Disposta a impedir adesão de seus seguidores a candidatos alinhados à esquerda, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) pretende criar uma comissão interna para definir regras gerais a serem repassadas aos seus pastores. A ideia é que os fiéis sejam orientados a se afastar do “comunismo” e daquilo que os líderes classificam como “nefasta influência do pensamento de esquerda”. A igreja abriu os púlpitos para a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL).
A proposta, compartilhada por evangélicos nas redes sociais, será tratada no Supremo Concílio da igreja entre os dias 24 e 31 de julho, em Cuiabá. A cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil é majoritariamente conservadora e alinhada ao governo federal.
O ex-ministro da Educação MiltonRibeiro é um dos líderes da igreja. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, indicado por Bolsonaro, também é da mesma instituição.
Os líderes da igreja sugerem a criação de uma comissão formada por altos dirigentes “que apresente a contradição entre Marxismo e suas variantes com o Cristianismo Bíblico” e “que essas pastorais orientem os declarados ‘cristãos de esquerda ou progressistas’ de suas inconsistências.”
O documento precisa ser aprovado na reunião em Cuiabá para se tornar um posicionamento oficial da instituição. Nos bastidores, a proposta é apontada como uma pressão contra fiéis críticos de Bolsonaro e eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não seriam mais bem-vindos no reduto presbiteriano.
O relator da proposta é o reverendo Osni Ferreira, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina (PR). No último dia 3, ele usou o púlpito da igreja para pedir apoio à reeleição de Bolsonaro.
”Nós temos que reeleger Bolsonaro. Irmãos, não tem outro caminho para o Brasil. Olha a América do Sul inteira…”, disse Ferreira no culto.
A comissão “anti-esquerda” deve ter como relator o reverendo Alfredo Ferreira de Souza, da Primeira Igreja Presbiteriana de Roraima, autor de estudos sobre “as raízes satânicas do comunismo”.
Nos últimos meses, Bolsonaro esteve ao lado de líderes religiosos, participou de cultos e subiu em trios elétricos da Marcha para Jesus em capitais como São Paulo, Curitiba e Fortaleza. “Todo dia eu dobro os joelhos, me concentro, rezo um Pai Nosso e peço a Deus que vocês não experimentem as dores do comunismo”, disse Bolsonaro no último sábado, 16, no evento organizado por evangélicos em Fortaleza.
Fiéis ‘têm liberdade’
Após a divulgação que a igreja possui um relatório interno que recomenda orientar fiéis a se afastarem da esquerda, o presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil, Roberto Brasileiro Silva, afirmou que os pastores e membros da instituição têm liberdade para se posicionarem politicamente.
“A igreja não apoia este ou aquele candidato e não destoa deste ou daquele candidato. Nós damos liberdade aos nossos pastores e aos nossos membros nos seus posicionamentos políticos”, disse o reverendo ao Estadão.
Roberto evitou comentar o conteúdo do relatório, que fala em afastar os crentes do “comunismo” e da “nefasta influência do pensamento de esquerda”.
“Cada pastor é responsável por aquilo que ele fala, por aquilo que ele pronuncia, e responde ao seu conselho e também ao presbitério. Quando a igreja faz um posicionamento oficial é através da minha pessoa, e nós não fizemos nenhum pronunciamento”, afirmou Roberto.