Maioria quer que vacina para Covid seja obrigatória, mostra Datafolha
Previsões mais otimistas são de que as campanhas de vacinação possam começar, com grupos de risco, em dezembro deste ano
Mais de 70% da população de quatro grandes capitais do país se declara favorável à obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 uma vez que um imunizante seguro e eficaz esteja disponível, mostra pesquisa do Datafolha em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Nessas cidades, ao menos 75% dos entrevistados afirmaram que pretendem se vacinar tão logo seja possível.
O apoio à vacinação e à obrigatoriedade é majoritário em todos os estratos identificados pela pesquisa, que ouviu 1.092 eleitores a partir de 16 anos na capital paulista, 900 na fluminense, 800 na mineira e 800 na pernambucana nos dias 5 e 6 de outubro. A margem de erro é de três pontos percentuais em todos os casos.
O índice mais alto daqueles que declaram pretender se vacinar foi registrado em Belo Horizonte, onde 81% dos entrevistados manifestaram a intenção, patamar similar o do Rio (80%) e de São Paulo (79%) e superior ao do Recife (75%). Os que afirmam que não vão se vacinar oscilam de 15% a 20% conforme a cidade.
Já a obrigatoriedade encontrou maior apoio dos cariocas (77%) e dos belo-horizontinos (76%), e aderência pouco menor entre recifenses (73%) e paulistanos (72%) –com estes últimos, a rejeição à obrigatoriedade bate em 27%.
Esta é a primeira vez que o Datafolha aborda a questão, levantada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 31 de agosto quando uma simpatizante o interpelou com críticas ao imunizante e ele respondeu que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”, mensagem reforçada depois por seu governo.
Lei sancionada em fevereiro, contudo, prevê a possibilidade de vacinação compulsória.
Em pesquisa nacional Datafolha feita por telefone nos dias 11 e 12 de agosto com 2.065 brasileiros em todas as regiões e margem de erro de dois pontos percentuais, 89% afirmaram que pretendiam se vacinar contra a Covid-19 quando houvesse imunizante disponível, e apenas 9% recusavam uma eventual vacina. Embora sirvam de referência, os dados não podem ser comparados diretamente por terem amostragens distintas.
Ainda sem haver remédio que possa curar a Covid-19, a vacina é vista como única solução para estancar uma pandemia que já matou 1,07 milhão de pessoas no mundo, segundo dados compilados pela Universidade Johns Hopkins (EUA), e mais de 150 mil no Brasil, além de ter infectado ao menos 36,8 milhões de pessoas no planeta desde que foi identificada, em dezembro –o número é considerado subestimado, dada a insuficiência de testes.
No entanto, nenhum imunizante contra a Covid está disponível para a população. Até o início deste mês, dez candidatas a vacina no mundo estavam na terceira e última fase de testes clínicos, com dezenas de outras nas fases 1 e 2.
As previsões mais otimistas são de que as campanhas possam começar, com grupos de risco, em dezembro. Mas a vacinação de populações inteiras pode levar mais alguns meses.
No Brasil, as vacinas mais próximas do uso em massa são a CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac e testada em consórcio com o Instituto Butantan, em São Paulo, e a vacina de Oxford, criada pela farmacêutica AstraZeneca com a universidade britânica a qual lhe empresta o nome e que no Brasil tem como parceira a Fiocruz.
Apesar do apoio maciço manifestados pelos eleitores das quatro capitais brasileiras à vacinação, há nuances.
No Rio e em São Paulo, por exemplo, a intenção de se vacinar é mais alta entre os homens (82% e 81%, respectivamente, ante 77% e 71% entre as mulheres), enquanto em Belo Horizonte são elas que mostram mais interesse (83%, ante 80%). Todos esses resultados, porém, ficam dentro da margem de erro, alargada quando se observa um estrato específico.
Aqueles com renda familiar acima de 10 salários mínimos mostram menos predisposição para a vacina do que os que têm renda de até 2 salários em Belo Horizonte, Recife e São Paulo, onde as diferenças entre os dois grupos são, respectivamente, de 8, 11 e 11 pontos (todas na margem de erro). No Rio, entretanto, os mais ricos são os que mais aguardam a vacina: 90%, ante 77% dos mais pobres.
Já a escolaridade parece ter peso apenas em São Paulo e Rio, em sentidos inversos: a adesão à vacina é maior entre os que têm curso superior por margem de 8 pontos sobre os que têm só o ensino fundamental no Rio, e menor por margem de 6 pontos em São Paulo (desta vez, fora da margem de erro no primeiro caso e no limite no segundo).
Ironicamente, os mais novos, que têm de 16 a 24 anos, se mostram mais dispostos a se vacinar do que aqueles com mais de 60 anos –justamente a faixa mais afetada pela Covid-19– por diferenças que vão de 6 pontos (no Rio e em BH, dentro da margem de erro) a 15 (em Recife; em São Paulo o salto é de 10 pontos, ambos fora da margem).