Entrevista

Marconi sobre a crise no Planalto: “É preciso mudar. Como está não dá para ficar”

A instabilidade econômica e política por qual passa o país atualmente traz consequências graves para…

A instabilidade econômica e política por qual passa o país atualmente traz consequências graves para a gestão pública e para a população como um todo, com o risco de se agravar a cada dia sem que haja uma resposta efetiva para o problema. Por isso, uma ação rápida e assertiva que promova as reformas necessárias para o progresso do país, com ou sem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, se faz imprescindível. É isso que defende o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), ressaltando que questões político-partidárias devem ser deixadas de lado em momentos como esse. “Seja qual for o governo, é preciso que haja uma sinalização de uma aliança, de um consenso nacional, que implique em um ministério de alto nível sem divisão de cargos por conta de barganhas político eleitorais”, ressalta.

Em entrevista exclusiva ao MAIS GOIÁS, concedida na manhã desta quinta-feira (7/4), ele também falou a respeito dos problemas enfrentados com as propostas de implementação das OSs na educação e de privatização da Celg e sobre o porquê de persistir nas iniciativas, apesar de protestos e pressões de servidores públicos e de movimentos sociais.

A respeito da demora do início das obras do VLT, atrasado devido à incerteza da viabilização dos recursos necessários, o tucano é enfático: “Em hipótese alguma vamos começar uma obra para não ser terminada.”

Com a mesma veemência ele trata de questões como os resultados da reforma que promoveu na Secretaria de Segurança Pública e sobre desafios recentes, como o surto de doenças como a zika e a chikungunya, além da gripe H1N1, que exigem medidas rápidas e a união das diversas esferas do poder público para evitar um cenário de tragédias.

Quando questionado sobre a possibilidade de alçar voos a nível nacional, o governador frisa que este não seria o momento mais oportuno para pensar a respeito: “A minha grande preocupação é vencer a crise econômica em Goiás. Ela não é uma crise de Goiás, é uma crise brasileira, mas nós temos que vencer as adversidades que temos aqui e cumprir com o nosso dever, que é o dever de prestar bons serviços aos cidadãos.”

Leia a entrevista na íntegra:

MAIS GOIÁS: O projeto de implementação das Organizações Sociais (OSs) em escolas em Goiás se mostrou uma dor de cabeça para o governo, primeiro com os protestos e ocupações, depois com as desclassificações das candidatas a administrarem as unidades por não cumprirem os critérios estabelecidos. Esse é um projeto pelo qual vale a pena o governo insistir? O sr. já considerou recuar desse projeto?

MARCONI PERILLO: Em hipótese alguma vamos recuar de uma boa ideia. A verdade é que em qualquer circunstância toda mudança realmente seja de contraditório, discordâncias, até que ela prove ser boa para a sociedade. O que nós estamos propondo é uma melhora qualitativa da educação, levando em consideração os parâmetros das mudanças na área da saúde. Os hospitais estaduais de Goiás hoje são hospitais de excelência porque temos uma gestão eficiente, humanizada e qualificada, prestando serviços a quem precisa do setor público, que é o povo, o cidadão comum. O que nós queremos na educação é que com essa gestão nova, eficiente, os filhos dos trabalhadores possam ter igualdade de oportunidade em relação aos filhos dos mais ricos, estudando em uma escola boa que lhe de boas condições de chegar em uma boa universidade e, depois, ter acesso a um bom e qualificado emprego. Esse é o objetivo.

Agora, contratempos existem, a desinformação também acaba ajudando, colaborando com isso. Por outro lado, alguns segmentos ideológicos não querem a mudança. Protagonizam um debate em que muitas vezes distorcem a realidade, e por fim há um compromisso sério do governo de levar para a educação OSs muito bem qualificadas, que possam objetivamente atender aos nossos pré-requisitos e cumprir a missão de prestar um bom serviço aos alunos, à rede escolar e às famílias. Então Nós não titubeamos em desqualificar as OSs que se apresentaram, pedimos que fossem reformulados os projetos a fim de que quando for realizado novo chamamento a gente tenha a certeza de que a OS ou as OSs escolhidos vão cumprir com todos os parâmetros estabelecidos nesse projeto. O que nós queremos efetivamente é melhorar ainda mais a educação em Goiás. Temos bons professores, temos alunos interessados e um governo que quer fazer a diferença nessa área.

