Tragédia em SP

‘Local errado, hora errada’, diz mãe de jovem morto em baile funk em Paraisópolis

Moradora do Limão, na zona norte, onde vive com os quatro filhos, Maria Cristina não entendeu como o filho foi parar em um baile funk tão longe de casa.

A vendedora Maria Cristina Quirino Portugal estava com raiva do filho Denys Henrique Quirino da Silva, de 16 anos. Ele havia saído para trabalhar na tarde do sábado, 30, e até a manhã do domingo, 1º, não havia dado notícia. A informação do seu paradeiro veio do pior modo possível: o hospital telefonou informando sobre a morte do jovem em tumulto no baile funk de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Mais oito pessoas morreram na confusão, que começou após a chegada do PM no local

Moradora do Limão, na zona norte, onde vive com os quatro filhos, Maria Cristina não entendeu como o filho foi parar em um baile funk tão longe de casa. “Ele saiu para trabalhar e não voltou. Até eu receber a ligação do hospital, eu estava brava com ele e isso só passou quando o vi gelado no IML (Instituto Médico-Legal)”, disse a mãe da vítima, em frente ao 89º Distrito Policial (DP), onde o caso está sendo investigado. Ela acredita que era a primeira vez que o filho, que era auxiliar de serviços gerais em uma loja de tapetes, tinha ido a esse baile.

Maria Cristina contou que cresceu na Brasilândia, na zona norte, onde a muvuca de bailes funks a incomodava bastante. Sobre a ação policial, porém, acredita que poderia ter sido feita de forma a evitar a confusão. “Nasci e cresci em periferia e sei que nem todo mundo ali é bandido. Ao contrário. Sou a favor da polícia, mas isso que aconteceu não poderia ter acontecido, sou cidadã. A estratégia tem de ser diferente, sem bala de borracha, sem gás. Tem de acabar com os bailes antes de começarem. Caso contrário, outras mães vão perder seus filhos”, disse.

O corpo do seu filho, contou, não tem nenhuma marca mais expressiva que pudesse explicar a morte, como alguma perfuração de tiro, o que para ela torna plausível a explicação de pisoteamento. “Não tem marca de nada, mas ele não conseguiu se defender”, lamentou. “Estou vazia. Ele estava no local errado, na hora errada.”

Ela classificou o temperamento do filho, a quem chamou de teimoso, como difícil e problemático na escola. Por faltas, foi desligado de um colégio, mas a mãe tentava uma nova vaga em outra instituição. Para o futuro, seu plano era se alistar no Exército. “Cansei de falar para deixar de andar com más companhias, mas não adiantou.”