Implosão do DEM afeta tabuleiro da candidatura de Doria em 2022
Possível desfiliação de Rodrigo Maia enfrequecerá ala favorável à aliança com PSDB
A implosão do DEM às vésperas da eleição para o comando do Congresso afetou diretamente o tabuleiro dos estrategistas da provável candidatura do governador João Doria (PSDB-SP) à Presidência em 2022.
Um dos primeiros efeitos da crise poderá ser a migração do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o tucanato, já que sua permanência no DEM presidido pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, é vista como inviável.
Os dois políticos romperam em torno da eleição do sucessor de Maia como presidente da Câmara. ACM Neto preferiu liberar a bancada do partido para apoiar o candidato de Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), em detrimento ao nome de Maia, Baleia Rossi (MDB-SP).
A ida de Maia para o PSDB já está em discussão. Ele e Doria formaram uma aliança próxima nos dois últimos anos. Aliados de ambos viram no gesto de ACM Neto apenas o interesse imediato do baiano, que é o de ter uma aliança forte para tentar tirar o PT do governo de seu estado no ano que vem.
O impacto para Doria não é desprezível. Ele e Maia haviam articulado, desde meados do ano passado, uma união entre seus partidos e o MDB visando construir a frente para disputar com Bolsonaro, presumivelmente com o tucano na cabeça.
DEM e MDB deixaram o bloco do centrão na Câmara e, na eleição para prefeitura paulistana, estiveram juntos com Bruno Covas (PSDB) -os emedebistas levaram a vaga de vice na chapa vencedora inclusive.
No governo estadual, o DEM tem o vice de Doria, Rodrigo Garcia, e a promessa de que ele será o candidato no ano que vem.
Num primeiro momento, diz um interlocutor do governador, o racha do DEM bagunçou todo o cenário. O partido agora deverá se integrar ainda mais ao governo Bolsonaro, e a ideia de que iria de Doria ou tentaria promover um nome como Luciano Huck parece distante.
Há uma questão adicional: o vice-governador paulista também tende a deixar o seu partido num cenário de guerra civil aberta no DEM. Uma eventual ida dele ao PSDB resolveria a queixa no tucanato com a prevista perda da titularidade, caso o grupo vença a eleição paulista no ano que vem.
Um outro aliado de Doria acredita, contudo, que há um efeito secundário que pode beneficiar a oposição. Tal implosão adiantou o relógio da disputa presidencial, que começaria a bater mais forte no meio do segundo semestre.
Ele vê a possibilidade de uma aceleração do processo de aglutinação de forças, dentro e fora do Congresso, devido à leitura de que o agravamento da crise sanitária e econômica na pandemia seguirá cobrando popularidade de Bolsonaro.
O movimento também deverá ter implicações diretas dentro do PSDB. O grupo da chamada velha guarda, organizado em torno do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, considera o deputado Aécio Neves (MG) o líder da divisão da bancada federal.
Aécio contava mais de 15 dos 31 votos tucanos para Lira, apesar do apoio formal a Baleia. Na noite de domingo (31), houve um movimento para inclusive retirar a presença do PSDB na chapa do MDB, mas ele foi abortado na manhã de segunda por ação direta de Doria junto à bancada.
O próximo passo deverá ser um expurgo nos quadros tucanos, a começar por aqueles que estão na mira da Justiça, como é o caso de Aécio.
No cálculo dos aliados de Doria, esse processo seria virtuoso em favor da frente contra Bolsonaro. Um dirigente do centrão tem uma avaliação diferente: acredita que ACM Neto conseguiu, de uma só vez, desestruturar o DEM e o PSDB.