Outra polêmica que o governo sr. enfrenta é quanto à privatização da Celg D, que também passou e ainda passa por muita resistência. As regras para o leilão e a data já foram definidas? Quais são as expectativas do sr. para essa negociação?
Olha, já está tudo definido. É importante ressaltar que a Celg já está sob administração do governo federal, da Eletrobras, há mais de quatro anos. Toda a diretoria, conselho de administração, são mandados pelo governo federal. Essa foi uma exigência do governo federal para fazer a prorrogação da concessão da Celg, que venceria em abril do ano passado, se nós não transferíssemos as ações majoritárias da Celg para a Eletrobras, essa prorrogação não seria viabilizada pelo governo federal. O governo prorrogou por mais 30 anos e com isso a empresa passa a ter mais valor.

É uma empresa boa, só que não tenho dinheiro hoje. A Eletrobras não tem dinheiro, e nem o governo do Estado, para fazer face aos investimentos necessários para atender às demandas reprimidas de consumidores residenciais, comerciais e industriais. Com a privatização nós vamos ter dinheiro. Espera-se que nos dois primeiros anos pelo menos R$ 2 bilhões sejam investidos pelos novos detentores da concessão em obras de subestações e redes que possam melhorar a qualidade do suprimento de energia aqui no Estado.

Tudo que tinha que ser feito na Aneel, no Tribunal de Contas da União (TCU) e todas as outras instâncias já foi feito. Agora estamos esperando a definição da presidente Dilma em relação ao lançamento do edital. A única coisa que falta é isso. A empresa é uma empresa boa, mas que tem déficits mensais. Não podemos mais esperar pela privatização sobr pena da Celg entrar em colapso. Mas isso tudo está nas mãos exclusivamente de uma pessoa: a presidente Dilma.

O presidente do Grupo Executivo do VLT, Carlos Maranhão disse em janeiro deste ano que se até abril não fossem viabilizados os recursos da contrapartida do Estado ao projeto do VLT, na ordem de R$ 1 bilhão, dificilmente as obras teriam início na atual gestão. O VLT vai sair do papel ainda no governo do sr.?
Nós temos uma boa expectativa de começar as obras neste governo. A regra número um é que para começar nós temos que ter a garantia do financiamento da parte do governo do Estado. Em hipótese alguma vamos começar uma obra para não ser terminada. O pior transtorno que pode haver para a população é fazer uma intervenção urbana, especialmente em uma artéria como a Avenida Anhanguera, e depois não terminar. A premissa básica para que eu possa dar ordem de serviço nessa obra é a garantia dos recursos da contrapartida do Estado.

Os projetos estão prontos, as licitações estão prontas. Tudo está pronto. Tendo a fonte de financiamento, nós podemos dar a ordem imediatamente.

Governador

No final de fevereiro o sr. fez uma grande reforma na Secretaria de Segurança Pública, trocando chefias e, inclusive, colocando o vice-governador José Eliton como o novo secretário da pasta. Passadas essas semanas, qual avaliação o sr. faz dos resultados dessas mudanças?
O vice-governador e secretário de Segurança Pública fez um balanço dos primeiros dias dele à frente da secretaria. Apresentamos indicadores de que em todas as áreas nós tivemos uma redução muito significativa de crimes, como homicídios, roubos, latrocínios, tráfico de drogas, de seis meses para cá. Os indicadores apontam que estamos no caminho certo, endurecendo contra o crime e dando proteção ao cidadão de bem. Ao lado disso, tomamos muitas outras iniciativas. Nós criamos o aplicativo I9x que vai possibilitar ao cidadão comum uma integração muito maior com as forças da segurança pública. Também apresentamos ontem uma série de medidas na área da inteligência no combate ao crime, a aquisição de mais câmeras de vigilância na região de Goiânia e, ao mesmo, tempo, demos a autorização na contratação de mais 230 peritos, médicos-legistas, na área da polícia Técnico-Científica, e também já estamos com o projeto de realização de um novo concurso em andamento.

Até o final do ano teremos cerca de 3,3 mil novos policiais nas ruas, entre delegados, agentes do Procon, policiais militares, policiais civis e bombeiros. Há todo um trabalho para a realização de um concurso e tão logo ele seja concluído nós faremos a formação e a colocar esses homens e mulheres nas ruas para proteger os cidadãos goianos.

Ainda falando sobre essa reforma, o sr. foi muito criticado por ter colocado o tenente-coronel Ricardo Rocha como chefe do policiamento da capital. O sr. certamente sabia que essa polêmica surgiria. Por que, ainda assim, insistiu em sua nomeação?
Nesse caso específico eu percebo que há um contigente minoritário de pessoas que são contra a indicação dele e um contingente majoritário de pessoas que querem ser protegidas pela polícia e consideram o tenente-coronel Ricardo Rocha um oficial muito operacional, eficiente, que realmente sabe comandar a sua tropa e proteger os cidadãos da barbárie, da violência, do crime praticados pelos bandidos.

