RACISMO

Igreja cancela missa afro pelo Dia da Consciência Negra após ameaças

Fiéis alegam que grupo religioso tradicionalista pressionou Arquidiocese do Rio para proibir celebração que ocorre há 16 anos

A tradicional missa em homenagem ao Dia da Consciência Negra, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Glória, na Zona Sul do Rio, foi cancelada este ano. No ano passado, a celebração terminou em confusão ao ser invadida por um grupo religioso tradicionalista. Fiéis atribuem o cancelamento a uma ordem da Arquidiocese do Rio, comunicada nesta quinta-feira (19), após reunião dos bispos. A Arquidiocese ainda não respondeu sobre o assunto.

— A Arquidiocese, através de seus bispos, mandou recado proibindo a missa da Consciência Negra na nossa igreja. Estamos proibidos de fazer missa aculturada, principalmente a da Consciência Negra. Por isso, não terá missa amanhã (sexta-feira, 20), na igreja, em total desrespeito à comunidade que não foi ouvida e às instituições que abraçam a causa negra — afirmou Maurício Rodrigues dos Santos, membro da Pastoral da Comunicação da Paróquia do Sagrado Coração.

Segundo Maurício, que postou vídeo nas redes sociais reclamando do cancelamento da missa, a proibição dos bispos teria ocorrido após forte campanha nas redes sociais lançada pelo Centro Dom Bosco, instituição que defende a liturgia e respeito às tradições da Igreja Católica. O padre Wanderson Guedes, que celebraria a missa afro, não foi localizado para comentar o cancelamento.

— Este ano, eles disseram que, se fizéssemos a missa, colocariam carros de som na porta da igreja e ficariam rezando alto para atrapalhar. E também foram pedir a Arquidiocese do Rio que impedisse a missa e, por incrível que pareça, conseguiram — lamentou Maurício.

O Centro Dom Bosco foi procurado, mas até o fechamento desta reportagem não havia enviado uma resposta sobre o pedido para cancelamento da missa afro.

— Venceu a intolerância, o racismo e a ignorância. A Igreja do Sagrado Coração de Jesus realizava a missa da Consciência Negra há 16 anos. Eles venceram a primeira batalha, mas não ganharam a guerra. Preciso do apoio de todos para que se indignem com esta atitude — convocou Maurício.

Quase um ano depois da confusão da missa afro na Glória, porém, a Polícia Civil anunciou o indiciamento de cinco homens por intolerância religiosa e alguns por racismo. Eles são acusados de terem tentado impedir a realização do culto em 20 de novembro de 2019.