Marconi usa habilidade para manter segmento da cultura
Na última semana, uma das secretarias do governador Marconi Perillo (PSDB) deixou armada uma bomba…
Na última semana, uma das secretarias do governador Marconi Perillo (PSDB) deixou armada uma bomba para ele resolver: o congelamento do repasse dos recursos para o Fundo da Cultura.
A notícia começava a correr como pólvora nas redes sociais e na troca de telefonemas de um grupo pequeno (porém unido). E antes que fosse usada pelos adversários na disputa de outubro, o governador Marconi Perillo desarmou a pendenga: o gestor orientou que os responsáveis pelas secretarias de Fazenda e Cultura se reunissem com os representantes do segmento no Palácio Pedro Ludovico Teixeira.
No encontro, ficou definido o parcelamento em três vezes dos R$ 13,5 milhões do Fundo Estadual de Arte e Cultura. A chancela da reunião ficou a cargo do secretário de Estado da Fazenda, José Taveira, e do secretário de Estado da Cultura, Aguinaldo Coelho.
A Secretaria da Fazenda tem alegado que existem vários outros compromissos do Estado e que não seria possível pagar integralmente.
Bastou a indisposição para o segmento de cultura escalar um de seus defensores, o barulhento Carlos Cipriano, para representar a classe e encenar o que melhor sabe fazer: uma dança da revolta e ocupação dos espaços midiáticos.
Os adversários de Marconi ao peito de outubro, em sua maioria desinteressados pelos temas culturais, nem notaram a bomba prestes a explodir.
Atento, Marconi chamou os auxiliares para uma conversa de pé de ouvido. O governador tem usado a habilidade política para atrair um segmento que quase nunca teve espaço nas gestões públicas de Goiás.
Não se sabe o peso político do segmento, geralmente considerado ínfimo, mas é inegável que os resultados são computáveis à longo prazo.
A Constituição Federal sugere a cultura como um direito social, mas não é incisiva nem taxativa de como o poder público pode investir no assunto. Tanto é verdade que nenhuma administração de José Sarney para cá investiu no segmento, considerado um penduricalho.
FHC, Lula e Dilma ignoraram a cultura.
Em Goiás, somente no segundo mandato, durante 1951 a 1954, Pedro Ludovico realizou aportes legislativos para a cultura. Durante o período, a Assembleia Legislativa de Goiás aprovou 12 projetos voltados para o setor.
Depois dele, um hiato de trinta anos: apenas Henrique Santillo investiu na classe artística, criando infraestrutura e escolas, caso do tradicional Centro Cultural Gustav Ritter e de projetos de artes públicas, como os painéis da rodovia dos Romeiros.
FICA
Já no primeiro mandato, no início da década passada, Marconi Perillo instituiu uma série de ações na cultura, caso da criação do Festival Internacional de Cinema Internacional (Fica), Canto da Primavera e apoio a instituições que realizam a educação artística.
No segundo mandato, o atual gestor manteve o padrão e construiu o Centro Cultural Oscar Niemeyer, hoje um dos espaços mais movimentados da Capital.
No atual mandato, sustentou duas orquestras e manteve o Centro Basileu França com artistas qualificados a ponto de montarem uma adaptação de “Carmem”, ópera popular de Bizet, e uma canta completa de Carl Orff – eventos inéditos na história da alta cultura goiana.
Ao mesmo tempo, fomenta uma classe artística regular, que se apresenta com projetos para captação de recursos públicos.
Em que pese o interesse político, o segmento de cultura dá sorte com o governador. E o motivo é simples: Marconi gosta do assunto.
A prova disso foi o esforço hercúleo que fez para trazer o pop star Paul McCartney em Goiás, no ano passado.
Quando parte da mídia e redes sociais começou uma campanha contra o evento, o que mais gerou mídia espontânea no Brasil e mundo para Goiás, ele optou em realizar algumas ligações e articular com o segmento empresarial para que fosse mantido o show no Estado.
Fã de Beatles, Milton Nascimento e de orquestras, Perillo confessa aos interlocutores da cultura que gostaria de liberar mais recursos para o setor, mas que quem dá o sinal verde ou vermelho é sempre a Secretaria da Fazenda, que arrecada e sabe quanto a administração tem no caixa.