Maioria vê pandemia sob controle e defende máscara obrigatória, diz Datafolha
Para 91% da população, uso do acessório deve ser mantido por mais tempo
Em meio ao avanço da vacinação em todo o Brasil, cresce a percepção no país de que a pandemia está controlada. Ainda assim, a maioria da população defende que o uso de máscara permaneça obrigatório, mostra pesquisa Datafolha.
Para 80% das pessoas ouvidas, a pandemia está controlada em parte (71%) ou totalmente (9%). Outros 20% avaliam que ela está fora do controle, e 1% não sabe.
O levantamento foi feito com 3.667 entrevistas presenciais realizadas em 190 municípios de todo o país, com pessoas de 16 anos ou mais entre os dias 13 e 15 de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
A maior variação em relação ao levantamento anterior, feito em julho, foi na proporção dos que consideram a pandemia fora de controle, que diminuiu praticamente pela metade —antes eram 41%. Outros 53% avaliavam há dois meses que ela estava parcialmente controlada, 5%, totalmente controlada, e 1% não sabia.
Naquele momento, a média móvel de óbitos pela Covid-19 era mais que o dobro da atual —1.273 contra 524.
Agora, com mais da metade da população adulta do país com o esquema completo de imunização, alguns estados começam a dar uma dose de reforço em idosos para aumentar a proteção.
Segundo o Datafolha, a percepção de que a pandemia está totalmente controlada alcança maiores índices entre as pessoas com 60 anos ou mais (14%), entre aquelas com renda mensal de mais de dez salários mínimos (18%) e entre os que aprovam o governo Bolsonaro (20%).
O presidente, que minimizou seguidas vezes a gravidade da pandemia que já matou mais de 590 mil brasileiros, tem reiteradamente desrespeitado medidas sanitárias de prevenção ao coronavírus, ao não se vacinar, promover aglomerações e não usar máscara em locais públicos.
Ele tem insistido em tornar o uso do acessório facultativo, mas, ao menos por ora, a medida não tem apoio na população.
91% acham que máscara deve continuar a ser obrigatória
Segundo o Datafolha, 91% avaliam que a máscara deve ser obrigatória enquanto a pandemia não estiver totalmente controlada.
Após uma indicação inicial apenas para profissionais de saúde, a utilização do acessório por toda a população passou a ser recomendada pelo Ministério da Saúde em abril do ano passado. Em junho de 2020, a posição foi adotada também pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que a mantém ainda hoje.
Alguns países, como os Estados Unidos, chegaram a retirar a obrigatoriedade do uso de máscaras em determinados locais com o avanço da vacinação, mas tiveram de voltar atrás diante da disseminação da variante delta, mais transmissível.
Em julho, por exemplo, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) voltou a recomendar o uso em ambientes com maior risco de infecção.
No Brasil, o ministro Marcelo Queiroga, que ao assumir falou em transformar o país em uma “pátria de máscaras”, em agosto disse ser contra a obrigatoriedade do acessório que, um ano e meio após a pandemia, ainda não é usado de forma correta por boa parte da população.
A declaração foi mais um sinal de aproximação do ministro com a base ideológica do presidente. Na mesma linha também estão medidas como a suspensão da vacinação de adolescentes, a despeito de critérios técnicos, e o gesto de mostrar o dedo do meio a manifestantes contrários a Bolsonaro em Nova York.
O Datafolha mostra que o discurso antimáscara ressoa mais entre os apoiadores do presidente. A contrariedade à obrigatoriedade do acessório chega a 19% dos entrevistados que avaliam o governo Bolsonaro como bom ou ótimo, contra 4% dos que o consideram ruim ou péssimo.
A diferença se repete também quando se analisa a sensação de segurança com as vacinas contra a Covid-19.
Entre os que aprovam a gestão Bolsonaro, 15% dizem que não se sentem nada protegidos com os imunizantes, ante 8% dos que o reprovam.
No total de entrevistados, 42% dizem se sentir muito protegidos, 48%, um pouco, e 10%, nada.
O índice dos que não se sentem nada protegidos também é maior entre evangélicos —14%, ante 7% dos católicos.
Atualmente, o Brasil aplica quatro imunizantes contra a Covid-19. Três deles são aplicados em duas doses: o da AstraZeneca, produzido pela farmacêutica e pela Fiocruz, a Coronavac, parceria entre o Instituto Butantan e a chinesa Sinovac, e o da Pfizer. Além deles, há a Janssen, de dose única.
Bolsonaro até o momento optou por não ser imunizado com nenhuma delas. Por isso, por exemplo, não pôde entrar em nenhum restaurante em sua ida a Nova York para a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) esta semana.
Desde o início do ano, ele também atacou em diversos momentos a Coronavac, por vezes com afirmações sem base na realidade. Segundo depoimento de Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, à CPI da Covid no Senado, a atuação do governo levou a atrasos na entrega do imunizante.
De acordo com cálculo do epidemiologista Pedro Hallal, colunista da Folha, mais de 80 mil mortes poderiam ter sido evitadas se isso não tivesse acontecido.
Especialistas têm repetido que, mesmo com a vacinação e a redução no número de casos de Covid-19, medidas de distanciamento devem ser mantidas, uma vez que vacinas têm bons índices de proteção contra mortes e internações, mas não previnem 100% o contágio.
A preocupação é reforçada diante da presença da variante delta. Após um ano e meio de pandemia, a cepa é predominante nas análises genômicas realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Apesar do alerta, a circulação da variante não foi suficiente para tirar a sensação de segurança especialmente dos mais ricos.
Segundo o Datafolha, aqueles com renda familiar mensal de mais de dez salários mínimos são os que mais consideram a pandemia totalmente controlada (18%), os que mais se sentem totalmente protegidos com a vacina (57%) e, contrariando as recomendações sanitárias, os que mais são contra a obrigatoriedade do uso de máscaras —19%, mesmo índice registrado entre os apoiadores do presidente.