Lula diz que vai cobrar apoio de evangélicos a vacinas ou responsabilizar igrejas por mortes
Em encontro com representantes da saúde, presidente eleito prometeu que não faltará recursos para a área
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse a representantes da área da saúde que o governo precisa convencer a população sobre a eficácia das vacinas. Ele afirmou que vai cobrar de lideranças evangélicas apoio às campanhas de vacinação e que pode responsabilizar as igrejas por mortes.
“Eu pretendo procurar várias igrejas evangélicas e discutir com o chefe delas: ‘Olha, qual é o comportamento de vocês nessa questão das vacinas?'”, disse Lula. “Ou vamos responsabilizar vocês pela morte das pessoas”, afirmou ainda.
Na mesma reunião, o presidente eleito disse que os primeiros 100 dias de seu governo terão como foco a recuperação do PNI (Programa Nacional de Imunizações), o aumento da cobertura vacinal e a restauração da confiança da população sobre o tema, —que, segundo ele, foi afetada por fake news sobre o tema.
A fala ocorreu em reunião fechada da equipe de saúde do governo de transição com representantes de várias áreas da saúde. O encontro acontece em formato híbrido e teve a participação de Lula por videoconferência.
“Vamos ter de agora pegar muita gente que combateu a vacina que vai ter de pedir desculpa”, disse Lula.
Durante a reunião, o presidente eleito disse ainda que os representantes devem apresentar as melhores propostas para a área porque ele quer o que há de mais eficaz para o povo brasileiro, prometendo que não faltará recurso para a área.
“O governo federal não pode somente reclamar da falta de recursos para a saúde, nosso trabalho será encontrar esses recursos e investir no SUS, em especial no resgate do Programa Nacional de Imunização para retomar a confiança da população nas vacinas”, disse Lula durante a reunião.
A equipe de transição também já sinalizou para representantes da saúde que irá recompor o orçamento da pasta. Por conta do teto de gastos, há uma defasagem de aproximadamente R$ 22 bilhões do que deveria ser o orçamento da saúde para 2023.
Lula disse aos participantes da reunião que deve começar a escolher “nos próximos dias” os ministros do futuro governo.
O petista afirmou que será preciso enfrentar a “burocracia da máquina pública”. “O povo está muito sofrido, até consegue ir numa UPA, mas depois não consegue mais nada. Não podemos deixar isso”, disse ele.
O presidente eleito disse que outro desafio de sua gestão será levar médicos ao interior do Brasil. Também citou o cuidado com o autismo como prioridade.
Ao se despedir da reunião, Lula disse que estava sendo cobrado pela futura primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, a poupar a voz. Ele realizou no domingo (20) uma cirurgia de retirada de uma lesão na garganta.
“Janja acha que estou falando demais”, disse Lula.
O deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP) disse: “Eu também acho”.
O presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), Nésio Fernandes, disse que Lula quer “fazer o SUS voar”.
“O dirigente principal do Brasil está dando novo teto institucional e político para o SUS. Durante a pandemia quiseram ajoelhar a ciência e as vacinas. Lula quer fazer o SUS voar. Ele não pediu, ele encomendou as melhores propostas para melhorar o acesso aos serviços assistenciais do SUS e para recuperar rapidamente as coberturas vacinais. Nós topamos o desafio”, afirmou Fernandes, que é secretário de Saúde do Espírito Santo.
Fizeram parte do encontro cinco ex-ministros da Saúde: Humberto Costa (PT), Arthur Chioro, Alexandre Padilha (PT), José Gomes Temporão e José Agenor.
Também participaram representantes do Instituto Butantan, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), da Fiocruz, do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde) e ex-chefes de PNI, entre outros órgãos.