Lava Jato diz que Wassef recebeu R$ 2,6 mi desviados do Sesc e Senac Rio
Ligado à família Bolsonaro, Wassef acolheu Fabrício Queiroz em sua casa em Atibaia (SP), onde foi preso na manhã de 18 de junho
O advogado Frederick Wassef, um dos alvos de um mandado de busca e apreensão cumprido nesta quarta-feira (9) em um conjunto de ações que apura a suspeita de um esquema de fraudes no Sistema S e na Fecomércio-RJ. Ele é investigado pela força-tarefa da Operação Lava Jato por suspeita de ter desviado R$ 2,6 milhões.
De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), os recursos supostamente desviados foram repassados ao escritório de Wassef pelo Escritório Eluf e Santos Sociedade de Advogados, contratado para trabalhar em processos administrativos e em desdobramentos desses casos na Justiça do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e do Sesc (Serviço Social do Comércio) do Rio entre dezembro de 2016 e maio de 2017.
Ligado à família Bolsonaro, Wassef acolheu Fabrício Queiroz em sua casa em Atibaia (SP), onde foi preso na manhã de 18 de junho. Apesar de ter sido alvo da ação de hoje, Wassef não se tornou réu.
Com base na quebra dos sigilos bancários, o MPF comprovou repasses de cerca de R$ 4,5 milhões pela prestação de serviços em um intervalo de apenas cinco meses. Desse valor, R$ 2,6 milhões foram repassados ao escritório de Wassef — o equivalente a R$ 58% do total recebido.
Segundo o MPF, esses valores teriam sido destinados à prática de lavagem de dinheiro “por serviços que efetivamente não foram prestados.”
Para indicar o suposto esquema, o MPF se baseia na comprovação desses repasses — feitos em sequência no período do contrato — apreendida na casa de Orlando Diniz, ex-presidente da Fecomércio-RJ. Senac e Sesc do Rio, que colaborou com as investigações por delação premiada.
Um documento anexado à denúncia mostra o relatório encaminhado pelo Escritório Eluf e Santos Sociedade de Advogados para informar quais eram os serviços prestados às entidades. A empresa disse apenas que não teve atuações em ações judiciais e que teria atuado apenas em processos administrativos.
No entendimento do MPF, porém, os esclarecimentos não foram suficientes para justificar o valor recebido pelo escritório de advocacia — em média, cerca de R$ 900 mil por mês pagos em sete prestações. Segundo Orlando Diniz, era Wassef quem atendia as entidades.
Questionado sobre a real prestação de serviços, Diniz disse apenas que ela “não valeu a pena”, citando os valores cobrados pelo contrato. Entretanto, o MPF se baseou no depoimento para concluir que a intermediação por outro escritório de advocacia foi “uma forma travestida de contratar o advogado [Wassef]”, incluindo os depósitos que comprovavam os repasses.
Como se vê, o uso de pessoa interposta para recebimento de valores (…) por Frederick Wassef mostra-se como prática reiterada e forma de atuação para prática de lavagem de dinheiro”, conclui o MPF, com base os dados bancários da empresa do advogado
Trecho de denúncia do MPF
O MPF, então, solicitou relatório financeiro ao Coaf, que comprovou dois depósitos em espécie feitos por Wassef em sua própria conta de R$ 49.900 cada um em dezembro de 2017, meses após a atuação do advogado junto às entidades.
Segundo a investigação, há indícios de “fracionamento”. “Tal circunstância objetiva é forte manifestação de dolo quanto à dissimulação de movimentação de valores produto de crime”, diz o MPF.
O que disse Wassef
Hoje, Frederick Wassef disse não possuir qualquer ligação com o esquema de fraudes. “Jamais em minha vida pratiquei qualquer irregularidade e nunca fui investigado ou respondi a qualquer processo”, disse o advogado, por nota.
“O delator Orlando Diniz está deliberadamente mentindo a meu respeito a mando de advogados inescrupulosos que estão usando-o como míssil teleguiado para me atingir visando atender o interesse de um outro cliente em comum”, acrescentou.
A reportagem não conseguiu contato com o Escritório Eluf e Santos Sociedade de Advogados. Se enviado, seu posicionamento será incluído neste texto.
Como funcionou o esquema
Batizada de E$quema S, a operação contou com cooperação do MPF, da PF (Polícia Federal) e da Receita Federal, que cumpriram 50 mandados de busca e apreensão sobre um esquema de fraudes no sistema S e na Fecomercio fluminenses. A investigação apurou que cerca de R$ 355 milhões foram movimentados em contratos feitos com a Fecomércio RJ e pagos pelo sistema S, que inclui o Sesc e o Senac, para serviços de advocacia que não teriam sido realizados.
De acordo com o MP, o esquema era liderado por Orlando Santos Diniz, ex-gestor das entidades e que denunciou o esquema em delação premiada. Ele também foi denunciado.