foram à 4ª DP (Presidente Vargas) solicitar auxílio para a retirada do corpo. Na delegacia, foram informados de que a polícia só atua nos casos de morte violenta. Os vizinhos então conseguiram contato com o filho de Félix, que providenciou a retirada do corpo por uma funerária. Ele morreu por volta das 20h de domingo e o corpo foi retirado no início da madrugada desta terça-feira.
O atestado de óbito do SAMU, ao qual o GLOBO teve acesso, informa que não foi possível determinar a causa da morte de Félix. Hugo Oliveira afirma que os moradores da Providência estão preocupados por causa das suspeitas de que Félix tenha sido vítima da Covid-19.
– Estamos com muito medo porque pessoas tiveram contato com ele aqui. Queríamos algum parecer. Não sabemos se é suficiente uma higienização do local que ele ficou apenas com limpeza do local com produtos que temos aqui – explica o produtor cultural.
Outro lado
Procurada, a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros informou que não se trata de uma decisão da Defesa Civil do estado ou do Corpo de Bombeiros remover ou não um corpo, uma vez que o Instituto Médico Legal (IML) só aceita a entrada de um cadáver mediante a apresentação de uma guia de recolhimento que é emitida pela Delegacia de Polícia. Ainda segundo a nota, nesse caso a guia não foi emitida.
Questionada se diante de um caso suspeito de Covid-19, a morte de José Nascimento do Félix, o médico do Samu havia notificado a “equipe de vigilância em saúde”, conforme protocolo do Ministério da Saúde, a assessoria de imprensa dos Bombeiros informou que a informação deveria ser buscada junto à secretaria estadual de Saúde, já que a mesma passou a gerenciar o SAMU. A secretaria estadual de Saúde do Rio não respondeu a nenhum dos questionamentos feitos pelo GLOBO.
Já a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que cabe ao IML a investigação das causas de mortes decorrentes de fatores externos, como homicídios, lesão corporal seguida de morte, roubo com resultado morte (latrocínio), entre outras. “O IML não tem como objetivo o diagnóstico de doenças causadoras de óbitos, que é feito por serviços de patologista e não forense, como estabelecido no Código de Processo Penal e Resolução 300 do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). Dessa forma, o IML não tem no seu escopo análise de mortes de pessoas por doenças, uma vez que o objetivo do instituto é auxiliar a solução de crimes e não diagnóstico de doenças. Cabe às secretarias de saúde o diagnóstico de doenças, assim como as notificações aos órgãos responsáveis”, diz a nota da Polícia Civil.
O protocolo do Ministério da Saúde, além de determinar a notificação das equipes de vigilância em saúde para a investigação da morte suspeita, também determina que nas morte em casa, nos casos de diagnóstico positivo para a Covid-19 e suspeita da doença, a retirada do corpo deverá ser feita por “equipe de saúde”. O GLOBO questionou o ministério sobre o que se enquadraria nesse conceito de “equipes de saúde”, mas não houve resposta.