Intolerância

Mãe perde guarda da filha de 12 anos após ritual de candomblé

No interior de São Paulo, Justiça determinou que adolescente ficasse provisoriamente com avó materna depois de iniciação na religião

Uma mãe de Araçatuba, cidade do interior de São Paulo, perdeu a guarda da filha de 12 anos após a menina passar por um ritual de iniciação no candomblé. As informações são do portal UOL.

A garota estava reclusa no terreiro Centro Cultural Ilê Axé Egbá Araketu Odê Igbô havia sete dias, com o aval de seus pais, a manicure Kate Ana Belintani, de 41 anos, e o comerciante Washington Silva, de 48 anos, passando pelo que seria uma espécie de “batismo” no candomblé.

De acordo com UOL, alguns familiares que são contra a religião de matriz africana fizeram denúncias alegando que a jovem era abusada.

A avó da garota é evangélica e teria feito uma denúncia ao Conselho Tutelar da Cidade, alegando que a menina estava sofrendo maus tratos e abusos sexuais. Após algumas denúncias, os conselheiros foram acompanhados de policiais ao terreiro onde a adolescente estava com a mãe e tentou explicar que elas não poderiam deixar o terreiro enquanto estivessem passando pelo ritual. Mesmo assim, elas foram levadas ao Instituto Médico Legal (IML), que não identificou hematomas ou lesões corporais.

A única coisa de diferente na jovem era o cabelo raspado. Ela estava passando por um ritual chamado de “feitura de santo”. Nessa tradição religiosa, a pessoa deve passar 21 dias no terreiro entrando em contato com a religião e raspar o cabelo faz parte do processo, que simboliza um renascimento.

Mãe e filha foram liberadas, mas foram feitas novas denúncias dizendo que a garota estava sendo mantida à força no terreiro. Os policiais foram novamente ao local, mas não encontraram ninguém, pois a menina já estava em casa com os pais. Após isso, foi feita uma denúncia à Promotoria alegando que o cabelo raspado foi uma lesão corporal e a Justiça interferiu dando a guarda da jovem para a avó materna.

Há uma semana a manicure só pode falar com a filha por telefone e em visitas presenciais de cinco minutos. “O pior de tudo é que em nenhum momento ouviram minha filha ou a mim. Simplesmente a tiraram de mim. Eu nunca a obriguei a nada, esse sempre foi o sonho dela. Ela está chorando a todo momento, me liga de dez em dez minutos querendo vir para casa”, disse a mãe da menina.

“Eu estou arrasada. Já estava antes por conta do preconceito. Agora que tiraram minha filha de mim, tiraram o meu chão. Nunca imaginei passar por isso por conta de religião. Eu estava presente o tempo inteiro, acompanhei tudo, nada de ilegal foi feito, que constrangesse a ela, ou que ela não quisesse, sem consentimento dela, ou sem o pai ou a mãe, foi tudo feito legalmente”, a manicure continuou.

O Conselho Tutelar e os familiares que estão com a guarda da adolescente não se pronunciaram. Os pais da menina falam que foram vítimas de intolerância religiosa. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garante a liberdade religiosa e, além disso, a lei nº 13.257, de 2016, garante que pais e mães transmitam suas crenças aos filhos. (Com O Dia)