Então a escolha foi feita com base no critério operacional. Ele sabe que tem que atuar nos limites da lei e da constituição – não só ele, mas todos os policiais e oficiais, que são treinados e profissionalizados de acordo com os limites estabelecidos pelas regras legais.

Goiás e o Brasil como um todo ainda estava lidando com o surto de zika e chikungunya quando voltou à tona o problema da H1N1. O Estado está preparado para lidar com essas dificuldades e garantir as medidas de prevenção e tratamento para a população?
Desde o início, quando a Secretaria de Saúde detectou o surto de H1N1, foram tomadas as medidas para combater mais esse problema. Eu tenho certeza que teremos políticas eficientes em parceria com o governo federal e com os governos municipais. No que diz respeito ao Aedes aegypti, nós tivemos progressos muito significativos desde que em janeiro começamos uma força-tarefa envolvendo cerca de 20 mil colaboradores, entre bombeiros, policiais, funcionários de prefeituras municipais, agentes de saúde, governo federal e voluntários.

Em janeiro nós tínhamos 4% dos domicílios goianos com algum tipo de infestação do Aedes. Em fevereiro esse porcentual caiu para 2,2% e agora em março caiu para pouco mais de 1%. A tendência é que em abril tenhamos focos em menos de 1% dos domicílios. Nosso objetivo é erradicar o mosquito nos municípios goianos. Para isso temos tido uma parceria muito grande nas visitas e remoção dos focos in loco, temos também procurado apresentar à sociedade uma campanha de esclarecimento, mostrando que a população precisa interagir e fazer sua parte também. Enfim, graças a uma ação coordenada, unida e efetiva, estamos, no caso do Aedes, progredindo bastante.

O Brasil está passando por um período de grave instabilidade política e econômica, em parte pela possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff. De que forma essa crise tem afetado Goiás e quais são as perspectivas para os próximos meses?
Infelizmente o Brasil vive sua pior crise. Ela é mais forte que a depressão de 1929. Como nós estamos vivendo o segundo ano consecutivo de recessão, isso já significa depressão econômica. O resultado disso é que temos hoje no Brasil a demissão de cerca de 11 mil trabalhadores por dia útil e isso é muito grave. Esse trabalhador deixa de ser um agente produtivo e passa a ser apenas um consumidor sem dinheiro. Por outro lado, as famílias, por conta da crise, estão gastando menos, tendo menos poupança. Com a caristia, a inflação e o desemprego, as pessoas compram menos, e com isso, consequentemente, vamos ter menos impostos. O resultado disso é dramático para as famílias e é dramático para o governo.

Somente nos dois primeiros meses tivemos uma queda de quase R$ 200 milhões em relação ao que estava planejado para arrecadação do governo. Quando cai a arrecadação do governo caem também as receitas das prefeituras. Em nível nacional, as quedas de receitas também são muito grandes. A diferença é que no governo federal há a possibilidade de emissão de moeda, de aumento da dívida interna. O Brasil já chega a R$ 3 trilhões de dívida interna. O governo federal não tem limite de responsabilidade fiscal, não tem uma série de restrições que nós, governos estaduais, temos. Inclusive somos obrigados a pagar rigorosamente em dia a dívida externa. São mais de R$ 300 milhões por mês que o governo de Goiás paga de dívida externa. Só que o governo federal não tem um programa de pagamento da sua dívida interna. O que a gente tem de informação é que, se até 2018 as coisas não mudarem, o Brasil pode chegar a um comprometimento de 75% de seu PIB para pagamento da dívida interna. É uma situação muito grave. À medida que a atividade econômica para, que a crise se aprofunda, é natural que as receitas caem, mas as despesas não caem porque já cortamos tudo que tinha para cortar.

Goiás é o Estado que tem o menor número de secretarias do Brasil: são dez. Reduzimos enormemente nossa estrutura. Agora não temos como cortar as áreas de saúde, educação e segurança porque são serviços essenciais à população. O que o Estado deixa de fazer é investimento. Ou você faz obras ou cuida daquilo que é essencial para os trabalhadores, para o povo.

