CASO HENRY

Jairinho enforcou Monique 5 dias antes da morte de Henry, diz babá

Outros diálogos revelam uma escalada de violência na casa até o dia do crime

Jairinho enforcou Monique 5 dias antes da morte de Henry, diz babá (Foto: Divulgação)

O vereador Dr. Jairinho (sem partido) enforcou e agrediu a professora Monique Medeiros apenas cinco dias antes da morte de Henry Borel, segundo mensagens encontradas em aplicativo no celular da babá da criança. Juntamente com outros diálogos, esse relato —que consta na conclusão do inquérito do Caso Henry— revela uma escalada de violência na casa até o dia do crime, na madrugada de 8 de março.

Em um diálogo no WhatsApp, Thayná de Oliveira Ferreira disse que o parlamentar estava com malas prontas para deixar o apartamento na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, após uma briga do casal. Segundo a babá relatou ao pai dela, Jairinho continuaria contudo arcando com as despesas de Monique, que estaria ameaçando prejudicá-lo.

As malas dele está [sic] lá. Ele bateu nela. Enforcou. E ela disse que ele vai sair. Mas que vai ficar pagando as coisas dela. Senão vai f* ele. Aí ele tá com o rabo entre as pernas”, diz o trecho da mensagem enviada pela babá Thayná de Oliveira Ferreira ao pai.

Em conversa com o seu pai iniciada às 20h24 de 3 de março, a babá disse ainda que Jairinho “passou o dia todo ligando” para Monique após as agressões. “Conversando. Chamando de amor. Como se nada tivesse acontecido”, relatou.

Apesar do relato da agressão contra Monique, a polícia vê na mensagem da babá uma “prova” de que a mãe de Henry não era manipulada pelo parlamentar, segundo versão da defesa dela. Em uma das cartas, Monique narra outras agressões desde o fim de 2020 e manipulação após a morte de Henry.

“[A investigação] Desprezou repetição de comportamento criminoso padrão de violências contra mulheres e crianças, sem levar em conta que Monique é mais uma das muitas vítimas, com o terrível diferencial da trágica morte de Henry”, afirmou ontem a defesa dela após entrevista coletiva da polícia sobre o indiciamento.

Jairinho e Monique, padrasto e mãe do menino assassinado na madrugada de 8 de março no apartamento da família, foram indiciados por homicídio duplamente qualificado —com tortura e meios que dificultaram a defesa da vítima. Eles estão presos desde 8 de abril por suspeita de atrapalhar as investigações e ameaçar testemunhas. O inquérito concluído na última segunda-feira (3) foi encaminhado ao MP-RJ (Ministério Público do Rio).

Mensagens indicam escalada de violência até o crime

As mensagens reveladas no relatório final elaborado pela Polícia Civil indicam uma escalada de violência até o dia do crime. Um outro episódio de violência narrado pela babá revelou grito, choro e outras agressões.

“Não sei o que é pior, chorando ou mudo. Chorando sei que tá vivo”, relatou a babá após o padrasto se trancar com o menino no quarto, na manhã de 2 de fevereiro. Na mensagem aprendida em seu celular, ela se refere ao parlamentar como “o doido”, diz estar apavorada e afirma: “Parece que tá tampando a boca do menino”.

Em outro diálogo com o noivo ocorrido na noite de 12 de fevereiro, a babá vê um agravamento nas agressões. Mais cedo, a babá havia relatado agressões em tempo real.

“Sabe naquele dia [em referência às agressões do dia 2 de fevereiro]? 10x [dez vezes] pior”, compara.

“O menino me agarrou demais. Me enforcou. Rasgou a minha blusa quando viu o outro [Jairinho]”

Na sequência, relata a discussão entre Jairinho e o menino, que tinha dito ter levado rasteiras e chutes do padrasto. “Aí ele [Jairinho] falando para mim que o Henry é mentiroso. E ele falando: ‘eu não sou, tia’. Sério! Chocante”, desabafou a cuidadora em mensagem ao noivo revelada pela investigação.

Após ter sido informada das agressões, Monique levou quase três horas para voltar para casa. Segundo a Polícia Civil, Monique tinha obrigação legal de afastar o agressor da vítima após ter tomado conhecimento do episódio —o que não ocorreu.

Agressões citadas no indiciamento

O relato do diálogo de 2 de fevereiro entre a babá e o noivo, anexado ao inquérito, motivou o indiciamento de Jairinho por mais um episódio de tortura —ele também foi indiciado pelo mesmo crime devido às agressões ocorridas em 12 de fevereiro relatadas pela babá e pelo espancamento que causou a morte do menino.

A mãe responderá pelos mesmos crimes cometidos por Jairinho porque, segundo a polícia, não afastou o filho do agressor. Já a babá será investigada em outro inquérito pelo crime de falso testemunho devido ao primeiro depoimento dado à Polícia Civil, segundo aponta o relatório.

O que dizem os advogados

Ao UOL, a defesa de Jairinho disse que só comentará as acusações após a denúncia ser oficializada.

Questionada sobre a possível abertura de um inquérito paralelo por falso testemunho por causa do primeiro depoimento da babá Thayná de Oliveira Ferreira, a advogada Priscila Sena disse que só irá se posicionar se a cuidadora for intimada.

A defesa de Monique criticou a Polícia Civil pela conclusão do inquérito que investigava a morte do menino Henry. Os advogados da professora disseram que o caso “foi finalizado prematuramente com erros investigativos”.

O delegado Antenor Lopes, diretor de Polícia Civil da capital, rebateu as acusações. “Lamentamos esse tipo de tentativa desesperada de quem está tendo dificuldade de encontrar argumentos.”

Reviravoltas e trocas de versões

A investigação da morte de Henry foi marcada por reviravoltas, trocas de versões sobre o dia do crime e revelações do histórico de violência em relatos de ex-namoradas.

Na sexta-feira (30), Jairinho foi indiciado pelo crime de tortura majorada contra a filha de uma ex. Os crimes ocorreram entre 2010 e 2013, quando a vítima tinha de 3 a 5 anos. Em seu relato, a criança contou que teve a cabeça batida contra a parede de um banheiro em uma ocasião e afundada na piscina em outra.

Perícia desmonta versão de casal

A tese de Jairinho e Monique de que a morte de Henry teria sido causada por um acidente doméstico foi desmentida por peritos criminais e legistas que analisaram o local do crime. As 23 lesões encontradas no corpo da criança e a altura da cama fizeram com que os legistas chegassem à conclusão de que houve uma ação violenta, confrontando a versão apresentada pelo casal.

Henry morreu em decorrência de hemorragia interna e laceração hepática causada por uma ação contundente, informou o laudo produzido pela perícia.