Lula diz que ‘depois’ falará sobre uso de jato de empresário para viagem à COP
Presidente eleito viajou para o Egito em aeronave de empresário que é delator e confessou caixa 2
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi questionado nesta quarta-feira (16) sobre ter viajado à COP27, no Egito, no jato do empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.
“Depois”, limitou-se a dizer Lula, quando questionado pela Folha se poderia falar sobre o caso.
A resposta aconteceu em meio ao empurra-empurra de apoiadores que aproveitavam a saída de Lula da reunião com governadores da Amazônia, na manhã desta quarta na COP27 do Clima, em Sharm El- Sheikh.
O presidente eleito cumprimentou rapidamente as pessoas mais próximas —entre centenas que acompanhavam o evento do lado de fora do pavilhão amazônico—, mas evitou responder perguntas.
Aliados de Lula reconhecem desgaste com favores de empresários aceitos pelo petista após as eleições, mas saem em defesa do presidente eleito sob a alegação de que não há desvio ético nem ilegalidade jurídica.
O constrangimento é exposto pela necessidade de ter que dar explicações públicas e pelas críticas de opositores, embora auxiliares de Lula digam ser uma “crise artificial”.
A fonte de desconforto está nessa viagem de Lula à COP27. O petista embarcou na segunda-feira (14) para participar da conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
A aeronave em que viaja Lula é do modelo Gulfstream, com capacidade para transportar 12 pessoas e autonomia para voar direto ao país africano.
Lula e Seripieri são amigos há cerca de dez anos. Durante a campanha eleitoral deste ano, o empresário foi um dos primeiros com quem o petista concordou em se reunir para tratar de suas propostas de governo.
O empresário firmou acordo de delação com o Ministério Público em 2020 e confessou o crime eleitoral de caixa dois em um caso envolvendo o senador tucano José Serra (SP).
Seripieri Filho ficou preso por três dias em julho de 2020 em decorrência da Operação Paralelo 23, que investigou pagamentos para a campanha de Serra ao Senado em 2014.
Ele se tornou réu acusado de corrupção, lavagem e caixa dois na Justiça Eleitoral de São Paulo. O senador também responde ao processo. A investigação ocorreu no âmbito de um conjunto de inquéritos apelidado de “Lava Jato Eleitoral”, por envolver desdobramentos de delações enviados a esse braço do Judiciário.
No fim de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso homologou acordo de colaboração de Seripieri firmado com a Procuradoria-Geral da República. O compromisso previa o pagamento de R$ 200 milhões pelo empresário como ressarcimento aos cofres públicos.
Os termos do acordo, assim como detalhes dos depoimentos, permanecem sigilosos até hoje.