O sr. sempre teve uma relação bastante próxima com o governo federal. Acredita que o impeachment seja uma saída para trazer paz ao país?
É preciso refletir sobre qual situação será pior: a continuidade do governo do PT, com toda essa crise, desconfiaça, as manifestações de rua – que são legítimas –, ou o outro governo, do vice-presidente Michel Temer. Como é que o PT, os movimentos sociais vão se comportar em relação a um eventual governo Temer. Então a situação do Brasil é de uma grande encruzilhada, uma situação muito difícil. Há um clamor pelo impeachment, a gente percebe isso claramente. Por outro lado a gente percebe também uma resistência dos movimentos ligados ao PT. Espero que o Congresso Nacional saiba decidir rapidamente essa situação, porque o Brasil não aguenta mais a guerra entre o governo federal e o Congresso, especialmente a Câmara dos Deputados, com as coisas paradas, uma necessidade enorme de reformas para ajustar o Brasil, de enfrentar e vencer a crise econômica. O fato é que no Brasil temos hoje uma grande crise econômica, a maior da história do País, que é motivada diretamente pela crise política, crise moral, crise de corrupção. É preciso mudar. Como está não dá para ficar.

Seja qual for o governo, é preciso que haja uma sinalização de uma aliança, de um consenso nacional, que implique em um ministério de alto nível sem divisão de cargos por conta de barganhas político eleitorais. Um ministério de alto padrão, alto nível, enxuto, para que o Brasil possa sair desse atoleiro.

O sr. apoiaria a realização de novas eleições?
Olha, não sou eu quem deve definir as regras. Isso aí quem tem que decidir é o Congresso Nacional, o Tribunal Superior Eleitoral. Seja quais forem as regras, se elas forem boas para colocar um fim na paralisia, para colocar um fim nas gravíssimas crises atravessadas pelo brasil hoje, que tem como consequência a piora na vida do povo, eu apoiarei com certeza.

Há pouco menos de uma semana o sr. e o deputado Sandes Júnior foram condenados por improbidade administrativa devido a possíveis irregularidades cometidas na campanha dele para a Prefeitura de Goiânia. Como resultado do processo, que corre desde 2009, o sr. poderia ser destituído do cargo. Esse processo preocupa o sr.?
Isso é uma coisa até ridícula. Esse fato aconteceu em 2004. Eu sou acusado de ter feito um material publicitário que teria sido plagiado pelo programa eleitoral do Sande Júnior e isso o teria beneficiado. Ora, eu não era responsável na época pelo programa do candidato. Eu era responsável pelos programas do governo do Estado. Se ele fez alguma coisa parecida em relação a uma mídia do governo que estava no ar, eles devem responder, mas eu não imagino que isso tenha sido feito. Tenho certeza que não fizeram com esse objetivo.

Agora, mesmo que tivessem feito, isso não colou, até porque Sandes Júnior sequer chegou ao segundo turno. Se ele tivesse sido beneficiado por essa mídia ele teria sido eleito. Isso é algo que não me preocupa. Nós vamos fazer a boa defesa quando o governo for citado e não tenho nenhuma preocupação com relação a isso. Acho que houve exagero quanto à medida adotada, com todo respeito ao poder Judiciário.

Alguns analistas consideram que o nome de Aécio Neves já está desgastado devido às constantes citações de delatores na Operaçã Lava-Jato e consideram o sr. como um dos nomes mais prováveis do PSDB para a próxima campanha presidencial. O sr. já parou para pensar a respeito do assunto?
Qualquer iniciativa nesse sentido hoje, na minha opinião, significa um desserviço para Goiás e para o Brasil. Estamos vivendo um momento de gravíssima crise financeira e política. Acho que todos nós devemos nos debruçar agora para ajudar o país a sair da crise, não ficar pensando em projetos pessoais, políticos, eleitorais. Se nós conseguirmos sair da crise, vencer a inércia econômica, trazer de volta os empregos, já teremos feito um grande serviço ao Brasil. A minha grande preocupação é vencer a crise econômica em Goiás. Ela não é uma crise de Goiás, é uma crise brasileira, mas nós temos que vencer as adversidades que temos aqui e cumprir com o nosso dever, que é o dever de prestar bons serviços aos cidadãos.

Hoje as pessoas reclamam das estradas. Nós estamos com frentes em praticamente todas as estradas. Ainda faltam algumas. Mas se não fizemos mais antes é porque com a crise o dinheiro encurtou. Não dá para fazer milagres. Estamos trabalhando para valer, para resolver essas coisas. Se eu não ficar focado 24 horas por dia na busca de soluções para a falta de dinheiro, nós vamos continuar com problemas, e o que eu mais quero é resolver os problemas.