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Imigrante haitiano é agredido por seguranças de frigorífico em SC

Empresa diz que abriu sindicância para investigar as circunstâncias do episódio e afastou os envolvidos

Empresa diz que abriu sindicância para investigar as circunstâncias do episódio e afastou os envolvidos (Foto: reprodução/ Folha de São Paulo)

O imigrante haitiano Djimy Coesmeus foi agredido por seguranças do frigorífico BRF em uma unidade da empresa em Chapecó (SC). O caso está sendo acompanhado por entidades que representam os trabalhadores do setor.

A empresa diz que abriu sindicância para investigar as circunstâncias do episódio e afastou os envolvidos. Imagens gravadas por empregados da companhia mostram três seguranças imobilizando Djimy, um deles com o joelho sobre as costas do trabalhador.

Djimy relata que estava no intervalo quando o supervisor o chamou para assinar advertência por não ter ido trabalhar, mas rebateu dizendo que havia cumprido o expediente. O haitiano recebeu então a ordem de ir para casa, mas se recusou, o que gerou a intervenção dos seguranças.

Um pouco hesitante ao falar por telefone, ele disse que está mal e que chegou a ficar sem ar. Djimy afirmou ter ido à polícia fazer um boletim de ocorrência e ter feito exames, além de estar em contato com um advogado.

Há seis meses no Brasil, o haitiano ainda não domina a língua portuguesa. Ele fala crioulo, língua oficial do Haiti, e um pouco de francês.

O sindicato dos trabalhadores da indústria de alimentos de Chapecó pediu para acompanhar a sindicância e planeja um ato esta semana. “Não dá para deixar passar isso”, diz o presidente da entidade, Jenir Ponciano. “A gente não quer esse tipo de agressão, trabalhador nenhum deve ser tratado dessa forma.”

Em nota, a BRF disse que os seguranças, de uma empresa terceirizada, foram substituídos. Djimy e seu supervisor foram afastados, sem perda de salário, enquanto durarem as investigações. A empresa afirmou ainda que representantes sindicais foram convidados para acompanhar as apurações.

“A BRF reforça o seu repúdio a toda e qualquer forma de violência e discriminação dentro e fora de suas instalações”, diz o texto enviado à Folha. “A companhia destaca ainda que possui um longo histórico de convivência com colaboradores de diferentes culturas e nacionalidades, sendo uma das maiores empregadoras de imigrantes e refugiados do país”.

O caso está sendo acompanhado também pelas confederações nacionais de trabalhadores do ramo, Contac e CNTA.

O presidente da CNTA, Artur Bueno, acusa os seguranças da empresa de abuso de poder e uso de “força desnecessária”.

“Além das lesões causadas pelo exagero da força, houve humilhações e constrangimento em frente a um grande número de colegas de trabalho, que também diziam para os seguranças pararem com a violência que estava sendo cometida”, diz a entidade que promete acompanhar o caso.

Bueno questiona ainda se mesmo tratamento seria dado a trabalhadores brasileiros. “Isso acende luz amarela em relação ao tratamento adequado [aos trabalhadores]”, diz ele. “Temos que ir a fundo em todas as empresas e saber se está havendo tratamento diferenciado em relação a trabalhadores estrangeiros.”

A indústria frigorífica foi a que mais contratou imigrantes no país em 2020, com 5.820 novos contratos para estrangeiros em unidades de abate de suínos e aves, segundo dados do Observatório das Migrações Internacionais, do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Com forte atividade agropecuária, Santa Catarina é um dos estados que mais gera empregos para imigrantes no país, segundo relatórios do órgão sobre o mercado de trabalho para estrangeiros.

Em 2020, os haitianos ocuparam a primeira posição entre os imigrantes contratados por empresas no Brasil, ocupando mais de 15 mil vagas. Eles ficaram atrás dos venezuelanos na lista dos que mais pediram reconhecimento da situação de refugiado no país, com 6.385 solicitações.