Na BR-153

Vídeos mostram indígena trocando ameaças com passageiro e jogando objeto contra ônibus

Imagens corroboram versão do motorista, que foi acusado pelo xavante de tê-lo discriminado e abandonado à beira da estrada

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) divulgou nesta quarta-feira (8) dois vídeos que devem corroborar a versão do motorista acusado por um indígena xavante de tê-lo abandonado durante uma viagem interestadual por preconceito. As imagens, gravadas por um passageiro, mostram o índio Sancler Towara Tsorote discutindo com pelo menos uma pessoa dentro do ônibus, trocando ameaças e pedindo para sair do veículo.

No primeiro vídeo, de 51 segundos, Sancler aparece indicando aonde quer ser deixado. “Aí, motorista, quero descer aí”, diz, complementando que faria o resto do trajeto a pé. Em seguida, ele diz a um dos passageiros: “Eu vou te achar em Goiânia. Sabendo que tu vai estar em Goiânia, uma hora eu te bato de frente [SIC].”

https://www.youtube.com/watch?v=dKB7iyTnq4w

A pessoa com quem ele aparentemente teve uma discussão retruca: “Nós se vê por lá [SIC]”, ao que Sancler responde: “Lá é minha área, rapaz”, pouco antes de descer do ônibus. Quem registra as cenas anuncia: “Só lembrando, galera, que ele pediu para descer por livre e espontânea vontade, tá bom?”

O outro vídeo, de cerca de 10 segundos, mostra o xavante caminhando enquanto o ônibus passa por ele. Ele arremessa um objeto contra o veículo antes de a gravação ser encerrada.

Depoimento

As imagens condizem com as declarações do motorista do ônibus que prestou depoimento na noite desta terça (7) à PRF e afirmou que o indígena teria discutido com passageiros e saído por vontade própria. Ele foi acusado por Sancler de tê-lo abandonado afirmando que “lugar de índio é na aldeia”.

Na terça-feira (7), Sancler procurou o posto da PRF na BR-153, em Morrinhos, relatando que havia sido expulso pelo motorista depois de ter embarcado em Belo Horizonte (MG) com destino a Goiânia, de onde seguiria para Barra dos Garças (MT), onde mora. Segundo informou à polícia, sem nenhum motivo aparente, o condutor teria parado o veículo na beira da rodovia, pedido para olhar a passagem dele e afirmado que o bilhete era falso, bem como sua carteira de passe livre, emitida pelo Ministério dos Transportes.

O indígena contou ainda que, depois de ser acusado de usar a documentação falsa, desceu do ônibus com sua bagagem e seguiu a pé até o posto da PRF onde pediu ajuda. Segundo seu relato, o motorista exigiu que ele descesse do ônibus dizendo que “lugar de índio é na aldeia”.

A versão foi contestada pelo próprio motorista em esclarecimento prestado à PRF na noite desta terça. Ele alegou que por volta das 6h30, após uma parada em Goiatuba, todos os passageiros haviam embarcado quando o indígena o procurou para informar que gostaria de descer do ônibus. O motorista, então, teria solicitado a presença de algumas testemunhas, para que se resguardasse, entretanto, o índio desistiu do pedido, quando ingressou no ônibus e seguiram viagem para Goiânia.

Segundo a PRF, o motorista informou que após percorrer aproximadamente 5 quilômetros o indígena começou a se debater e a incomodar diversos passageiros e que, ao aproximar-se de Morrinhos, começou a implorar para descer. O motorista teria pedido para que aguardasse, pois o deixaria no posto da PRF. Entretanto, como o indígena estava em uma forte discussão com outro passageiro, ele optou por parar o ônibus no trevo de acesso a Morrinhos, quando Sancler desceu, pegou um objeto o lançou no ônibus, sem causar danos, conforme registrado no vídeo.

De acordo com a PRF, as imagens por si só não permitem a conclusão de que o indígena cometeu uma falsa notificação de crime. “Não sabemos o que ocorreu dentro do ônibus e o que levou o indígena a agir assim. Além disso, conforme dito, o ideal não é abandonar passageiros na rodovia, independente de ser indígena ou não. A Polícia Civil irá apurar”, afirmou o assessor da corporação, inspetor Fabrício Rosa.

A investigação do caso está a cargo da PC de Morrinhos.