Mãe de Isabella Nardoni entra em contato com pai de Henry para prestar solidariedade
Pouco antes da meia-noite de 29 de março de 2008, Isabella de Oliveira Nardoni, de…
Pouco antes da meia-noite de 29 de março de 2008, Isabella de Oliveira Nardoni, de 5 anos, foi encontrada morta no térreo do edifício London, na Zona Norte de São Paulo, após cair de um apartamento no sexto andar. O pai, Alexandre Nardoni, e sua mulher, Anna Carolina Jatobá, foram condenados por ferir a menina com uma chave, esganá-la e, depois, jogá-la pela janela. Treze anos depois, a mãe de Isabella, a administradora Ana Carolina de Oliveira, assiste ao que ela classifica como a “repetição” da crueldade. Tocada pela história, ela entrou em contato com o engenheiro Leniel Borel de Almeida, pai de Henry Borel Medeiros, de 4 anos, morto no dia 8 de março. A mãe do menino, a professora Monique Medeiros da Costa e Silva, e seu namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), estão presos pela morte da criança.
O GLOBO: Por que você procurou o Leniel?
ANA CAROLINA: É difícil não ter acompanhado o caso, não ter visto a proporção das coisas nos últimos dias, a crueldade. Por diversos momentos, me senti de novo na mesma situação que ele. Sei que, quando recebemos uma mensagem de apoio de uma pessoa que passou por algo semelhante, dá um conforto. E também sei que nada, absolutamente nada, vai mudar a tristeza desse pai, mas podemos oferecer ao menos um alento para seu coração. Então decidi me aproximar e mandar uma mensagem para dar uma palavra de apoio minha e também de tantas pessoas que o estão apoiando nesse momento tão difícil.
O GLOBO: Como foi esse contato?
ANA CAROLINA: Procurei uma pessoa que conseguiu o telefone dele e mandei uma mensagem. Minha intenção não era, pelo amor de Deus, aparecer no caso dele. Quero apenas que a Justiça seja feita. Só falei que eu estava do lado dele e que ele precisa ter forças porque tenho certeza, depois de tudo que vivi, que nossos filhos tinham um propósito de vida, tinham mensagens a deixar para o mundo. Nós achamos que tamanha crueldade, tamanha comoção não são à toa.
O GLOBO: O que você espera passar a ele?
ANA CAROLINA: A minha mensagem foi no sentido de que ele tenha força, de mostrar que minha família está do lado dele. Eu e o Brasil todo estamos com o Leniel. Não entrei no mérito de como tudo aconteceu, de por que aconteceu… Posso te dizer que, no meu caso, passei três meses consecutivos com minha história estampada em todos os jornais, sem parar, com um fato novo a cada dia. E sei o quão torturante é isso. A imprensa nos ajuda muito com o desenrolar da verdade e também a pressionar para que as descobertas levem ao um desfecho, mas é muito difícil toda essa exposição.
O GLOBO: Como você vê um episódio semelhante ao que viveu, 13 anos depois?
ANA CAROLINA: Até agora, os fatos ainda estão vindo à tona e há muitas descobertas sendo feitas, mas a cada dia ficamos mais chocados e tristes diante do tamanho das crueldades. Muitas pessoas estão comparando nossos casos, por se tratar de uma família, de um casal, de criança com idade próxima, além da repetição do grau de crueldade e de supostas mentiras. Mas o que me choca é ver, de novo, quem deveria cuidar, zelar, dar amor e atenção, não fazer isso. O dia em que eu realmente consegui me inteirar do caso, doeu muito meu coração. É uma mistura de tristeza e de raiva ao ver tamanha dissimulação. Um sentimento que não dá para explicar. Conversando com a minha mãe, que acompanha todas as notícias, já choramos muito. É triste ver como existem pessoas tão cruéis no mundo.
O GLOBO: Quão difícil é passar por uma situação dessa?
ANA CAROLINA: O dia a dia é muito sofrido, sobretudo ao revivermos os bons momentos, reavivando as memórias. É terrível lembrar o tempo inteiro: “Quando eu estava com a minha filha, naquele dia…” justamente porque percebemos o tamanho da monstruosidade que aconteceu. E é o que o Leniel está passando agora.
O GLOBO: Como você conseguiu continuar?
ANA CAROLINA: São 13 anos da morte da minha filha. Hoje posso te dizer que consegui passar por um processo de reconstrução. Há 11 anos estou com meu atual marido, sendo sete anos casada, e tenho dois filhos, o Miguel, de 5 anos, e a Maria Fernanda, de 1 ano. Durante todo esse tempo, eu me cuidei, eu me tratei psicologicamente e, principalmente, me permiti viver todas essas situações.