Meio ambiente

Mata atlântica tem áreas mais protegidas que cerrado em São Paulo

A mata atlântica, em São Paulo e no restante do país, recebe mais proteção do…

A mata atlântica, em São Paulo e no restante do país, recebe mais proteção do que o cerrado -a primeira tem até uma lei própria com esse propósito. Mas até mesmo as áreas que protegem as unidades de conservação, chamadas de zonas de amortecimento, apresentam diferenças no nível de proteção e são mais preservadas no caso do primeiro bioma.

É essa a conclusão do estudo ganhador do 4º Prêmio MapBiomas, feito em parceria com o Instituto Ciência Hoje, na categoria jovem (para pessoas com até 30 anos que não completaram a graduação ou se formaram em 2021). A premiação reconhece trabalhos que usam os dados produzidos pela iniciativa MapBiomas.

Zonas de amortecimento são regiões nos entornos de uma área natural protegida com regras e restrições para uso humano, visando limitar possíveis impactos na unidade de conservação. A ideia é tentar evitar o chamado “efeito de borda”.

Por exemplo, uma área protegida muito próximo a uma estrada pode sofrer com animais sendo atropelados ou com incêndios de origem humana.

Em seu trabalho de conclusão de curso, Alexandre do Carmo, bacharel em ciências biológicas pela Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), analisou as condições dessas zonas de amortecimento no estado de São Paulo.

Encontrou, em primeiro lugar, uma redução de 38 mil hectares de mata nativa nesses arredores protetores, do ano de 1988 até 2018. O curioso é que tem havido um crescimento da vegetação nativa no estado como um todo, segundo dados do Inventário Florestal paulista.

No mesmo período apresentado no estudo, houve uma diminuição da área de pasto e um aumento da área agrícola. E foram exatamente essas atividades que mais impactaram a vegetação nativa das zonas de amortecimento, segundo o estudo premiado pelo MapBiomas.

“O que nos motivou foi a falta de pesquisa sobre o assunto [zonas de amortecimento]. Quando procurei o professor Paulo [Guilherme Molin], fizemos uma pesquisa bibliográfica e percebemos que não tinham estudos sobre essas áreas. O que achamos eram estudos sobre uma ou outra unidade de conservação”, afirma do Carmo.

A pesquisa, então, observou e classificou o percentual de vegetação nas zonas de amortecimento, sendo que as que tivessem mais de 40% de cobertura florestal eram consideradas como de “alta conservação”. Em todo o período analisado, todas as áreas altamente conservadas pertenciam ao bioma mata atlântica. Além disso, graças ao relevo acidentado da Serra do Mar (ruim para prática agropecuária), essas regiões mais preservadas estão concentradas no leste do estado.

Isso mostraria, segundo o trabalho, um déficit de conservação no cerrado paulista.

“Essas áreas [zonas de amortecimento] são importantíssimas para a conservação da unidade. Se a gente não consegue mitigar os impactos de fora, isso pode prejudicar os objetos da unidade. Saber o que aconteceu com essas zonas é de mega importância”, afirma o premiado pelo MapBiomas.

No ano passado, o Parque Juquery, último fragmento de cerrado da região metropolitana de São Paulo foi devastado por um grande incêndio. O fogo foi iniciado, segundo investigações, por um balão -um dos muitos riscos sofridos por terras protegidas próximas a áreas urbanas.

Pensando agora em mata atlântica, mas em todo o país, a destruição no bioma teve um salto de 66% em 2020-2021, em comparação ao período anterior (2020-2019). É o maior aumento percentual registrado desde o início do monitoramento feito pela ONG SOS Mata Atlântica e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em 1985 (até 2010 os dados eram divulgados e englobavam um período de cinco anos). No mesmo período, o estado de São Paulo apresentou crescimento de 43% na derrubada de mata.

Procurada, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo afirmou que nas zonas de amortecimento é priorizada a preservação de fragmentos florestais. Isso é feito, por exemplo, por meio de pagamento por serviços florestais.

A secretaria ainda afirma que possui uma lei própria para o cerrado, a lei 13.550/2009.​

“Já com relação ao relatório da SOS Mata Atlântica, dos 320 hectares verificados, mais de 70% das áreas foram licenciadas ou fiscalizadas. Em ambos os casos há compensação ambiental prevista em lei”, diz a nota da secretaria.