Interior de SP confirma quinta morte e suspende aulas após tempestade de poeira
Quinto óbito foi confirmado na noite deste domingo (3), em Araçatuba (a 520 km de SP)
Cidades no oeste paulista já lamentam cinco mortes e precisaram até suspender aulas presenciais nesta segunda-feira (4) devido aos estragos causados pela tempestade de poeira com rajadas de vento de até 103 km/h que atingiu a região na última sexta (1º).
O quinto óbito foi confirmado na noite deste domingo (3), em Araçatuba (a 520 km de SP). Trata-se do construtor Valter Aparecido Balbo, 56, que sofreu um traumatismo craniano ao ser atingido por uma árvore que caiu durante o temporal enquanto transitava de moto. Ele foi hospitalizado, mas não resistiu.
A cerca de 100 km dali, em Tupã (507 km de SP), já havia sido registrada a morte de um trabalhador da construção civil atingido por uma parede que desabou com os fortes ventos da tempestade. Já em Santo Antônio do Aracanguá (557 km de SP), a ventania alastrou um incêndio que matou três pessoas.
Foram comuns quedas de árvores durante o temporal. Em Araçatuba, a prefeitura local, sob gestão Dilador Borges (PSDB), estimou prazo de ao menos dez dias, contados a partir de sábado (2), para encerrar a limpeza das ruas, tomadas de galhos, destroços e sujeira.
A ventania ainda causou destelhamento de imóveis e rompimento de fiações, o que gerou interrupção no fornecimento de energia em diversos municípios da região, problema que se manteve ainda nos dias seguintes ao temporal dada a proporção dos estragos.
A Energisa Sul-Sudeste, que atende 24 cidades no oeste paulista, disse, em nota ao jornal Folha de S.Paulo nesta segunda, ter atendido mais de 3 mil ocorrências relacionadas ao temporal nas últimas 72 horas, que afetaram cerca de 50 mil clientes, no interior de São Paulo e em outros cinco estados.
Ainda nesta segunda, a concessionária mantinha 30 equipes em ação em Presidente Prudente (a 556 km de SP), um dos municípios mais afetados pela tempestade de poeira, para atender ocorrências descentralizadas.
No sábado, a CPFL Paulista, que opera na região de Araçatuba, disse ter tido avanço significativo nos reparos, mas que ainda mantinha equipes totalmente mobilizadas. No mesmo dia, alguns moradores de Dracena (a 628 km de SP), onde atua a Neoenergia Elektro, só tiveram o serviço retomado à noite -a concessionária afirma que ainda mantém equipes em ocorrências pontuais, principalmente na zona rural, mas que 95% de seus clientes afetados já tiveram fornecimento reestabelecido.
Em Prudente, o prefeito Ed Thomas (PSDB) decretou situação de emergência por 180 dias e suspendeu as aulas presenciais na rede municipal nesta segunda para que pudessem ser vistoriadas as 65 escolas sob sua gestão. O ensino será retomado nesta terça (5).
A cidade registrou danos em 25 prédios públicos e precisou interromper a vacinação contra a Covid-19 no sábado devido à falta de energia em várias unidades de saúde. O aeroporto local teve que adaptar um espaço para a saída de passageiros após a sala de desembarque, com danos na estrutura e vidros quebrados, ter sido interditada pela Defesa Civil.
A prefeitura ainda auxilia oito pessoas que ficaram desabrigadas e se mobiliza para ajudar a Associação Filantrópica de Proteção aos Cegos, entidade que oferece atendimento especializado a pessoas com deficiência visual -o temporal destruiu a cobertura de sua sede e danificou equipamentos.
Osvaldo Cruz (a 552 km de SP) também interrompeu as aulas, mas só prevê retomá-las na quinta (7). A prefeita Vera Morena (PP) ainda decretou situação de emergência no município, que levanta recursos para auxiliar cerca de 80 famílias que tiveram suas casas danificadas.
A 21 km dali, a cidade de Lucélia (a 567 km de SP), sob gestão Tati Guilhermino (PV), também decretou suspensão das aulas presenciais na rede municipal até quarta (6), para que possam ser feitas a manutenção e a limpeza das escolas atingidas pela tempestade de poeira.
Coordenador da estação meteorológica da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), que acompanhou o fenômeno na região, o professor Alexandrius Barbosa afirmou que a ventania se deu após uma frente fria vinda do sul ter encontrado uma massa de ar quente na região, o que gerou instabilidade.
Os ventos fortes suspenderam e carregaram a poeira do solo na região, que vem de um período de baixa umidade e estiagem. Segundo o Monitor de Secas, da ANA (Agência Nacional de Águas), com dados de agosto, o noroeste de São Paulo vive seca excepcional, a mais intensa em sua classificação.
O monitoramento ainda aponta seca extrema em parte do oeste paulista e do leste de Mato Grosso do Sul, faixa que faz divisa com São Paulo e também foi afetada pela tempestade de poeira, caso de Três Lagoas (MS). Na sexta, ainda houve relatos de temporal parecido em Goiás e no Maranhão.
O fenômeno visto no interior de São Paulo, que afetou as regiões de Franca e Ribeirão Preto na semana anterior, é também conhecido como haboob. A parede de poeira que se ergue pode ter milhares de metros de altura e até 160 km de largura. Ele é mais comum em regiões de seca e pode ser influenciado por ações humanas, desertificação, degradação e pelas mudanças climáticas.”