Inflação é a maior para março em 28 anos
Alimentos e combustíveis são os vilões da vez
Puxado por combustíveis e alimentos, o índice oficial de inflação do país acelerou para 1,62% em março, informou nesta sexta-feira (8) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
É a maior alta para o mês desde 1994 (42,75%), antes da implantação do real, mostram os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
O resultado veio bem acima das expectativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam taxa de 1,35%. No mês anterior (fevereiro), o IPCA havia subido 1,01%.
Com a entrada dos novos dados, a inflação chegou a 11,30% no acumulado de 12 meses até março. Nessa base de comparação, a alta havia sido de 10,54% até fevereiro.
Combustíveis e alimentos puxam alta oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta de preços em março. A maior variação (3,02%) e o maior impacto (0,65 ponto percentual) vieram dos transportes.
Na sequência, veio o grupo alimentação e bebidas. O segmento teve alta de 2,42% e respondeu por 0,51 ponto percentual de impacto. Juntos, os dois grupos contribuíram com cerca de 72% do IPCA.
O resultado de transportes (3,02%) foi influenciado, principalmente, pela alta nos preços dos combustíveis (6,70%), especialmente da gasolina (6,95%). Esse foi o subitem com maior impacto individual (0,44 ponto percentual) no índice do mês.
Março foi marcado pelo início dos reflexos econômicos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Um dos primeiros impactos do conflito foi a disparada das cotações do petróleo no mercado internacional.
O avanço da commodity levou a Petrobras a promover um mega-aumento de combustíveis, incluindo a gasolina, nas refinarias, no dia 11 de março.
Isso ocorreu porque o petróleo é uma das variáveis que determinam a política de preços dos combustíveis da estatal. A taxa de câmbio também pesa na estratégia da companhia.
Em 11 de março, a gasolina, que tem grande peso no IPCA, subiu 18,8% nas refinarias. O gás de cozinha, por sua vez, avançou 16,1%. O óleo diesel teve reajuste ainda maior, de 24,9%.
As altas chegaram de maneira rápida a postos de combustíveis e pontos de revenda de gás espalhados pelo país.
No grupo dos alimentos e bebidas, a alta de 2,42% decorreu, principalmente, dos preços dos alimentos para consumo no domicílio (3,09%). A maior contribuição (0,08 ponto percentual) foi a do tomate, cujos preços subiram 27,22% em março.
A cenoura avançou 31,47% e já acumula alta de 166,17% em 12 meses. Também subiram os preços do leite longa vida (9,34%), do óleo de soja (8,99%), das frutas (6,39%) e do pão francês (2,97%).
“Foi uma alta disseminada nos preços. Vários alimentos sofreram uma pressão inflacionária. Isso aconteceu por questões específicas de cada alimento, principalmente fatores climáticos, mas também está relacionado ao custo do frete. O aumento nos preços dos combustíveis acaba refletindo em outros produtos da economia, entre eles, os alimentos”, analisa Pedro Kislanov, gerente do IPCA.
A guerra no Leste Europeu também ameaça preços de alimentos, que já vinham sendo pressionados no Brasil pelo clima adverso do começo deste ano. Commodities agrícolas, como trigo, milho e soja, subiram após o começo do conflito.
O que pode amenizar os repasses, segundo analistas, é a recente trégua do dólar. Em parte de abril, outro possível alívio no IPCA pode vir do fim da taxa extra nas contas de luz.
O fim da bandeira de escassez hídrica, que encareceu a energia elétrica a partir de setembro, foi antecipado pelo governo para o próximo dia 16.
Mesmo assim, o cenário de inflação ainda segue carregado de preocupações, sinalizam analistas.
“Combustíveis foram reajustados em 11 de março. Então, um terço do efeito ainda pode ser captado no IPCA de abril. Essa diferença vai fazer uma queda de braço com a baixa da energia”, avalia o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Possível estouro da meta
O IPCA está em dois dígitos no acumulado de 12 meses desde setembro do ano passado. Assim, encontra-se distante da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central).
Neste ano, o centro da medida de referência é de 3,50%. O teto é de 5%.
De acordo com analistas, o IPCA deve estourar novamente a meta. Há instituições financeiras que projetam alta superior a 7% no acumulado até dezembro.
Se as estimativas forem confirmadas, 2022 será o segundo ano consecutivo de descumprimento da meta. Em 2021, o IPCA teve alta de 10,06%.
Em uma tentativa de frear a inflação, o BC vem subindo a taxa básica de juros. Em março, a Selic alcançou 11,75% ao ano. O mercado vê espaço para uma taxa ainda mais alta.
A inflação persistente pressiona o presidente Jair Bolsonaro (PL), que deve tentar a reeleição neste ano e teme os impactos da perda do poder de compra do eleitorado.
Bolsonaro, incomodado com a alta dos combustíveis, decidiu trocar o comando da Petrobras.