Imóveis de ex-deputado Valdevan Noventa são alvos de busca e apreensão
Ele é suspeito de usar sindicato de ônibus de São Paulo para receber propina; um dos mandados foi cumprido em cobertura avaliada em R$ 4 milhões
A Polícia Civil de São Paulo cumpriu na manhã desta quinta-feira (20) sete mandados de busca e apreensão em imóveis de Valdevan Noventa, ex-deputado federal (PL-SE) e ex-presidente do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (SindMotoristas). Uma cobertura avaliada em R$ 4 milhões, em Aracaju, capital de Sergipe, foi um dos locais de busca, além de um sítio e casas de praia no estado.
Segundo o delegado Roberto Monteiro, Valdevan é líder de uma organização criminosa que atuava há anos no SindMotoristas, praticando crimes como ameaça, extorsão, apropriação indébita, lavagem de dinheiro e ocultação de bens e capitais. Estima-se que, por ano, ele e outros diretores do sindicato desviaram pelo menos R$ 100 milhões.
Monteiro explica que as empresas de ônibus, para cumprir acordos trabalhistas, têm de fornecer alguns benefícios para funcionários, como planos de saúde e odontológico e cestas básicas. Como presidente do SindMotoristas, diz Monteiro, Valdevan exigia que os prestadores de serviços fossem indicados por ele, e recebia propina em troca.
— Caso as empresas não atendessem, eles paravam o atendimento do transporte público em São Paulo, através de piquetes em garagens ou até de greves maiores — afirmou Monteiro.
De acordo com o delegado, há suspeitas de que Valdevan seja parte da facção criminosa paulista ligada ao narcotráfico que controla os presídios brasileiros. As propriedades alvos de busca e apreensão na manhã de hoje estavam em nomes de laranjas, conduta típica da organização.
— Esse esquema, em última análise, está desviando dinheiro público. Porque as empresas de ônibus pagam esses benefícios com o subsídio dado pela Prefeitura de São Paulo ao transporte coletivo. Só neste ano, já concedeu 3,5 bilhões — disse o delegado.
Parte da segunda fase da Operação Chapelier, as buscas foram realizadas ainda nas cidades sergipanas de Umbaúba, Arauá e Estância, e também em Sorocaba, no interior de São Paulo.
Durante a operação, foram apreendidos dois cavalos de raça em um haras em Sorocaba e três automóveis em Sergipe, avaliados em R$ 700 mil.
Cassado
Em junho, Valdevan teve seu mandato cassado pela A 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). O resultado anulou decisão do ministro Nunes Marques que derrubara a condenação imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral ao parlamentar.
Valdevan foi condenado por abuso de poder econômico, pois ficou comprovado que moradores de municípios sergipanos foram pressionados para simular doações ao candidato. A investigação mostrou dezenas de doações de R$ 1.050 feitas em uma mesma agência bancária e em dias próximos.
Em agosto, a Justiça de São Paulo determinou o afastamento de parte da diretoria do SindMotoristas. A decisão proíbiu que o grupo exerça a função e tenha acesso à sede ou a qualquer outro ambiente relacionado às atividades do sindicato. Além do presidente licenciado do SindMotoristas, Valdevan Noventa, a Justiça afastou os diretores Francisco Xavier da Silva Filho, Valdemir dos Santos Soares, Valmir Santana da Paz, Antonio Gonçalves de Miranda e Irenildo Ferreira dos Santos. O afastamento se deu em decorrência da primeira fase da operação Chapelier.